Schopenhauer [foi ele? foi] disse que temos uma "vontade" [ele adorava essa palavra] de viver - algo, para ele, inexplicável [foi assim que ele escreveu? Não lembro...]. A partir daí, todos os nossos movimentos são pela preservação. E como viver não basta [por quê?], procura-se a felicidade.
Mas voltando à existência. A minha tríade preferida [ou de quem fui escolhido, escolhido para empurrar suas pedras morro acima] , filosofia, história e arte, tenta, de diversas maneiras, preservar a vida. Pensei, recentemente, na questão da memória, nesse aspecto: em como ela é indispensável para nos sentirmos vivos, seguros, confortáveis. E história e arte nada mais são que formas de registro da memória, mesmo que a inventada. O historiador Fernando Novais afirmou em uma entrevista que a diferença entre história e mito não é que uma se atém à verdade, enquanto outra não. Mas que uma está presa à temporalidade e a outra à eternidade. [Escrevi essa frase de memória, depois, fui lá conferir. A frase original é: "O que distingue a narrativa histórica da narrativa mítica não é o fato da primeira ser verdadeira e a segunda falsa, mas sim, de que a primeira se ancora na temporalidade e a segunda se situa na eternidade" - nada mal, né?] [Agora, se eu me lembro ainda do que li na pós-graduação, Hannah Arendt é outra que também faz a comparação entre história e arte.]
A memória nos traz o conforto de sabermos - razoavelmente - quem somos, onde estamos, para onde vamos - as tais perguntas fundadoras da filosofia. Se não as respondemos com profundidade talvez seja porque não haja nada abaixo da superfície.
Esses processos memorialísticos são a nossa âncora, o que nos prende à "realidade", nos dá a segurança para viver e agir conforme desejarmos - ou como a "vontade" schopenhauriana quiser.
A memória nos livra de sustos diários, ou eternos - no sentido de se repetirem ininterruptamente - de não sabermos quem nós somos. Ter consciência e, ao mesmo tempo ignorar sobre a própria identidade, por exemplo, deve dar a mesma sensação de desespero que se tem quando se acorda em um lugar esquisito e diferente de sua casa e você não se lembra onde é.
A memória é condição da existência.
ps. estava escrevendo isso, num caderninho, e me veio à memória uma frase que Borges gostava de dizer sobre o italiano, o idioma: seria o primeiro a estabelecer a distinção entre o circunstancial e o existencial. Porque sabemos que o verbo "to be" tanto pode querer dizer "ser" como "estar". Imagino que temos mais liberdade para nos modificarmos durante a nossa vivência, enquanto haja mais dureza por parte dos que não sabem a diferença entre ser e estar.
pps. ao escrever a primeira versão desse texto, lembrei de uma música que acho incrível, descoberta recentemente: "Shampoo suicide", do Broken Social Scene. Incrível como o belo, às vezes, brota em lugares onde não se espera...
ppps. ela toca neste momento.
Mas voltando à existência. A minha tríade preferida [ou de quem fui escolhido, escolhido para empurrar suas pedras morro acima] , filosofia, história e arte, tenta, de diversas maneiras, preservar a vida. Pensei, recentemente, na questão da memória, nesse aspecto: em como ela é indispensável para nos sentirmos vivos, seguros, confortáveis. E história e arte nada mais são que formas de registro da memória, mesmo que a inventada. O historiador Fernando Novais afirmou em uma entrevista que a diferença entre história e mito não é que uma se atém à verdade, enquanto outra não. Mas que uma está presa à temporalidade e a outra à eternidade. [Escrevi essa frase de memória, depois, fui lá conferir. A frase original é: "O que distingue a narrativa histórica da narrativa mítica não é o fato da primeira ser verdadeira e a segunda falsa, mas sim, de que a primeira se ancora na temporalidade e a segunda se situa na eternidade" - nada mal, né?] [Agora, se eu me lembro ainda do que li na pós-graduação, Hannah Arendt é outra que também faz a comparação entre história e arte.]
A memória nos traz o conforto de sabermos - razoavelmente - quem somos, onde estamos, para onde vamos - as tais perguntas fundadoras da filosofia. Se não as respondemos com profundidade talvez seja porque não haja nada abaixo da superfície.
Esses processos memorialísticos são a nossa âncora, o que nos prende à "realidade", nos dá a segurança para viver e agir conforme desejarmos - ou como a "vontade" schopenhauriana quiser.
A memória nos livra de sustos diários, ou eternos - no sentido de se repetirem ininterruptamente - de não sabermos quem nós somos. Ter consciência e, ao mesmo tempo ignorar sobre a própria identidade, por exemplo, deve dar a mesma sensação de desespero que se tem quando se acorda em um lugar esquisito e diferente de sua casa e você não se lembra onde é.
A memória é condição da existência.
ps. estava escrevendo isso, num caderninho, e me veio à memória uma frase que Borges gostava de dizer sobre o italiano, o idioma: seria o primeiro a estabelecer a distinção entre o circunstancial e o existencial. Porque sabemos que o verbo "to be" tanto pode querer dizer "ser" como "estar". Imagino que temos mais liberdade para nos modificarmos durante a nossa vivência, enquanto haja mais dureza por parte dos que não sabem a diferença entre ser e estar.
pps. ao escrever a primeira versão desse texto, lembrei de uma música que acho incrível, descoberta recentemente: "Shampoo suicide", do Broken Social Scene. Incrível como o belo, às vezes, brota em lugares onde não se espera...
ppps. ela toca neste momento.
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