quarta-feira, 15 de junho de 2005

De meios e fins

Não fui surpreendido em nenhuma oportunidade por "Vera Drake", o novo filme do Mike Leigh (de "Topsy Turvy", que acho acima do bom). Pelo contrário. Ao longo do filme, imaginei várias tramas paralelas que culminariam em mais conflito no final do filme. Mas não. Acontece sempre o óbvio. Quem viu o trailer sabe toda a trama. O que não quer dizer que o filme seja ruim. É alto-nível. A reconstrução de época é perfeita, os diálogos são precisos e variam entre o cotidiano e o prático, as caracterizações das personagens é exótica como preciso para a produção e os atores, de uma maneira geral, TODOS estão muito bem.

(Não sou muito bom em avaliar atores. Costumo julgá-los pela minha total incompetência, ou seja, se eles me chamam a atenção em suas interpretações, há algo errado. Não devem me lembrar que estão fingindo ou algo do gênero. E, a partir desse raciocínio, no filme todos podem ser qualificados de bons. A Imelda Staunton, por exemplo, me convenceu que era realmente uma mulher boa, altruísta, sem ganância. O ruim é que, depois de ser presa, ela cai no dramalhão. Chora copiosamente por horas e quase não pára mais, até o fim da projeção. Como se tivesse desistido e só o choro restasse.)

Enfim, o filme, como um todo, é OK. Nada além nem aquém. O que realmente vale é uma questão, talvez a central do filme: não ter a intenção dos atos serve como atenuante? Ou, em outras palavras, o meio tem alguma importância, quando o fim está feito?

No direito, tem sim. Na matemática, não. Se vc magoa alguém, mesmo que não intencionasse tal ação, a pessoa ferida leva em conta as suas boas vontades? O ditado diz que o inferno está lotado de bons pensamentos que resultaram em catástrofes. E, por outro lado, o sujeito que magoa, pode, ao menos, alegar ingenuidade - já que inocência é impossível - no caso de melindrar alguém sem o propósito disso?

EU creio que os meios são tão importantes quantos os fins. Nada justifica resultados desgraçados. E sim, vejo como algo menor, uma mágoa não intencional, ao comparada à crueldade do planejamento. O problema é que, para o ser atingido, o resultado, independentemente dos meios e inícios que o conjugaram, tem o mesmo fim. Além de ser impossível voltar atrás da calamidade já feita.

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