Londres é uma cidade tão exótica que quando vamos em uma vizinhança com a maioria de londrinos-caucasianos, estranhamos.
Antes de vir para cá, tínhamos casais-amigos morando aqui que tinham vindo da Índia [ele de Kolkata, ela de Chennai, ambos de Mumbai], da Itália [ele com dupla nacionalidade italiana, ela, com dupla japonesa, ambos brasileiros, ou em outras palavras, da república porto-alegrense], do Canadá [ela trabalhou com Renata, ele é irmão do marido de uma amiga da Renata - só descobrimos no casamento - ambos do Rio], e um casal, e agora uma bebezinha, de Londres. Mas mesmo que eles tenham um sotaque forte de quem estudou em boas escolas, e todo o humor de quem cresceu com a ironia como forma de comunicação, ele é filho de sueca e ela tem pai espanhol. Ou seja, Londres é uma cidade de imigrantes, como é, por exemplo, Nova York. O próprio "Lonely Planet", o mais tradicional dos guias, afirma isso em seu overall. A diferença é que Nova York, e todos os EUA, assim como muitos dos países das Américas, foram formados a partir de ondas de imigração - o que não é exatamente a primeira associação que temos com Londres e a Inglaterra. Mas a verdade é que eles também foram formados por povos de outras localidades, no caso, os saxões, que vieram da área que hoje é a Alemanha, há muitos e muitos séculos.
Ontem fomos visitar os londrinos-natural-born em Fulham - um bairro bucólico, cheio de parques, e londrinos-caucasianos. Foi muito difícil ver alguém que fugisse do estereótipo, branco, alto, louro/ruivo, magro. E isso, é claro, se chama a minha atenção, chama a atenção dos seus próprios moradores. Louise - a mamãe de Rosie - disse que quer se mudar, quando der, para uma área que fosse mais... mixed. E, para compensar essa unilateralidade, ela vai colocar a neném em uma babá que fala espanhol - já que ela, Louise, não sabe falar.
Os próprios londrinos sentem falta da mistura.
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Nesse périplo por apartamentos, ida em universidades, registro em polícia, temos conhecido apenas brasileiros, russos, indianos e chineses. E todas as vezes que eu comento sobre os Brics, o meu interlocutor me dá um sorriso amarelo [principalmente se for chinês], de quem nunca ouviu falar dessa sigla, mas não quer interromper a conversar com perguntas desnecessárias. Ou acham que é "bricks", e pensam em construção, no sentido de renovação, ou ainda em um diminutivo de "Brick Lane", o lugar onde se poder comer as mais exóticas comidas - mesmo para Londres. O que comprova isso? Absolutamente nada. Mas não vejo isso como coincidência.
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Fulham é a terra de Johnny Rotten. Não pode ser boa vizinhança.
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