quarta-feira, 2 de abril de 2003

estou sem computador - novamente - em casa. mas ainda consigo escrever em papel...

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pseudo

indigno sou eu
que finjo escrever
poema
onde nem ao menos
consigo rabiscar
um verso com vontade

disfarço minha
total incapacidade
transvestindo
essas linhas
num híbrido
que não sou capaz
de identificar
- e julgo poucos
capazes,
pela impossibilidade
da obra

uma mistura
do formato
sem formalismo
muito pelo contrário,
com uma fluência
e linguagem da esquina
com algumas
cerejas escondidas

referências tortas
e mal acabadas
e todo o trabalho
pesado da decodificação
já iniciado

às vezes posso
enxergar
as linhas que regem
meu corpo
coladas de alto a baixo
nessas publicações
com uma caligrafia vasta
representativa e variada

tudo para
um dia alguém
observar e
falar que se
tratava de alguém
medíocre
com pseudo - intenções

basicamente
um pseudo qualquer coisa.

>>
cidade bela

nesse confuso ano
que parece, agora,
se iniciar
um estranho mal
coletivo
me aflige de maneira
inesperada

a falta de segurança
para exercer o meu direito
de ir e vir

vivemos na dependência
de um poder inexistente
ou passível de humores voláteis

nossa proteção
se chama sorte
e somos apenas
peças numa roleta.
estatisticamente,
um dia nosso número
será sorteado

enquanto isso
escutamos e presenciamos
relatos
cada vez mais próximos
mais amigos
de feridas profundas
ocasionadas pelas farpas
dessa convulsão

os culpados
não possuem rostos
ou carteiras de identidade
para unitariaza-los
fazem parte da
massa disforme
e perdida
e desesperançosa
que clama e urge
uma mudança mais rápida que a imediata
nessa malha que nos veste

por isso
os que aindam
podem sonhar em sobreviver
os que têm problemas
diferentes dos da simples existência diária
esgueiram-se
pelas frestas e curvas
da nossa bela cidade

bela cidade
que não sobrevive
apenas desse adjetivo.

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