Temos – quem tem essa prática de escrever, sejam escritores, jornalistas ou qualquer amador que traça linhas mais a sério – uma propensão à linguagem mais dura, mais antiga, mais tradicional, mais gramatical, mais registrada em outros livros, em vez de abrir os ouvidos para o que está acontecendo lá fora, nas ruas, nesse momento.
Claro que há grandes escritores com ótima audição que conseguem transformar o que escuta em palavras, dando ritmo e coloquialismo a frases que não foram registradas. Mas admito que, talvez por ter esse passado de letras, é muito difícil para mim escrever coisas simples como um “tá”, sendo que ninguém que eu conheça diz, hoje em dia, “está”. Escrevo e não sei bem como deixar, ou como conjugar, ou como fazer para que soe, ao mesmo tempo, natural e correto.
Esses dias ouvi uma palavra que é do vocabulário comum de qualquer pessoa, ao menos, de qualquer carioca, e que eu raramente vi em um jornal, quiçá – ou nem mesmo, já que é um espaço para experiências – em um livro: esculachar.
Todo mundo sabe o que é, não precisa que eu a explique, mas quase ninguém a usa formalmente. Por que isso acontece? Bem, provavelmente por uma lentidão dinossáurica dos meios escritos em assumir a oralidade, dicionarizando novos vocábulos.
No caso de esculachar, há até uma curiosidade: a palavra está dicionarizada. Segundo o Houaiss, a provável etimologia vem do italiano “sculacciare (1598) 'dar palmadas nas nádegas, especialmente em crianças', derivação parassintético de culo 'cu, ânus, nádegas'”. Por que, então, não se usa esse tipo de palavra?
Lembro de um uso, quando prenderam um criminoso famoso e ele pediu para não ser “esculachado” pela polícia. Há casos de músicas, que aceitam melhor a oralidade, mas, pensando ainda de uma maneira massificada, a palavra não é usada comumente nos meios escritos mais tradicionais. Por quê?
Uma possibilidade é a interpretação da palavra como algo muito pueril – não, pueril não é a palavra –, como algo raso – hum, também não – algo simples – quase lá – popularesco. Como algo popularesco. Acho que é isso. Há uma conotação social na palavra.
Só quem é pobre que a fala, comumente. O rico, quando a fala, está querendo usar os códigos relacionados aos pobres, como a malandragem, a fácil assimilação social, a camaradagem generalizada, etc. etc. etc..
E, como se sabe, no nosso país, os meios escritos são, claro, tradicionalmente um meio mais elevado, voltado para poucos e bons.
Um esculacho isso.
Claro que há grandes escritores com ótima audição que conseguem transformar o que escuta em palavras, dando ritmo e coloquialismo a frases que não foram registradas. Mas admito que, talvez por ter esse passado de letras, é muito difícil para mim escrever coisas simples como um “tá”, sendo que ninguém que eu conheça diz, hoje em dia, “está”. Escrevo e não sei bem como deixar, ou como conjugar, ou como fazer para que soe, ao mesmo tempo, natural e correto.
Esses dias ouvi uma palavra que é do vocabulário comum de qualquer pessoa, ao menos, de qualquer carioca, e que eu raramente vi em um jornal, quiçá – ou nem mesmo, já que é um espaço para experiências – em um livro: esculachar.
Todo mundo sabe o que é, não precisa que eu a explique, mas quase ninguém a usa formalmente. Por que isso acontece? Bem, provavelmente por uma lentidão dinossáurica dos meios escritos em assumir a oralidade, dicionarizando novos vocábulos.
No caso de esculachar, há até uma curiosidade: a palavra está dicionarizada. Segundo o Houaiss, a provável etimologia vem do italiano “sculacciare (1598) 'dar palmadas nas nádegas, especialmente em crianças', derivação parassintético de culo 'cu, ânus, nádegas'”. Por que, então, não se usa esse tipo de palavra?
Lembro de um uso, quando prenderam um criminoso famoso e ele pediu para não ser “esculachado” pela polícia. Há casos de músicas, que aceitam melhor a oralidade, mas, pensando ainda de uma maneira massificada, a palavra não é usada comumente nos meios escritos mais tradicionais. Por quê?
Uma possibilidade é a interpretação da palavra como algo muito pueril – não, pueril não é a palavra –, como algo raso – hum, também não – algo simples – quase lá – popularesco. Como algo popularesco. Acho que é isso. Há uma conotação social na palavra.
Só quem é pobre que a fala, comumente. O rico, quando a fala, está querendo usar os códigos relacionados aos pobres, como a malandragem, a fácil assimilação social, a camaradagem generalizada, etc. etc. etc..
E, como se sabe, no nosso país, os meios escritos são, claro, tradicionalmente um meio mais elevado, voltado para poucos e bons.
Um esculacho isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário