O Brasil é um país curioso em várias acepções da palavra "curioso", mas uma em especial me chama a atenção daqui de Londres: ter uma nação do nosso tamanho e com tanta gente e falar apenas uma língua. Mesmo que tenha variações regionais, sotaques e até mesmo áreas no sul que se fala alemão ou italiano e no norte que se falam trocentas línguas indígenas, podemos afirmar que a imensíssima maioria da população se comunica única e exclusivamente na última flor do Lácio.
Se compararmos com países com o nosso tamanho [EUA por exemplo, que nem tem língua oficial] ou o número de pessoas vivendo, acho que somos um caso único. Na Indonésia, uma posição à nossa frente no ranking dos populosos, há a língua oficial, o indonésio, mas, de acordo com o wikipedia, "muitos indonésios, além de falar a língua nacional são fluentes em outras línguas da região, como o sundanês e o javanês." Depois da gente, no ranking, vêm Paquistão e Bangladesh - e aqui se encerra nossa comparação.
[Me lembrei do "Filhos da meia-noite", do inglês de nascimento, mas indiano de família, Salman Rushdie, quando o personagem principal, indiano muçulmano, descreve como sua babá era um ignorante analfabeta, mas falava trocentas línguas diferentes.]
Ontem, consegui identificar - repito, consegui identificar - cinco línguas: inglês, português, francês, italiano e espanhol. Com a ajuda de Roy, descobri que em um vagão de trem havia gente falando em hindi e marathi. E ouvi uma senhora de cabelos azulados falando algo que eu posso jurar que era eslavo, mas se russo ou outra língua que o Fabrício Yuri domina, não tenho certeza. Além disso, almoçamos em um restaurante Punjabi, da região que se divide entre Índia e Paquistão [sim, há um outro lugar fronteiriço entre esses países irmãos que amam se odiar, que não a Caxemira e onde as pessoas não querem se matar], em que é claro que as pessoas falavam urdu. E não duvido que alguma das inúmeras senhoras usando véus nas ruas se expressa em árabe.
Aliás, falando em véus, descobri como somos ignorantes em relação a qualquer assunto da religião muçulmana - pelo menos eu sou. Descobri que eles têm um tipo de comida chamada halal, que, assim como a comida kosher dos judeus, respeita uma série de procedimentos na hora de matar os animais - não vejo coincidência nessa aproximação, mas parentesco. Segundo Roy, um dos procedimentos é drenar o sangue do bicho porque há o pensamento de que muito das impurezas do carneirinho estaria no sangue. Me remeteu ao episódio do sangrador do "Histórias do Brasil".
Em falando em parentesco, ontem enquanto andava no lado leste da cidade, houve um momento em que "esbarrei", ao mesmo tempo, com uma moça e sua filha envolvida em um dos mil véus, e dois judeus ortodoxos, daqueles que usam chapéus e trancinhas [repare que a minha ignorância não tem preferências]. Como estava com Roy, éramos naquele momento um hindu, dois judeus, duas muçulmanas e eu, um ex-católico.
Outro detalhe que descobri - apesar de já ter ouvido falar - é: não há apenas um tipo de véu, mas diversos. Confundir isso deve ser - imagino - o mesmo que não reparar que a sua mulher cortou o cabelo. Suspeito que as moças que usam os véus não mudam de véu para véu, conforme, sei lá, o clima. ["Hum, hoje, vou usar um mais fechadinho porque está frio."] Mas porque envolve a sua relação com a religião. Ontem, enquanto esperava no aeroporto Renata chegar, percebi três gerações de muçulmanas com tipos diferentes de véus. Quanto mais velha, mais pano. Mesmo assim, a mais nova, apesar de usar roupas ocidentalizadas, não mostrava nem mesmo uma das canelas, quiçá o pescoço.
Também é curioso a indústria do véu, na moda. As lojas aproveitam que aqui as pessoas ganham em pounds e colocam para vender as mais garbosas hijabs, al-amira ou shayla, ou até mesmo uma niqab. Vi uma adolescente muçulmana negra com um chador preto brilhante. Claro que eu não aprendi esses nomes e essas distinções em um dia de andada pelas ruas londrinas. Descobri que a BBC tem um infográfico simples e bem informativo sobre os diferentes panos que se coloca em volta da cabeça ou do corpo. Vale a conferida.
Se compararmos com países com o nosso tamanho [EUA por exemplo, que nem tem língua oficial] ou o número de pessoas vivendo, acho que somos um caso único. Na Indonésia, uma posição à nossa frente no ranking dos populosos, há a língua oficial, o indonésio, mas, de acordo com o wikipedia, "muitos indonésios, além de falar a língua nacional são fluentes em outras línguas da região, como o sundanês e o javanês." Depois da gente, no ranking, vêm Paquistão e Bangladesh - e aqui se encerra nossa comparação.
[Me lembrei do "Filhos da meia-noite", do inglês de nascimento, mas indiano de família, Salman Rushdie, quando o personagem principal, indiano muçulmano, descreve como sua babá era um ignorante analfabeta, mas falava trocentas línguas diferentes.]
Ontem, consegui identificar - repito, consegui identificar - cinco línguas: inglês, português, francês, italiano e espanhol. Com a ajuda de Roy, descobri que em um vagão de trem havia gente falando em hindi e marathi. E ouvi uma senhora de cabelos azulados falando algo que eu posso jurar que era eslavo, mas se russo ou outra língua que o Fabrício Yuri domina, não tenho certeza. Além disso, almoçamos em um restaurante Punjabi, da região que se divide entre Índia e Paquistão [sim, há um outro lugar fronteiriço entre esses países irmãos que amam se odiar, que não a Caxemira e onde as pessoas não querem se matar], em que é claro que as pessoas falavam urdu. E não duvido que alguma das inúmeras senhoras usando véus nas ruas se expressa em árabe.
Aliás, falando em véus, descobri como somos ignorantes em relação a qualquer assunto da religião muçulmana - pelo menos eu sou. Descobri que eles têm um tipo de comida chamada halal, que, assim como a comida kosher dos judeus, respeita uma série de procedimentos na hora de matar os animais - não vejo coincidência nessa aproximação, mas parentesco. Segundo Roy, um dos procedimentos é drenar o sangue do bicho porque há o pensamento de que muito das impurezas do carneirinho estaria no sangue. Me remeteu ao episódio do sangrador do "Histórias do Brasil".
Em falando em parentesco, ontem enquanto andava no lado leste da cidade, houve um momento em que "esbarrei", ao mesmo tempo, com uma moça e sua filha envolvida em um dos mil véus, e dois judeus ortodoxos, daqueles que usam chapéus e trancinhas [repare que a minha ignorância não tem preferências]. Como estava com Roy, éramos naquele momento um hindu, dois judeus, duas muçulmanas e eu, um ex-católico.
Outro detalhe que descobri - apesar de já ter ouvido falar - é: não há apenas um tipo de véu, mas diversos. Confundir isso deve ser - imagino - o mesmo que não reparar que a sua mulher cortou o cabelo. Suspeito que as moças que usam os véus não mudam de véu para véu, conforme, sei lá, o clima. ["Hum, hoje, vou usar um mais fechadinho porque está frio."] Mas porque envolve a sua relação com a religião. Ontem, enquanto esperava no aeroporto Renata chegar, percebi três gerações de muçulmanas com tipos diferentes de véus. Quanto mais velha, mais pano. Mesmo assim, a mais nova, apesar de usar roupas ocidentalizadas, não mostrava nem mesmo uma das canelas, quiçá o pescoço.
Também é curioso a indústria do véu, na moda. As lojas aproveitam que aqui as pessoas ganham em pounds e colocam para vender as mais garbosas hijabs, al-amira ou shayla, ou até mesmo uma niqab. Vi uma adolescente muçulmana negra com um chador preto brilhante. Claro que eu não aprendi esses nomes e essas distinções em um dia de andada pelas ruas londrinas. Descobri que a BBC tem um infográfico simples e bem informativo sobre os diferentes panos que se coloca em volta da cabeça ou do corpo. Vale a conferida.
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