sábado, 13 de agosto de 2011

Panic on the streets of London

"These are not hunger or bread riots. These are riots of defective and disqualified consumers." Assim começa Zygmunt Bauman o seu texto sobre as manifestações em Londres [fiquei um tempo pensando em como chamar essa série de atos violentos na capital inglesa e achei que manifestações podem abarcar uma série de significados em acordo com o que eu imagino].

Bauman - que dispensa apresentações - acredita que esse movimento foi tocado por pessoas alijadas do consumo, esse grande deus contemporâneo, que querem, de alguma maneira, ter acesso a ele. O consumo, por sua vez, seria um dos nomes atuais da felicidade. O mais falado. Ou o único falado. O acesso ao consumo, portanto, seria o acesso à felicidade. [Um dia vou escrever só sobre o que é a "felicidade", essa palavra que, junto com outras tantas, é supervalorizada.]

Fiquei alguns dias pensando se deveria escrever sobre esses riots em Londres ["riots" também é uma ótima palavra, mas, no caso, sem tradução exata]. Tenho lido tudo o que eu encontro sobre o assunto e imaginei que não poderia dar uma contribuição para a situação. Foi então, que, a partir de uma entrevista do filósofo polonês radicado na Inglaterra [por que insistem em chamá-lo de sociólogo?] n'"O Globo", que eu resolvi palpitar. Não pela entrevista em si, mas porque, após ele afirmar em alto e bom som que os problemas seriam causados por quem está distante do consumo que querem, de alguma maneira, ter acesso a ele, ou seja, repetindo os seus argumentos, ao lado há um artigo falando sobre como os ingleses tratam os seus conflitos étnicos. E na outra página, sobre como a Europa passa por um momento de depressão econômica. Três explicações para o mesmo problema.

Não sei se esse é o primeiro caso, mas para mim, é nitidamente um levante em que não há uma única causa, mas várias. É claro que você pode juntar todos os motivos acima naquela famosa frase "It's the economy, stupid", que um assessor do Clinton disse para justificar a vitória do democrata contra o Bush pai. Mas generalizar assim o processo é perder uma ótima oportunidade para se entender o caso e, por consequência, o nosso momento histórico.

As manifestações tiveram início - todo mundo sabe - com a morte pela polícia de um homem negro, pobre, de 29 anos, pai de quatro filhos, morador da periferia. Os seus vizinhos foram reclamar na delegacia, mas não foram atendidos. Após horas de negação, se revoltaram e tacaram fogo no que encontraram. Em seguida, as forças do Estado não encararam esse movimento como algo de proporções consideráveis e as manifestações cresceram. Cresceram porque outras pessoas queriam protestar contra as discriminações contra negros, contra imigrantes da Índia e adjacências, contra os cortes dos investimentos sociais nas áreas mais pobres, porque o aperto econômico não dá sinais de fim, porque queria uma nova televisão de LCD.

O que é mais importante entre todos esse fatores? O que deveria ser visto como a grande causa dos riots? O que combater primeiro? Como combater? Não sei. Mas em vez de achar que é o fim do mundo, as pessoas deveriam achar que essa é a uma ótima oportunidade para se pensar os problemas da sociedade inglesa. Perceber que há discriminação contra negros e indianos, e entre eles dois, que as classes mais pobres vão ficar ainda mais pobres, e que esse ideal de felicidade baseada apenas no novo iPhone é um problema de inclusão não mais social, mas econômica. Como sempre ouço de um amigo que fez mestrado em sociologia, as ciências humanas são sempre multifatoriais.

ps. o primeiro-ministro britânico dizendo que tem nojo dessas revoltas é de fazer o Cabral, o governador, corar.

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