terça-feira, 14 de agosto de 2012

Banksy e a arte que veio das ruas

"Tourists don't come to London for shining perfection. They come for old and new in chaotic ungainly juxtaposition. And they come, partly, for Banksy. The prince of street art is our most famous contemporary artist, however much the moneyed art world would like to believe otherwise. Banksy postcards and canvas Banksy reproductions sell alongside royal memorabilia in London – west country man as he may be. So how is the Olympics benefiting London by enforcing a clean-up of its most globally recognised art movement?" - Daqui.
Antes das Olimpíadas, a polícia fez uma operação para “limpar” as ruas dos grafiteiros. Prendeu dezenas de artistas e os impediu de carregar latinhas de tinta ou mesmo andar em transporte público. Banksy passou incólume.

"Going for mould"
 Em “Banksy, the man behind the wall”, uma das biografias lançadas em 2012, o jornalista Will Ellsworth-Jones lembra que ele tem um tratamento diferenciado por parte das autoridades. Em Bristol, há uma consulta pública para saber se suas obras ficam nas paredes ou não. Em Londres, há a tentativa de proteger seus estêncis, da fúria do “Robbo team”, um grupo que tenta destruir todos os Banksy daqui. Eles continuam a se vingar de um ataque perpetrado pelo Banksy que fez uma piada por cima de uma obra de 25 anos de Robbo, um dos mais respeitados grafiteiros da capital. São raros os estêncis de Banksy que sobreviveram. E ainda mais raros os que não foram danificados.

É bom levar em conta, porém, que o fato de o grafite ser condenável pela grande maioria das pessoas – e aparentemente não há diferença, aqui, entre grafite e pichação, ou, como os brasileiros gostam de falar “xarpi” – agrada aos artistas do aerosol. Há uma parte intrinsecamente anarquista no ato de borrifar tinta em uma parede qualquer, uma tentativa de ir sempre contra a ordem, mesmo que a conta-gotas. Banksy tentou manter essa postura em seu trabalho, talvez não tão caótica quanto, já que é mais “funcional”, mais organizada. Para os grafiteiros foi exatamente essa “comunicação” que o excluiu.

Em seu livro mais famoso, “Wall and piece”, de 2005, Banksy reproduz um e-mail, quase orgulhoso, mostrando como ele pode ser um dos responsáveis pela valorização da então pobre região de Hackney: “Seus grafites são sem dúvida parte do que faz esses babacas [numa tradução leve] achar que nossa área é cool”, escreve “Daniel”, “Faça-nos um favor e vá fazer suas coisas em algum outro lugar, como Brixton”.

"Hackney welcomes the Olympics"
Apesar de ter suas obras vendidas em leilões que arrecadam centenas de millhares de libras, ele é igualmente mal-visto no exclusivo mundo das artes.

Como todos Banksy típicos, as duas peças que ele fez para as Olimpíadas - confira-as ao longo do texto - levam uma cena do cotidiano para um cenário exótico. A mensagem é simples, pode ser decodificada por todo mundo. E, mais do que isso, tem a aprovação do público, que balança a cabeça afirmativamente com as citações ao pacifismo e contra a pobreza. Há um humor irônico apelando à inteligência do espectador que ao matar a charada se sente parte integrante do grupo que critica o comportamento em geral da sociedade. Independentemente das suas qualidades, quase faz bem ao ego gostar de Banksy.

Essa facilidade, essa ironia aguada se torna bem mais aguda em seu documentário “Exit through a gift shop”. O longa, que foi indicado ao Oscar da categoria, sobre o mercado de arte atual deve ter sido mal-compreendido por muita gente. Inclusive pelo personagem principal, Thierry Guetta, que se transformou no“artista” Mr. Brainwash durante a sua produção.

O artista de Bristol tem o costume de se posicionar mais ao lado dos pichadores que dos “endinheirados das artes”. Se é genuíno ou mais uma de suas peças de autopromoção, é outro dos mistérios de Banksy.

“Eu não estou tão interessado em convencer as pessoas no mundo da arte que o que eu faço é 'arte'. Estou mais incomodado em convencer as pessoas da comunidade do grafite que o que eu faço é realmente vandalismo”, ele já declarou.

Escrevi também sobre Banksy, mas sobre outro aspecto, na coluna d'"O Globo" desta semana.

Nenhum comentário: