Ainda fico surpreso com a vontade de se criar uma divisão entre dois grupos, em qualquer ato, ação, situação política [para ficar num exemplo menor] que participamos. Acho uma simplificação das questões muito grande. Há algumas semanas, o vilão das manifestações pacíficas foi escolhido: os black blocs. São eles que quebram vidraças, destroem lixeiras, cometem "atos de vandalismo".
Gostaria de saber o que caracterizaria um black bloc: há uma carteirinha para dizer quem é ou não? Porque o fato de usar uma máscara preta não deveria ser o suficiente para enquadrá-los, já que todo mundo pode usar uma camisa preta na cara. Além disso, também devemos entender que a proposta dos black blocs é exatamente ser a vanguarda incendiária das manifestações. Não distribuir flores.
Mas, vejamos o que eles, de maneira razoavelmente organizada, têm a dizer em sua página do FB. Das logos do cabeçalho que eu consigo identificar, há várias referências ao anarquismo. Não consigo ser automaticamente contra o tema, como muita gente é, depois de um dossiê inteiro dedicado a ele. Daí, se isso incomoda a algumas pessoas, sugiro ler a revista que, provavelmente, o incômodo vai passar. Fim do jabá.
Outras bandeiras que eles levantam: são contra os policiais [pudera, são os inimigos, numa lógica dicotômica], os neonazistas, e a favor dos bichinhos. Acredito que muita gente que fala contra eles apoiaria essas questões incondicionalmente. Continuemos.
Na primeira página, citam o italiano anarquista Pietro Gori: “Nossa Pátria é o mundo inteiro, nossa Lei é a Liberdade.” Na segunda, Malatesta, outro famoso italiano e anarquista, que é mais claro na explicação: “Anarquista é, por definição, aquele que não quer ser oprimido, nem deseja ser opressor; é aquele que deseja o máximo bem-estar, a máxima liberdade, o máximo desenvolvimento possível para todos os seres humanos.”
Já sabemos que eles são, ou se propõem ser, anarquistas. E que anarquismo, para eles, não é uma bagunça, ou o mundo desorganizado, mas uma sociedade sem barreiras, sem limites pré-estabelecidos e cuja lei se baseia numa independência de ações. Também mostra que eles são contra a opressão em geral, e que pensam em todas as pessoas, de maneira igualitária. Imagino que, com alguns acertos da intensidade, novamente não consigo enxergar muitas pessoas contrárias a isso - talvez, no máximo, achando cinicamente que isso essas utopias são infantis [se esquecendo que as utopias são necessariamente objetivos além de si mesmo, fora do indivíduo]. Seguindo.
Na descrição, eles explicam mais claramente quem são:
E, vejamos a timeline deles: primeiro um convite para um ato contra a prisão dos administradores da página. Mais que normal pedir para as pessoas para tirarem os companheiros de trás das grades. Um P2 [policial infiltrado] pego em flagrante. Matéria da Folha, sobre o tal PM de Brasília que falou que jogava pimenta porque queria. A divulgação de um seminário sobre anarquismo na Uerj. Frases de Sêneca ["Viver significa lutar"], da poetisa e anarquista francesa Louise Michel [“Não se pode matar a Ideia a tiros de canhão, nem tão pouco acorrentá-la”]. E mais e mais comentários contra a polícia [Lembre-se: a polícia é o inimigo, para eles].
Num apanhado praticamente aleatório [o que prejudica a lisura da pesquisa], não há nenhuma atitude que se possa identificar como "ilegal" - no máximo, a explicação de que eles realmente quebram coisas. Mas, por não ser alvos aleatórios, ganham caráter político, que eles explicam e mostram as razões. As táticas podem ser combatidas, mas eles se diferenciam dos "baderneiros comuns" [se é que essa figura existe], por terem um foco e um objetivo. A sociedade pode tentar entender e aceitar as diferentes exigências dos seus cidadãos, ou simplesmente tratá-los como culpados, criminosos e encarcerá-los. O que tem acontecido.
Dentro do grupo anarquista, há a necessidade de não se ter uma lei que eles devem se comportar. Como visto lá em cima, a única lei é a liberdade - de ação, de pensamento, de vontades. A partir desse raciocínio, vemos que haverá exageros, por parte de alguns. Mas esses exageros são para combater o que eles consideram exageros antigos - o que, para eles, justificaria suas atitudes. Eles combatem a violência com violência. Isso é válido? É bom? É certo? Deixo as respostas para quem quiser responder. A minha opinião final é: os Black blocks são tão vândalos quanto os guerrilheiros das décadas de 1960-70 eram terroristas.
Gostaria de saber o que caracterizaria um black bloc: há uma carteirinha para dizer quem é ou não? Porque o fato de usar uma máscara preta não deveria ser o suficiente para enquadrá-los, já que todo mundo pode usar uma camisa preta na cara. Além disso, também devemos entender que a proposta dos black blocs é exatamente ser a vanguarda incendiária das manifestações. Não distribuir flores.
Mas, vejamos o que eles, de maneira razoavelmente organizada, têm a dizer em sua página do FB. Das logos do cabeçalho que eu consigo identificar, há várias referências ao anarquismo. Não consigo ser automaticamente contra o tema, como muita gente é, depois de um dossiê inteiro dedicado a ele. Daí, se isso incomoda a algumas pessoas, sugiro ler a revista que, provavelmente, o incômodo vai passar. Fim do jabá.
Outras bandeiras que eles levantam: são contra os policiais [pudera, são os inimigos, numa lógica dicotômica], os neonazistas, e a favor dos bichinhos. Acredito que muita gente que fala contra eles apoiaria essas questões incondicionalmente. Continuemos.
Na primeira página, citam o italiano anarquista Pietro Gori: “Nossa Pátria é o mundo inteiro, nossa Lei é a Liberdade.” Na segunda, Malatesta, outro famoso italiano e anarquista, que é mais claro na explicação: “Anarquista é, por definição, aquele que não quer ser oprimido, nem deseja ser opressor; é aquele que deseja o máximo bem-estar, a máxima liberdade, o máximo desenvolvimento possível para todos os seres humanos.”
Já sabemos que eles são, ou se propõem ser, anarquistas. E que anarquismo, para eles, não é uma bagunça, ou o mundo desorganizado, mas uma sociedade sem barreiras, sem limites pré-estabelecidos e cuja lei se baseia numa independência de ações. Também mostra que eles são contra a opressão em geral, e que pensam em todas as pessoas, de maneira igualitária. Imagino que, com alguns acertos da intensidade, novamente não consigo enxergar muitas pessoas contrárias a isso - talvez, no máximo, achando cinicamente que isso essas utopias são infantis [se esquecendo que as utopias são necessariamente objetivos além de si mesmo, fora do indivíduo]. Seguindo.
Na descrição, eles explicam mais claramente quem são:
Black bloc é o nome dado a uma estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual grupos de afinidade mascarados e vestidos de negro se reúnem com objetivo de protestar em manifestações anti-globalização e/ou anti-capitalistas, conferências de representacionistas entre outras ocasiões, utilizando a propaganda pela ação para questionar o sistema vigente.Mas por que se vestir de preto [nesse calor!]?
As roupas e máscaras negras que dão nome à estratégia são usadas para dificultar ou mesmo impedir qualquer tipo de identificação pelas autoridades, também com a finalidade de parecer uma única massa imensa, promovendo solidariedade entre seus participantes e criando uma clara presença revolucionária.E... é verdade, então, que vocês quebram coisas, tipo, vidro de banco, loja da Toulon, etc. É?
Black blocs se diferenciam de outros grupos anti-capitalistas por rotineiramente se utilizarem da destruição da propriedade para trazer atenção para sua oposição contra corporações multinacionais e aos apoios e às vantagens recebidas dos governos ocidentais por essas companhias.Ah, então, vocês realmente quebram tudo. São, tipo, uma organização internacional que só querem ver o circo pegar fogo, é isso...
Existe um entendimento, principalmente entre os noticiários das mídias comerciais de massa, que o "black bloc" é uma organização internacional de algum tipo. No entanto, não mais que uma tática utilizada por grupos de manifestantes sem muitas conexões. Existem vários grupos black bloc dentro de uma única manifestação, com diferentes formas e táticas.Até mesmo entre os BB [como eles acabaram apelidados], há divergências - como em qualquer grupo. Mas, no caso deles, essas diferenças de comportamento são, em vez de escondidas, incentivadas: a intenção é que cada um tenha a liberdade de ação contra o inimigo comum: o Estado repressor, e o seu braço armado, a polícia.
E, vejamos a timeline deles: primeiro um convite para um ato contra a prisão dos administradores da página. Mais que normal pedir para as pessoas para tirarem os companheiros de trás das grades. Um P2 [policial infiltrado] pego em flagrante. Matéria da Folha, sobre o tal PM de Brasília que falou que jogava pimenta porque queria. A divulgação de um seminário sobre anarquismo na Uerj. Frases de Sêneca ["Viver significa lutar"], da poetisa e anarquista francesa Louise Michel [“Não se pode matar a Ideia a tiros de canhão, nem tão pouco acorrentá-la”]. E mais e mais comentários contra a polícia [Lembre-se: a polícia é o inimigo, para eles].
Num apanhado praticamente aleatório [o que prejudica a lisura da pesquisa], não há nenhuma atitude que se possa identificar como "ilegal" - no máximo, a explicação de que eles realmente quebram coisas. Mas, por não ser alvos aleatórios, ganham caráter político, que eles explicam e mostram as razões. As táticas podem ser combatidas, mas eles se diferenciam dos "baderneiros comuns" [se é que essa figura existe], por terem um foco e um objetivo. A sociedade pode tentar entender e aceitar as diferentes exigências dos seus cidadãos, ou simplesmente tratá-los como culpados, criminosos e encarcerá-los. O que tem acontecido.
Dentro do grupo anarquista, há a necessidade de não se ter uma lei que eles devem se comportar. Como visto lá em cima, a única lei é a liberdade - de ação, de pensamento, de vontades. A partir desse raciocínio, vemos que haverá exageros, por parte de alguns. Mas esses exageros são para combater o que eles consideram exageros antigos - o que, para eles, justificaria suas atitudes. Eles combatem a violência com violência. Isso é válido? É bom? É certo? Deixo as respostas para quem quiser responder. A minha opinião final é: os Black blocks são tão vândalos quanto os guerrilheiros das décadas de 1960-70 eram terroristas.
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