Antes de começar a colocar a minha opinião, uma confidência: tenho uma irmã que mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e pega tanto a Dutra, como a Avenida Brasil e a Linha Vermelha todo dia. Portanto, teria por que me preocupar. Mas não me preocupo.
É claro que ela está morrendo de medo. E eu não a culpo por estar com medo. Eu, no lugar dela, também estaria com medo. Moro em Botafogo e nada aconteceu perto da minha casa - por isso, me sinto em outra cidade, como se nada tivesse acontecendo [para não dizer "nada", dois homens foram presos suspeitos de atear fogo num carro].
Ela está com medo, é claro, por conta da divulgação desses veículos queimados. Isso gera uma onda de pavor generalizada. Não é para mostrar os carros pegando fogo? É, claro que é. Isso é notícia. Mas é bom saber das consequências da ação. A tal da reação, diria Newton. Primeiro, a óbvia: virar o varejão. Qualquer fulano com um parafuso faltando vai achar legal tacar fogo para também aparecer nos jornais. Segundo, e para mim a mais importante, a falta de contextualização: histórica, social, política.
Em absoluto, o que temos: mais de 30 veículos queimados; 23 mortos - a polícia não diz quantos inocentes, também conhecido como [doravante tcc], bala-perdida, e quantos "criminosos"; dezenas de presos e dois - DOIS - policiais feridos.
Temos informações - só "oficiais", ou seja, da polícia, porque os bandidos ainda não têm porta-vozes - de que os "ataques" foram ordenados pelos chefes dos bandidos por conta das UPPs. Temos informações - também "oficiais" - de que as quadrilhas se juntaram para atuar juntas contra a polícia [o que, na minha humilíssima opinião, pode até ser bom, diminuindo os confrontos e as consequentes mortes de inocentes]. Mas o que isso quer dizer, na prática?
Para começar a avaliar os estragos, temos que pensar comparativamente. Se os veículos foram queimados realmente em represália às UPPs, podemos pensar algumas coisas: Por exemplo: as UPPs estão realmente funcionando, os bandidos estão procurando outras formas de... de o que, mesmo? Há roubos? Aumentou o número de assaltos? Ou eles querem apenas amendrontar a população? Com qual objetivo? Que as pessoas fiquem contrárias às UPPs e deixem voltar o tráfico armado nos morros da Zona Sul? Porque, até agora, as UPPs só funcionaram na Zona Sul. Será que a classe média - que sempre me assusta pela sua teoria da "farinha pouca meu pirão primeiro" - vai querer ter de volta as armas às favelas do lado de suas casas?
Outra ideia: se a intenção é desestabilizar o governo, a tática dos bandidos foi, a meu ver, um erro sem tamanho. É só lembrar que esse governo começou matando gente às dúzias e não seria agora que eles recuariam. Só ver ali em cima que já são 23 mortos. V-i-n-t-e-t-r-ê-s mortos.
Mas, é sempre bom ressaltar para os teóricos da conspiração de plantão, esses mortos só aconteceram por conta dos ataques. Hum...
Voltando: qual é o objetivo desses bandidos? Reparemos em outro detalhe: não há feridos, quiçá mortos nos "ataques". Seria que eles querem mostrar como o governo é ineficiente no controle da segurança da cidade? Bem, reparem novamente que os "ataques" acontecem em áreas mais afastadas dos centros ricos, tcc, Zona Sul. Salvo um ou outro carro que pegou fogo em Laranjeiras, o pânico nessa área da cidade é completamente exagerado. Aposto que se compararmos com outras épocas - cadê a contextualização? - ficaremos surpresos com os números. Lembrando que os números divulgados pela Secretaria de Segurança do Rio mostram a diminuição drásticas em TODOS os números de crimes da cidade.
E, nas áreas mais pobres, o que tinha mudado com a entrada das UPPs? Ou seja, os bandidos estão maltratando quem sempre maltrataram. Um ônibus queimando chama muito mais a atenção, claro, que tiroteios entre quadrilhas rivais. Ou achaques. Ou a falta de direitos civis [esse, então...]. Mas, qual é a diferença para o que sempre vivemos? Ou melhor, para o que eles sempre viveram? Cadê, novamente, a contextualização? Os bandidos, me parece, se estão atrás disso tudo, não têm, ainda, um porta-voz, mas já fizeram media training.
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