[Como fui eu mesmo que escrevi, não dá para dizer que é roubo, mas cópia... Daqui]
A roupa e a posição dos músicos no palco já demonstravam a intenção da orquestra. Orquestra, não, Orkestra, com “k”, como assina a Rumpilezz, do maestro Letieres Leite. À frente, e vestidos com smokings, estavam os percussionistas. Em volta, com chinelos de dedos e bermudas, estavam o naipe de metais.
Apesar de funcionar como uma big band de jazz (são quatro trompetes, quatro trombones, dois saxes alto, dois saxes tenor, um sax barítono e uma tuba), a formação demonstrava a importância que Leite dá para sua percussão. “Eles saíram da cozinha e foram para a sala de estar”, costuma falar o compositor em suas apresentações.
Além de maestro, flautista, saxofonista e compositor, Leite também é uma espécie de mestre de cerimônia e, entre uma música e outra, explica a origem de sua música, dando uma aula sobre a tradição afro-baiana. Durante o show no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, na noite de quinta-feira (11), ele contou que essa produção tem como origem comum o candomblé, que frutificou em elementos como as grandes aglomerações percussivas, como o Ilê Aiyê e o Olodum, o samba do recôncavo e o samba-reggae. Sua composição, afirma, nasce das claves e desenhos rítmicos do universo percussivo baiano. Em outras palavras, dos tambores, surdos, timbaus, caixa, agogô, pandeiro, caxixi e dos atabaques rum, rumpi, e lé – daí, somado com os “zz” de jazz, forma rumpilezz – típicos da música sacra do culto nascido na África e que encontrou solo fértil no Brasil.
O Rumpilezz mistura os batuques com muitos solos de saxofone, flauta e trompete. É uma banda de jazz, sem perder o balanço do samba jamais. Aliás, todas as músicas, mesmo as mais complexas, continuam totalmente dançantes. Funciona como se os instrumentos de sopro abraçassem a percussão, mas sem nunca abafá-los. O tom é o batuque, é o ritmo.
Algumas músicas, como “Alafia” – que segundo o percussionista Gabi Guedes, reverenciado a todo momento por Letieres Leite, quer dizer “respeito” –, parecem ter saído de uma trilha sonora de um filme de ação. Outras, como “Floresta azul”, são aparentemente tranquilas. Há ainda as músicas didáticas, como “O samba nasceu na Bahia”, que mostra como os diversos tipos de samba se formataram no estado. Mas todas, prestam uma homenagem à tradição e à História musical bahiana.
O compositor, responsável pelos arranjos de muitos sucessos de Ivete Sangalo, passou seis anos em Viena, na Áustria, onde estudou no Konservatorium Franz Schubert, e na volta começou a desenvolver um projeto que desembocaria na Orkestra. “Foi quando consegui unir os dois mundos – a tradição dos terreiros com o aprendizado no conservatório”, disse em uma entrevista em fevereiro deste ano.
“A Orkestra Rumpilezz surgiu dessa pesquisa e as pessoas estão vendo o universo percussivo da Bahia com outros olhos. A música alternativa, que não gera um grande negócio, não dá um grande retorno, sempre existiu", continua ele: "Ainda está um pouco tímida, mas a tendência é crescer. Acho que é natural haver um desgaste [no universo da axé music].”
Para quem ficou mais curioso, os próximos shows da Orkestra, segundo sua produção, vão acontecer nos dias 30, nos Arcos da Lapa, no Rio, 1º de dezembro em São Paulo, e 16 de dezembro, no Pelourinho, na Bahia.
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