sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
O fim do jornalismo como fim
Quando terminei a faculdade de Relações Públicas, um detalhe se me apareceu: de todos os meus amigos mais próximos, apenas um continuava a trabalhar com a matéria. Um tinha virado fotógrafo, outro, ido trabalhar com cinema, um terceiro fez concurso público. Eu, como aconteceu com outros comparsas, fui fazer a segunda faculdade. Agora, parece que o mesmo procedimento se repete, com o jornalismo.
De todos os meus amigos mais próximos, apenas um trabalha com jornalismo hardnews, com o que seria o jornalismo-jornalismo, aquela editoria em que cabe tudo, você realmente é especialista em porra-nenhuma, mas sabe falar sobre qualquer assunto por cinco minutos, no mínimo. E mesmo ele faz uma segunda faculdade agora, depois de anos, em Ciências Sociais.
Não quer dizer que eu não conheça ninguém que trabalhe com RP - conheço vários; a imensa maioria, mulheres - ou que trabalhe na geral (todo mundo de TV aberta é de geral, mais ou menos). Mas que o jornalismo, de certa forma, expulsou os seus profissionais para outras áreas afins. Ou nem tão afins.
O jornalismo sempre foi a profissão que, via de regra, se o cara gosta e se destaca na sua função, como a reportagem por exemplo, ganha como premiação sair do seu lugar e virar editor. Agora, com a especialização e, principalmente, com a dificuldade de traçar as fronteiras entre onde começa e termina o jornalismo dentro de uma grande empresa de comunicação no Brasil, vários jornalistas acabaram navegando em outras águas. Mas eu vou um pouco além, me arriscando num terreno que eu não tenho qualquer informação além do meu próprio chute.
O fulano que escolhe - ou, ao menos, escolhia - cursar o jornalismo era um sujeito com um pezinho na utopia. De leve, ao menos. Ele queria fazer reportagens que mostrassem as mazelas do mundo. Queria denunciar os escândalos políticos, econômicos. Queria fazer aquela entrevista com o grande artista do momento. Em suma, queria, mesmo que sutilmente, mesmo apenas em um resvalar, mudar o mundo. Que fosse um tiquinho, queria. Que fosse apenas na forma de ajudar alguém. Queria. Só que o jornalismo não é mais isso há muito tempo.
Em geral, o jornalismo virou uma grande reprodução de assessorias de imprensa - aliás, lotados de jornalistas que querem um pouco mais de conforto, e quase sem RPs que não são vistos como capacitados para o trabalho. O jornalista simplesmente repete as versões oficiais, na tentativa de fechar o jornal [em qualquer que seja o seu formato] na hora. Deadline foi e continua sendo um dos principais métodos do jornalismo, mostrando a sua urgência. O que mudou não foi o prazo, mas a quantidade de material que se tem que produzir.
Não há tempo para o jornalista refletir sobre a história que está escutando/produzindo/escrevendo. O que ele ouve é tida como verdade, sem contestação, sendo que o entrevistado não assinou nenhum contrato de veracidade com ele, não colocou a mão sobre a Bíblia para garantir de que falaria apenas a verdade, nada além da verdade. Assim nascem as reportagens que são apenas chapa-branca.
Acho que esse desespero, essa necessidade de publicação sem tempo para parar, respirar, e pensar sobre o que está sendo publicado, é o que tirou o tesão dessa geração de jornalistas, a qual eu faço parte, humildemente. Por sorte caí em uma revista mensal com características muito próprias, que me dão algumas vantagens e muitas, mas muitas desvantagens. Entre as vantagens está exatamente a possibilidade de revisitar o que me foi dito. Já as desvantagens...
O provável é que o jornalismo apenas reflita os grandes anseios da população em geral, que quer ler notícias mais simples e diretamente, sem qualquer tipo de informação mais complexa. O jornalismo, agora, corre atrás do prejuízo para criar novos formatos de divulgação, que não são mais o escrito, nem apenas o visual, quiçá o áudio, mas uma mistura dessas linguagens, num ambiente que não é assim mais tão novo, mas que parece que descobrimos recentemente para que é que existe mesmo.
O jornalismo vai acabar? Claro que não. Só vai ter que mudar de roupa, para se adequar à nova moda. Vamos ler menos? Provavelmente não, apenas em menor profundidade e com menos atenção. Isso é definitivamente ruim? Não necessariamente. Quem disse que temos que ler para sermos melhores?
De todos os meus amigos mais próximos, apenas um trabalha com jornalismo hardnews, com o que seria o jornalismo-jornalismo, aquela editoria em que cabe tudo, você realmente é especialista em porra-nenhuma, mas sabe falar sobre qualquer assunto por cinco minutos, no mínimo. E mesmo ele faz uma segunda faculdade agora, depois de anos, em Ciências Sociais.
Não quer dizer que eu não conheça ninguém que trabalhe com RP - conheço vários; a imensa maioria, mulheres - ou que trabalhe na geral (todo mundo de TV aberta é de geral, mais ou menos). Mas que o jornalismo, de certa forma, expulsou os seus profissionais para outras áreas afins. Ou nem tão afins.
O jornalismo sempre foi a profissão que, via de regra, se o cara gosta e se destaca na sua função, como a reportagem por exemplo, ganha como premiação sair do seu lugar e virar editor. Agora, com a especialização e, principalmente, com a dificuldade de traçar as fronteiras entre onde começa e termina o jornalismo dentro de uma grande empresa de comunicação no Brasil, vários jornalistas acabaram navegando em outras águas. Mas eu vou um pouco além, me arriscando num terreno que eu não tenho qualquer informação além do meu próprio chute.
O fulano que escolhe - ou, ao menos, escolhia - cursar o jornalismo era um sujeito com um pezinho na utopia. De leve, ao menos. Ele queria fazer reportagens que mostrassem as mazelas do mundo. Queria denunciar os escândalos políticos, econômicos. Queria fazer aquela entrevista com o grande artista do momento. Em suma, queria, mesmo que sutilmente, mesmo apenas em um resvalar, mudar o mundo. Que fosse um tiquinho, queria. Que fosse apenas na forma de ajudar alguém. Queria. Só que o jornalismo não é mais isso há muito tempo.
Em geral, o jornalismo virou uma grande reprodução de assessorias de imprensa - aliás, lotados de jornalistas que querem um pouco mais de conforto, e quase sem RPs que não são vistos como capacitados para o trabalho. O jornalista simplesmente repete as versões oficiais, na tentativa de fechar o jornal [em qualquer que seja o seu formato] na hora. Deadline foi e continua sendo um dos principais métodos do jornalismo, mostrando a sua urgência. O que mudou não foi o prazo, mas a quantidade de material que se tem que produzir.
Não há tempo para o jornalista refletir sobre a história que está escutando/produzindo/escrevendo. O que ele ouve é tida como verdade, sem contestação, sendo que o entrevistado não assinou nenhum contrato de veracidade com ele, não colocou a mão sobre a Bíblia para garantir de que falaria apenas a verdade, nada além da verdade. Assim nascem as reportagens que são apenas chapa-branca.
Acho que esse desespero, essa necessidade de publicação sem tempo para parar, respirar, e pensar sobre o que está sendo publicado, é o que tirou o tesão dessa geração de jornalistas, a qual eu faço parte, humildemente. Por sorte caí em uma revista mensal com características muito próprias, que me dão algumas vantagens e muitas, mas muitas desvantagens. Entre as vantagens está exatamente a possibilidade de revisitar o que me foi dito. Já as desvantagens...
O provável é que o jornalismo apenas reflita os grandes anseios da população em geral, que quer ler notícias mais simples e diretamente, sem qualquer tipo de informação mais complexa. O jornalismo, agora, corre atrás do prejuízo para criar novos formatos de divulgação, que não são mais o escrito, nem apenas o visual, quiçá o áudio, mas uma mistura dessas linguagens, num ambiente que não é assim mais tão novo, mas que parece que descobrimos recentemente para que é que existe mesmo.
O jornalismo vai acabar? Claro que não. Só vai ter que mudar de roupa, para se adequar à nova moda. Vamos ler menos? Provavelmente não, apenas em menor profundidade e com menos atenção. Isso é definitivamente ruim? Não necessariamente. Quem disse que temos que ler para sermos melhores?
sábado, 4 de janeiro de 2014
Identidade e diferença
O poeta [Hölderlin] diz no Hypérion: 'A grande palavra o hèn diaphéron heautõ (traduzo: o uno que em si mesmo se diferencia), de Heráclito somente um grego pôde descobrir; pois é a essência da beleza e antes de ter sido encontrada não havia filosofia'. O texto é tirado do Banquete (187a) de Platão onde se lê: 'Hèn diapherómenon autõ autò symphérestai': 'o uno', diz Heráclito, 'se reencontra consigo mesmo, ainda quando tende para a diferença'.
A identidade na diferença é para Hölderlin a essência da beleza. Beleza significa para o poeta, naquela época, ser. Antes que se descobrisse que o enigma do ser está no fato de ocultar em si mesmo a identidade e a diferença, não havia filosofia. Ou, ainda, o ser somente é ser porque é em si mesmo identidade e diferença; a tarefa da filosofia é questionar o ser nesta dimensão, porque dela brota sua própria possibilidade" - Professor Ernildo Stein, na nota de tradução de um conjunto de textos dentro da coleção Os pensadores sobre Heidegger, na página 11.Se eu disser que eu li esse trecho hoje, dias após ter escrito este outro texto, mas que para mim são um a exemplificação do outro, vocês acreditariam? Nem eu.
Isso acontece comigo várias vezes: pensar em algo, escrever esse algo e depois encontrar alguém que já havia falado muitas vezes sobre o algo, e muitos, muitos anos antes.
O mais impressionante para mim foi quando eu escrevi um algo e esse algo aconteceu. Mas essa é uma história para depois, quem sabe.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Do contra
Não sei de onde nasceu essa mania, mas tenho o hábito de sempre me colocar do outro lado do espectro da conversa - qualquer que seja o tema. Se alguém me fala sobre determinado assunto, eu automaticamente, e sem nenhum espírito de porco, começo a pensar o oposto, para ver se aquele argumento inicial se sustenta. Exponho minha contrariedade e depois volto a concordar. E volto a discordar. E volto a concordar. E assim continuo. Sou do contra, quase que profissionalmente.
Talvez seja resultado da insegurança, um dos maiores formadores do meu caráter, que fomentou a dúvida constante sobre o que seria o certo ou o errado. Que me faz navegar por e entre os polos do pensamento, que sempre vê o mundo como mais complexo - e difícil - que uma mera decisão entre o "sim" e o "não". Talvez seja uma falta de coragem para enfrentar a perda da escolha - toda escolha requer uma perda, mas também um ganho. Um olhar enviesado que enxerga primeiro as derrotas antes de aceitar as próprias vitórias. Não duvido.
De qualquer forma, essa posição do contra é muito mal vista por quem espera uma opinião fixa sobre assuntos considerados chaves, ou por quem quer que concorde [ou discorde] com ele [a]. É interpretada como indecisão, como fraqueza, como falta de empenho, como um maria-vai-com-as-outras, como uma cópia do Zelig, do Woody Allen. Uns acham que é uma maneira de complicar o que é simples. Outros, de defender o que é indefensável.
Tentando me entender, costumo expor que eu não faço isso por "mal". Seria muito melhor - imagino - ter uma opinião formada sobre tudo. Mas não consigo. "Por outro lado" e "On the other hand" são expressões que eu uso bastante, para dar a noção da situação. Antes de tomar uma decisão, ou emitir um parecer, minha cabeça circula muito, indo e voltando, indo e voltado, diminuindo o tamanho do diâmetro desse círculo para descobrir onde fica o seu centro. Para, talvez, esbarrar nesse lugar gelatinoso e pouco confortável chamado conclusão.
Repare: não é uma dialética, do estilo de haver uma antítese que deve se esbarrar com a tese para formar uma síntese, mas um movimento que circula, que nunca fica parado e que vai de um lado a outro, para, em vez de somar um ao outro, encontrar o ponto médio, a interseção, a sombra entre os opostos.
Ainda defendendo esse meu cacoete, tenho como argumento principal o fato de não haver qualquer valor em absoluto. Temos que a partir das informações dadas no momento saber o que seria melhor ou pior, em determinadas condições. Não quer dizer que não seja impulsivo - até sou em alguns momentos. Mas não tenho nenhum valor que funcione como uma base em que construo as minhas verdades.
Também atrapalha as decisões mais simples o fato de eu gostar muito de ouvir argumentos contraditórios - e me interessar por eles, às vezes em igual intensidade. Fica difícil tomar uma posição quando os dois lados parecem ter razão - e às vezes têm.
Todo mundo tem um caminho para resolver o problema da dúvida. Os historiadores usam do passado para saber como processos semelhantes ocorreram e tentam, a partir daí, tirar algumas conclusões. Os cientistas, de todos os espectros, usam dos seus recursos para chegar a uma decisão baseada na experiência, na matemática, na observação, na probabilidade, em dados, em pesquisas. Administradores, economistas, empresários, gente de Marketing têm como princípio o lucro: uma das alternativas é a melhor quando produziu mais capital que a outra. Os hedonistas querem prazeres - e aí a matemática é a dos afetos. Religiosos "optam" pelo que deus determinou como o certo. Ambientalistas, pelo que aparentemente vai salvar o planeta. Humanistas, o que é melhor para a humanidade. Esquerdistas, o que aumentar a igualdade. Etc. etc. etc..
Eu não vejo isso como possível. Aceitar esses parâmetros é saber o que é melhor ou pior a priori. É ter algo por que me basear, sempre. É ter uma verdade absoluta. Não consigo. Tenho dificuldades de "acreditar" em qualquer que seja a informação. O que torna mais complexo a minha vida já que, para se sobreviver em qualquer sociedade, é necessário um pouco dessa abstração.
Suspeito fortíssimo que uma coisa nem sempre é uma coisa que nem sempre é uma coisa que nem sempre... Na primeira olhada pode ser uma coisa, na segunda pode ser outra, na terceira, uma terceira. O tempo - e o espaço - modifica[m] a coisa e a nossa própria percepção. E a cada olhada, uma nova coisa se apresenta para mim.
Ser do contra para mim é admitir isso: perceber nossa constante imperfeição, nossa incapacidade de ter uma visão do todo - a todo momento. Já que o todo, essa ideia sólida, fixa, presa, não existe.
Talvez seja resultado da insegurança, um dos maiores formadores do meu caráter, que fomentou a dúvida constante sobre o que seria o certo ou o errado. Que me faz navegar por e entre os polos do pensamento, que sempre vê o mundo como mais complexo - e difícil - que uma mera decisão entre o "sim" e o "não". Talvez seja uma falta de coragem para enfrentar a perda da escolha - toda escolha requer uma perda, mas também um ganho. Um olhar enviesado que enxerga primeiro as derrotas antes de aceitar as próprias vitórias. Não duvido.
De qualquer forma, essa posição do contra é muito mal vista por quem espera uma opinião fixa sobre assuntos considerados chaves, ou por quem quer que concorde [ou discorde] com ele [a]. É interpretada como indecisão, como fraqueza, como falta de empenho, como um maria-vai-com-as-outras, como uma cópia do Zelig, do Woody Allen. Uns acham que é uma maneira de complicar o que é simples. Outros, de defender o que é indefensável.
Tentando me entender, costumo expor que eu não faço isso por "mal". Seria muito melhor - imagino - ter uma opinião formada sobre tudo. Mas não consigo. "Por outro lado" e "On the other hand" são expressões que eu uso bastante, para dar a noção da situação. Antes de tomar uma decisão, ou emitir um parecer, minha cabeça circula muito, indo e voltando, indo e voltado, diminuindo o tamanho do diâmetro desse círculo para descobrir onde fica o seu centro. Para, talvez, esbarrar nesse lugar gelatinoso e pouco confortável chamado conclusão.
Repare: não é uma dialética, do estilo de haver uma antítese que deve se esbarrar com a tese para formar uma síntese, mas um movimento que circula, que nunca fica parado e que vai de um lado a outro, para, em vez de somar um ao outro, encontrar o ponto médio, a interseção, a sombra entre os opostos.
Ainda defendendo esse meu cacoete, tenho como argumento principal o fato de não haver qualquer valor em absoluto. Temos que a partir das informações dadas no momento saber o que seria melhor ou pior, em determinadas condições. Não quer dizer que não seja impulsivo - até sou em alguns momentos. Mas não tenho nenhum valor que funcione como uma base em que construo as minhas verdades.
Também atrapalha as decisões mais simples o fato de eu gostar muito de ouvir argumentos contraditórios - e me interessar por eles, às vezes em igual intensidade. Fica difícil tomar uma posição quando os dois lados parecem ter razão - e às vezes têm.
Todo mundo tem um caminho para resolver o problema da dúvida. Os historiadores usam do passado para saber como processos semelhantes ocorreram e tentam, a partir daí, tirar algumas conclusões. Os cientistas, de todos os espectros, usam dos seus recursos para chegar a uma decisão baseada na experiência, na matemática, na observação, na probabilidade, em dados, em pesquisas. Administradores, economistas, empresários, gente de Marketing têm como princípio o lucro: uma das alternativas é a melhor quando produziu mais capital que a outra. Os hedonistas querem prazeres - e aí a matemática é a dos afetos. Religiosos "optam" pelo que deus determinou como o certo. Ambientalistas, pelo que aparentemente vai salvar o planeta. Humanistas, o que é melhor para a humanidade. Esquerdistas, o que aumentar a igualdade. Etc. etc. etc..
Eu não vejo isso como possível. Aceitar esses parâmetros é saber o que é melhor ou pior a priori. É ter algo por que me basear, sempre. É ter uma verdade absoluta. Não consigo. Tenho dificuldades de "acreditar" em qualquer que seja a informação. O que torna mais complexo a minha vida já que, para se sobreviver em qualquer sociedade, é necessário um pouco dessa abstração.
Suspeito fortíssimo que uma coisa nem sempre é uma coisa que nem sempre é uma coisa que nem sempre... Na primeira olhada pode ser uma coisa, na segunda pode ser outra, na terceira, uma terceira. O tempo - e o espaço - modifica[m] a coisa e a nossa própria percepção. E a cada olhada, uma nova coisa se apresenta para mim.
Ser do contra para mim é admitir isso: perceber nossa constante imperfeição, nossa incapacidade de ter uma visão do todo - a todo momento. Já que o todo, essa ideia sólida, fixa, presa, não existe.
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