quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Médium do zeitgeist

Ontem vi "Tsar", filme de 2009, sobre Ivan, alcunhado de "O Terrível", numa espécie de premier, com diretor e uma plateia lotada de russos - inclusive amigos nossos, que traduziram boa parte da conversa com o cineasta, depois da exibição. Bem, se considerarmos todos os assassinatos, as torturas, as perseguições, as guerras eternas, as manias de perseguição, as paranoias, podemos chamar esse Ivan de Terrível, sem problema. O que mais me chamou a atenção, porém, não foi o filme em si, mas a vontade de todas as pessoas em associarem o filme com a situação política da Rússia agora. Uma moça, mais exaltada, chegou a perguntar se o diretor, Pavel Lungin, tinha passaporte russo, após ele se recusar a opinar sobre algo que ela questionou.

Curiosamente, as pessoas pareceram ter se esquecido que, no início, antes de começar a projeção, Lungin fez um comentário rápido, intercalando a época do filme, século XVI, e os dias atuais. Disse algo como se antes os tiranos pensavam que eram enviados de deus, agora, os líderes têm, ao menos, um pouco mais de cuidado para se justificar. Ou não.

De qualquer forma, o filme estreou em 2009, portanto foi rodado muito antes dessa confusão da eleição russa, que fomentou tantas perguntas na plateia. Porém, fiquei pensando que o artista, de certa forma, pode prever o que vai acontecer. E, também, ele nunca fala em suas obras sobre o passado ou o futuro, ele nunca escapa do presente, e o passado e o futuro são alegorias do que ele vê e vive. O modo como ele reconta o passado ou futuro é filtrado pela sua subjetividade para tornar algo único.

Pensei que o artista é uma espécie de médium que recebem um espírito, mas um espírito diferente, o zeitgeist.
   

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