sexta-feira, 21 de março de 2014

As causas das violências

Este tipo de manipulação [política] que implicou na reabertura do campo de possibilidade para o passado, impede que a História desempenhe a sua função, pois o repertório de opções é o campo do futuro e o papel da História é registrar os feitos e acontecimentos decorrentes da política a partir dos quais se entreabre a estabilidade do possível agir futuro. Esta situação gera ao ceticismo, pois a persuasão e a violência podem destruir a verdade factual, mas não a substituem, pode que os seus fluxos carreiam uma instabilidade permanente. Daí a importância de alguns mecanismos de defesa da verdade factual, criados pelas sociedades modernas, fora dos seu sistema político, mas indispensáveis para a sua sobrevivência, como a universidade autônoma e o judiciário independente. Daí também o fenômeno da violência contemporânea, sobretudo no momento atual norte-americano [1972] ou na Europa de 1968, em cuja raiz se encontra, como aponta Hannah Arendt em On Violence (1970), uma reação contra a hipocrisia da manipulação de opinião e um apetite pela ação que recoloca o problema da liberdade.
Celso Lafer, no prefácio de Entre o passado e o futuro, de Hannah Arendt. Foi escrito em 1972, como se vê acima, mas poderia ter sido ontem.

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