segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mudanças

Se mudar [fiquei um tempo pensando se deveria começar um texto com uma próclise, já que pela "gramática culta" estaria errado. Mas como eu ignoro - no sentido de não saber e no sentido de não me importar com - a "gramática culta", decidi manter o pronome antes do verbo ao iniciar um texto. Isso me faz lembrar dois episódios envolvendo a questão: o famoso poema "Pronominais", de Oswald de Andrade - que não sei exatamente de quando é, mas é bastante antigo a ponto de estar no inconsciente coletivo, e demonstrar que essa é uma discussão antiga e, a meu ver, ultrapassada; e o início de "Moby Dick", quando Melville escreve "Call me Ishmael" e os tradutores brasileiros tascavam "Chamai-me Ismael", que, como o Sérgio Rodrigues muito bem salientou, destoava de todo o tom do resto do livro.], como ia dizendo, se mudar é uma tarefa complicada por si só. Eu já me mudei algumas poucas vezes, comparado com alguns conhecidos, mas tenho algumas histórias, como quando me mudei apenas 40 números de uma mesma rua - no caso a São Clemente - e carreguei cama e adjacências pelas calçadas, com a ajuda de um amigo. Foi um pouco estranho, para não dizer embaraçoso ou constrangedor.

Mas mudar de país... bem... Mesmo que seja com toda a ajuda, e para um país como a Inglaterra, que não é tão burocrático como o Brasil, é bem complicado... O moço que assina o blog Singaporean in London dá uma série de dicas sobre o que ter, o que saber, o que perguntar, etc. e tal. Por exemplo, ele afirma que não é possível alugar - ou é muito difícil - alugar um flat sem ter uma conta bancária, porque o aluguel é deduzido diretamente, no débito automático. Portanto, devemos ter uma conta para ter uma casa, mas, pensei, e se pedirem um endereço - logo, um casa - para termos uma conta? Tentei explicar para Roy o "dilema Tostines" - ele pareceu entender.

Apart this - essa expressão é bastante usada aqui, e é ótima, não? -, se fosse só isso, seria só burocrático. A questão é mais, digamos, geográfica: onde morar? Londres, diferentemente de outras cidades em que há um centro rico, é mais espalhada. Aqui, é possível morar em qualquer lugar e ter acesso a um centrinho, com pub, cabeleireiro e loja de aposta - em todos os lugares que visitamos havia isso. Claro que continua tendo um centro rico, a área 1, mas é impraticável para simples mortais [ o/ ]. A partir do centro, há uma série de áreas, que o circundam, e que vão se afastando. Quanto mais longe do centro, da área 1, da chamada City, mais barato de viver, casas maiores, mas mais dificuldade de transporte, mais dinheiro pago em metrô - que é também um custo a se considerar, levando em conta que uma viagem comum da área 6 a 1 pode chegar a £ 8 [se puder dar uma única dica ao visitar Londres é: comprem um Oyster card. É tudo o que o Bilhete Único deveria ser].

Hence, devemos: ficar perto da universidade, que é na  área 4, ou mais próximo do Centro? Devemos escolher o lado Oeste, mais rico, mais bonitinho e mais caro, portanto casas menores; o Leste, que está entrando na moda ["trendy", é a expressão usada], mas é longe demais de onde Renata vai estudar? Ou o Norte, que é um lugar um pouco mais desvalorizado?

Se a vida fosse um "Você decide", agora entraria o Antônio Fagundes e daria uns telefones para ligar. Mas, se for de Londres, acrescente um "0" antes do número, por favor. [Essa piada interna é um oferecimento da Vodafone.]

2 comentários:

Julia Moreira disse...

Meu pai morava em Bloomsbury e amava cada minuto. Eu, quando o visitei, também curti. E acho que é perto da universidade (se por universidade você estiver se referindo a University of London) - se bem que deve ter mais de um campus, né? Bom, com a minha recente experiência de mudar de país e procurar casa, daria apenas um conselho: cuidado com as paredes finas. E, na pior das hipóteses, você ainda vai estar em Londres, então ainda vai ser incrível :)

contonocanto disse...

"amava cada minuto". essa é uma expressão bem sua, Julia Moreira.

não chega a ser uma preocupação que me tira o sono, esse negócio de procurar apartamento, mas é uma indecisão constante.

bjs