O franco-argelino Albert Camus inicia o seu "O mito de Sísifo" com uma das frases mais impactantes de toda a sua obra: "O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia" [como aliás, eu já notei aqui ao comentar algo parecido com o que eu vou falar hoje].
Resumidamente, o filósofo-romancista está perguntando que, se o mundo não é feito de grandes absolutos [deuses, instituições, ícones, ideologias, etc.] dados a priori, não existiria uma "razão" intrínseca para se viver. Portanto, ele pergunta por que, então, não cometeríamos, todos, suicídio? Por que viver uma vida sem uma razão essencial? Ele conclui que a resposta é que deveríamos ser afirmativos, seguir adiante. Se eu me lembro bem, sugere termos uma atitude do homem trágico. Se eu me lembro bem [2], sem referência diretíssima à tragédia grega, mas tendo esse mesmo comportamento do personagem que sabe que seu mundo é inviável, mas que continua assim mesmo - como Sísifo - empurrando a pedra morro acima. No fim, ele conclui: "É preciso imaginar Sísifo feliz".
Vou pedir licença a Camus, um dos grandes, para tentar, não corrigi-lo, mas fazer uma pequena intervenção em sua frase, logo a inicial, a inicial!, e tentar adaptá-la ao que eu imagino. Ficaria assim: "A vida é a grande questão filosófica, entender por que vivemos é responder à pergunta fundamental da filosofia". Por que a mudança? Porque em minha versão, você não "precisa" imaginar Sísifo feliz. Ele pode ser ou não. Mas, de qualquer forma, ele continua empurrando a pedra morro acima.
Por que ele não simplesmente para? Por que ele não desobedece aos deuses? Não desperta, não toma as rédeas da própria vida? Porque, acredito, estamos condenados a viver. O que Camus faz é uma sugestão, já que estamos presos à vida, devemos, então vivê-la da melhor maneira possível. O que não cabe qualquer dúvida. Mas a minha pergunta é anterior: por que estamos condenados à vida?
Em seu último filme, o franco-austríaco Michael Haneke mostra exatamente o fim da vida, aquele momento em que não nos parecemos mais com o que costumamos chamar de ser humano, que a vontade está se desprendendo do corpo, mas que continuamos, de acordo com as definições técnicas, vivos. Por que nos agarramos à vida? Por que não podemos simplesmente fechar os olhos e nunca mais levantar? Por que não temos esse poder?
É curioso como nos agarramos aos fiapos do viver. Podemos dizer que estamos sob influência de gerações e gerações de catequese, que colocava o suicídio como o maior dos pecados. Mas e as sociedades que não tem influência cristã, como as africanas? O que faz com que as crianças famélicas simplesmente não desistam? O que mantém o brilho, mesmo que cansado, nos olhos delas?
No fundo, o que eu quero saber é: por que há uma "vontade" [nos similares sentidos de Schopenhauer e Nietzsche]? Por que ela existe? O que a torna parte integrante de todos os corpos? Essa é, e continua sendo, e será, para sempre, a única pergunta que existe. [Mas que não de uma pequena curiosidade, reparem.]
Resumidamente, o filósofo-romancista está perguntando que, se o mundo não é feito de grandes absolutos [deuses, instituições, ícones, ideologias, etc.] dados a priori, não existiria uma "razão" intrínseca para se viver. Portanto, ele pergunta por que, então, não cometeríamos, todos, suicídio? Por que viver uma vida sem uma razão essencial? Ele conclui que a resposta é que deveríamos ser afirmativos, seguir adiante. Se eu me lembro bem, sugere termos uma atitude do homem trágico. Se eu me lembro bem [2], sem referência diretíssima à tragédia grega, mas tendo esse mesmo comportamento do personagem que sabe que seu mundo é inviável, mas que continua assim mesmo - como Sísifo - empurrando a pedra morro acima. No fim, ele conclui: "É preciso imaginar Sísifo feliz".
Vou pedir licença a Camus, um dos grandes, para tentar, não corrigi-lo, mas fazer uma pequena intervenção em sua frase, logo a inicial, a inicial!, e tentar adaptá-la ao que eu imagino. Ficaria assim: "A vida é a grande questão filosófica, entender por que vivemos é responder à pergunta fundamental da filosofia". Por que a mudança? Porque em minha versão, você não "precisa" imaginar Sísifo feliz. Ele pode ser ou não. Mas, de qualquer forma, ele continua empurrando a pedra morro acima.
Por que ele não simplesmente para? Por que ele não desobedece aos deuses? Não desperta, não toma as rédeas da própria vida? Porque, acredito, estamos condenados a viver. O que Camus faz é uma sugestão, já que estamos presos à vida, devemos, então vivê-la da melhor maneira possível. O que não cabe qualquer dúvida. Mas a minha pergunta é anterior: por que estamos condenados à vida?
Em seu último filme, o franco-austríaco Michael Haneke mostra exatamente o fim da vida, aquele momento em que não nos parecemos mais com o que costumamos chamar de ser humano, que a vontade está se desprendendo do corpo, mas que continuamos, de acordo com as definições técnicas, vivos. Por que nos agarramos à vida? Por que não podemos simplesmente fechar os olhos e nunca mais levantar? Por que não temos esse poder?
É curioso como nos agarramos aos fiapos do viver. Podemos dizer que estamos sob influência de gerações e gerações de catequese, que colocava o suicídio como o maior dos pecados. Mas e as sociedades que não tem influência cristã, como as africanas? O que faz com que as crianças famélicas simplesmente não desistam? O que mantém o brilho, mesmo que cansado, nos olhos delas?
No fundo, o que eu quero saber é: por que há uma "vontade" [nos similares sentidos de Schopenhauer e Nietzsche]? Por que ela existe? O que a torna parte integrante de todos os corpos? Essa é, e continua sendo, e será, para sempre, a única pergunta que existe. [Mas que não de uma pequena curiosidade, reparem.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário