Pequenos textos:
Vidas Secas, o livro.
Apesar de não gostar nenhum pouco do tema, ou da ambiência dessa novela – uma família que foge da seca nordestina –, essa obra-prima me conquistou exatamente nas primeiras frases. Aliás, que frases. O grande trunfo de Graciliano Ramos – creio que deva se repetir em outras de suas criações – é o seu estilo, rebuscado, por utilizar palavras bem pouco usuais (e nessa obra ele tinha todas as desculpas, já que necessitava retratar a linguagem dos retirantes), mas sem nunca perder a clareza, ou parecer pedante. É sempre elegante, abusa de frases curtas, de efeito, transparentes. Até o que achei que iria me incomodar – o assunto monótono, diálogos em outro dialeto – ele tira de letra, fazendo o primeiro dos capítulos com a chegada numa fazenda que eles estarão presos até a próxima grande estiagem. Cria um protagonista, Fabiano, um excelente bicho-do-mato, quase mudo e que pensa demais. Espetacular. E, talvez a melhor cena que já li de alguém morrendo, quilômetros distantes da pieguice, com Baleia, a cadela mais conhecida da literatura brasileira. Eu lia e meus olhos se arregalavam impressionados. Terminei esse capítulo e tive que lavar o meu rosto para poder continuar.
Moça com Brinco de Pérola
A primeira cena desse filme é tão inusitada e tão bela e tão comum que fiquei boquiaberto, literalmente. Não é nada demais, como vocês poderão (ou puderam) perceber. A personagem principal corta alguns legumes com uma faca bastante afiada. Só que os legumes estão tão coloridos, tão vivos, tão perfeitamente táteis, que dá quase uma água na boca. Seria clichê dizer que parecia um quadro de natureza morta, mas já disse. O ritmo do filme é histérico (ao seu modo) até a metade, até se apresentar o primeiro grande impasse na trama. Até ali, apesar de ser um filme de narrativa lenta, estava emocionado a cada detalhe de tela que aparecia. Tudo era muito bonito, bem feito. Estávamos numa Holanda do século XVII, sem sombra de dúvida. Apresentam o primeiro plot e o ritmo decai vertiginosamente. Poucas coisas de importância acontecem até quase o outro plot. Exemplar de enchimento de lingüiça mor é a implicância da filha (Cornelia, por Alakina Mann) do pintor (Johannes Vermerr, por Colin Firth) com a empregada (Griet, por Scarlett Johansson). Principalmente pelo fato de toda a história ter sido inventada. Ninguém sabe quem é aquela que aparece no quadro homônimo do filme, e pouquíssimo se sabe sobre a vida de Vermerr. Tirando esses pequenos entraves, é um filmão. De poucas e quase desnecessárias falas, com climas muito bem construídos, é um dos melhores no gênero filme sobre artista. Dapieve escreveu uma coluna inteira sobre os olhares trocados entre Vermerr e Griet, para você ter uma idéia de como a coisa é construída.
Ah, tudo o que se referiu ao namoradinho de Griet (Pieter, por Cillian Murphy), mas tudo mesmo é ridículo. Ignore.
Tony Ramos
O meu novo emprego me fez ter contato com a carreira desse ator, ao preparar um especial sobre seus 40 anos de carreira. Confesso que sempre nutri um preconceito sobre ele. Me parecia paulista demais, ator de tv demais, arrumadinho demais. Tudo nele me lembrava a perfeição de novela, com a realidade passando do outro lado da rua, bem longe dele. Mas, agora, depois de uma overdose de Tony Ramos, esse meu conceito mudou. Ele, agora, continua me parece um sujeito boa-praça, e isso não vai mudar. Ele é um ator que gosta da TV, e isso também não cambiará. É paulista, tem sotaque, é inegável. Mas é incrivelmente humano. Vi uma matéria para lá de ruim, piegas até a espinha central, de aniversário do Flávio Silvino, aquele que era gatinho, sofreu um acidente de carro e ficou completamente adonai. Tony Ramos é convidado para entregar um bolo de aniversário para Silvino e – realmente – parece com vontade de fazer isso. Fiquei teorizando sobre isso. Devem ter convidado uma porrada de atores e só ele aceitou pagar esse mico. E aceitou com vontade. Sincero. Virei fã do homem Tony Ramos. Do ator, ainda não. Só depois de ver – se eu conseguir – “Novas diretrizes em tempo de paz”.
terça-feira, 29 de junho de 2004
segunda-feira, 28 de junho de 2004
Bush, os americanos e a guerra no Iraque.
Gerardo, grande amigo meu, me disse em tom sarcástico que estava torcendo para Bush nas próximas eleições nacionais americanas. Sua argumentação era o simples “quanto pior para eles, melhor para nós”. Bush claramente é a pior opção para os americanos, e não precisa ser um cientista político para enxergar isso. Por isso, um governo de oito anos nas mãos desse sujeito, que aparece de vez em quando com arranhões no rosto e alega que apenas engasgou com um pretzel e caiu no chão – e todo mundo acredita –, seria a melhor forma de humilhar a nação mais prepotente e armamentista do Globo na atualidade.
O que ele diz em tom de piada é muitas vezes defendido com veemência por uma maioria “formadora de opinião” – seja lá o que isso queira dizer hoje em dia. Há uma insatisfação generalizada por parte de uma classe média que pensa e que ainda está fincada na era do capitalismo versus socialismo, ou o bem contra o mal, como queiram chamar. Eu até entendo esse ponto-de-vista, não é nada fácil gostar do tio Sam, mas essa idéia não me apetece de maneira nenhuma. (E olha que eu tenho alguns motivos para querer que os states se explodam – literalmente).
Hoje recebi a informação de que meu cunhado, namorado de longa data de minha irmã mais velha, a que mora nos estados unidos há sete anos, ele americano, eleitor do Bush nas últimas eleições, defensor da democracia americana, republicano de carteirinha, mas super, super gente-fina, vai ser enviado para o Iraque.
Ele é um dos reservistas americanos e, agora, depois de muita apreensão, ansiedade, reza por parte daqueles que acreditam, e a um ano de sua aposentadoria das forças armadas americanas, ele irá cumprir o papel que lhe cabe na democratização do Estado iraquiano.
Já ouço e vejo alguns dizerem: “bem feito, quem mandou votar no homem”. Mas eu não posso pensar assim, tão simplesmente, tão singelamente. Não devo acreditar numa vida de mão dupla, apenas. Onde um olho valha outro olho e somente outro olho, e não possa ser substituído por nenhum outro tipo de valor. Principalmente quando a mulher que ficará em casa chorando e apreensiva pela volta do soldado será a minha irmã. E principalmente quando a única pessoa mais familiar que ela tem lá é ele.
E até por ele. Ele, em diversos momentos, demonstrou ser uma pessoa de caráter irrepreensível. Me ajudou em todas as oportunidades que pôde, e era absurdamente carinhoso com minha irmã. Quando soube que consegui esse estágio mequetrefe na qual vos escrevo, fez questão de me ligar para me parabenizar.
Por isso, e somente por isso, não preciso de mais nenhum outro argumento, quero que o Bush – nem ninguém que represente essa sua doutrina de linha ortodoxa, cristã, direitista - nunca mais assuma nenhum cargo público de qualquer natureza. Quero que ele se aposente e seja lembrado como um exemplo. Exemplo de política que nunca mais deve ser seguida, em momento algum, e por nenhum motivo.
Gerardo, grande amigo meu, me disse em tom sarcástico que estava torcendo para Bush nas próximas eleições nacionais americanas. Sua argumentação era o simples “quanto pior para eles, melhor para nós”. Bush claramente é a pior opção para os americanos, e não precisa ser um cientista político para enxergar isso. Por isso, um governo de oito anos nas mãos desse sujeito, que aparece de vez em quando com arranhões no rosto e alega que apenas engasgou com um pretzel e caiu no chão – e todo mundo acredita –, seria a melhor forma de humilhar a nação mais prepotente e armamentista do Globo na atualidade.
O que ele diz em tom de piada é muitas vezes defendido com veemência por uma maioria “formadora de opinião” – seja lá o que isso queira dizer hoje em dia. Há uma insatisfação generalizada por parte de uma classe média que pensa e que ainda está fincada na era do capitalismo versus socialismo, ou o bem contra o mal, como queiram chamar. Eu até entendo esse ponto-de-vista, não é nada fácil gostar do tio Sam, mas essa idéia não me apetece de maneira nenhuma. (E olha que eu tenho alguns motivos para querer que os states se explodam – literalmente).
Hoje recebi a informação de que meu cunhado, namorado de longa data de minha irmã mais velha, a que mora nos estados unidos há sete anos, ele americano, eleitor do Bush nas últimas eleições, defensor da democracia americana, republicano de carteirinha, mas super, super gente-fina, vai ser enviado para o Iraque.
Ele é um dos reservistas americanos e, agora, depois de muita apreensão, ansiedade, reza por parte daqueles que acreditam, e a um ano de sua aposentadoria das forças armadas americanas, ele irá cumprir o papel que lhe cabe na democratização do Estado iraquiano.
Já ouço e vejo alguns dizerem: “bem feito, quem mandou votar no homem”. Mas eu não posso pensar assim, tão simplesmente, tão singelamente. Não devo acreditar numa vida de mão dupla, apenas. Onde um olho valha outro olho e somente outro olho, e não possa ser substituído por nenhum outro tipo de valor. Principalmente quando a mulher que ficará em casa chorando e apreensiva pela volta do soldado será a minha irmã. E principalmente quando a única pessoa mais familiar que ela tem lá é ele.
E até por ele. Ele, em diversos momentos, demonstrou ser uma pessoa de caráter irrepreensível. Me ajudou em todas as oportunidades que pôde, e era absurdamente carinhoso com minha irmã. Quando soube que consegui esse estágio mequetrefe na qual vos escrevo, fez questão de me ligar para me parabenizar.
Por isso, e somente por isso, não preciso de mais nenhum outro argumento, quero que o Bush – nem ninguém que represente essa sua doutrina de linha ortodoxa, cristã, direitista - nunca mais assuma nenhum cargo público de qualquer natureza. Quero que ele se aposente e seja lembrado como um exemplo. Exemplo de política que nunca mais deve ser seguida, em momento algum, e por nenhum motivo.
sexta-feira, 25 de junho de 2004
A crônica esportiva na era da tecnologia
(não, esse título não se refere a nenhuma monografia)
Estava on-line ontem com meu amigo Torcedor do Campo Grande, e na tela da TV passava o jogo pelas quartas-de-final da Eurocopa 2004: Portugal x Inglaterra. Para mim, nenhum atrativo. Mesmo que no banco português estivesse sentado o - provável - maior responsável pela nossa vitória na copa de 2002. Continuei fazendo o que fazia, ou seja, quase nada. A Inglaterra vencia, um a zero, desde os três minutos do primeiro tempo, logo nada que fosse exatamente uma assombração.
O que saiu do planejado foi o gol português aos 38 do segundo tempo. Estava no meu trabalho, televisão ligada, e nesse momento, as cadeiras da redação ficaram vazias porque todo mundo se levantou e ficou de frente para a tv. Eu não tinha mais o porquê de disfarçar com pudores, poderia simplesmente apoiar-me numa divisória e assistir tranqüilamente ao final do jogo. Do jeito que Portugal estava pressionando, não era difícil conseguir fazer um gol ainda no tempo regulamentar.
Nesse momento escrevi uma mensagem instantânea para o Campusca perguntando-lhe se havia reparado que Portugal havia feito o gol aos 38. E nada de resposta. O segundo tempo acabou e só então - já quase na prorrogação - recebo uma resposta dele: "Demorei porque estava, também, assistindo ao jogo". Percebi que o jogo virara uma comoção nacional aqui também.
Todo mundo torcia descaradamente por Portugal. A cada imagem de Luiz Felipe Scolari no banco de reservas português era correspondido por um grito de incentivo do sujeito ao meu lado, e de outro no outro lado do ICQ.
Começa a prorrogação, o Campusca se despede e avisa que verá o jogo levantado porque não consegue se conter. E nesse tempo de acréscimo só deu Portugal. Digitei para o meu camarada: "Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, ê-ô, ê-ô, ê-ô, Portuga...". Só Portugal pressionava, e pude escutar do sujeito atrás de mim: "Esse jogo tá com cara que, num contra-ataque, a Inglaterra irá fazer um gol", "Vira essa boca para lá", respondi-lhe rispidamente, sem nunca ter trocado um olá com ele. Coisas do futebol.
Acaba o primeiro tempo e o Campusca me responde: "Cara, esse jogo tá foda". E estava mesmo. O segundo tempo começa da mesma forma que o primeiro terminou, Portugal atacando e o "English Team" se defendendo. Até que Portugal faz um gol, no meio do segundo tempo da prorrogação. "Portugal, Portugal, Portugal", escrevia-gritava eu.
As regras novas sobre o gol de ouro dizem que o time deve manter o placar na vantagem até o final do tempo em que está jogando a prorrogação. E, logo após ter passado mais de 90 minutos somente se defendendo, como que por acaso, a Inglaterra começa a atacar.
Cinco minutos para acabar a prorrogação, eu já comemorando Portugal na semifinal, três minutos para terminar e a Inglaterra faz o gol de empate. Agora, só restavam os pênaltis.
A tv mostra novamente Felipão e eu sinto uma ponta de inveja do time deles por estar sendo treinado por um sujeito tão humano, explosivo, conhecedor da arte futebolística, turrão e, acima de tudo, sortudo. Não tinha como não estar torcendo para o time do Scolari.
O time da Inglaterra coloca o seu mais caro craque para bater o primeiro penalti, David Beckham. Antes dele colocar a bola na marca, a tv mostra Eusébio, craque moçambicano que jogou a copa de 66, em Portugal, pelo time da casa. Escrevi: "Eusébio parece, já ganhamos". E o sir Victoria Spice Girl perdeu o penalti. Comoção em todos os lugares. Meu vizinho de baia comenta: "pior que o Baggio em 94". E foi realmente.
Agora, já tínhamos a vantagem, bastava administrar a vantagem para que vencêssemos. Mas, não poderia ser, assim, tão simples. Rui Costa, o craque do time, que havia feito o gol da prorrogação, me perde o seu penalti. "Filho-da-puta, corno e safado", escrevi para o Campusca.
Já não tínhamos mais vantagem nenhuma, começa a cobrança dos extras. Aparece novamente Eusébio na Tv, "Eusébio novamente, já ganhamos", escrevo, aparece o goleiro de Portugal, sem as luvas, (o Campusca me contou depois: "Nunca vi isso na minha vida, um goleiro tirar as luvas"). Vassel, o inglês, bate bem, colocado, forte e no canto esquerdo do gol, mas o goleiro Ricardo (descubro seu nome depois) está lá para rebater. "Portugal, PORTUGAL".
Basta que quem quer que seja confirme o gol. Ao meu lado, várias pessoas paradas, apreensivas, loucas para saber quem é que irá cobrar o pênalti. Penso: "não deve ser assim, tão difícil, fazer um gol de pênalti". Mas naquela hora, daquele jeito, já duvidava de qualquer coisa. E Ricardo, o homem do jogo àquele momento, é escalado para bater a última e decisiva penalidade. Sem luvas, camisa de goleiro, mãos na cintura. É autorizado, aproxima-se da bola e estufa a rede. "PORTUGAL ESTÁ NAS SEMIFINAIS", estampo para o Campusca.
Novamente a tv mostra Felipão: está com as bandeiras do Brasil e de Portugal. Sinto novamente a inveja dos portugueses. Felipão havia prometido a semi-final. Conseguiu. Agora só pára, se parar, na final. Que venham os franceses.
(não, esse título não se refere a nenhuma monografia)
Estava on-line ontem com meu amigo Torcedor do Campo Grande, e na tela da TV passava o jogo pelas quartas-de-final da Eurocopa 2004: Portugal x Inglaterra. Para mim, nenhum atrativo. Mesmo que no banco português estivesse sentado o - provável - maior responsável pela nossa vitória na copa de 2002. Continuei fazendo o que fazia, ou seja, quase nada. A Inglaterra vencia, um a zero, desde os três minutos do primeiro tempo, logo nada que fosse exatamente uma assombração.
O que saiu do planejado foi o gol português aos 38 do segundo tempo. Estava no meu trabalho, televisão ligada, e nesse momento, as cadeiras da redação ficaram vazias porque todo mundo se levantou e ficou de frente para a tv. Eu não tinha mais o porquê de disfarçar com pudores, poderia simplesmente apoiar-me numa divisória e assistir tranqüilamente ao final do jogo. Do jeito que Portugal estava pressionando, não era difícil conseguir fazer um gol ainda no tempo regulamentar.
Nesse momento escrevi uma mensagem instantânea para o Campusca perguntando-lhe se havia reparado que Portugal havia feito o gol aos 38. E nada de resposta. O segundo tempo acabou e só então - já quase na prorrogação - recebo uma resposta dele: "Demorei porque estava, também, assistindo ao jogo". Percebi que o jogo virara uma comoção nacional aqui também.
Todo mundo torcia descaradamente por Portugal. A cada imagem de Luiz Felipe Scolari no banco de reservas português era correspondido por um grito de incentivo do sujeito ao meu lado, e de outro no outro lado do ICQ.
Começa a prorrogação, o Campusca se despede e avisa que verá o jogo levantado porque não consegue se conter. E nesse tempo de acréscimo só deu Portugal. Digitei para o meu camarada: "Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, ê-ô, ê-ô, ê-ô, Portuga...". Só Portugal pressionava, e pude escutar do sujeito atrás de mim: "Esse jogo tá com cara que, num contra-ataque, a Inglaterra irá fazer um gol", "Vira essa boca para lá", respondi-lhe rispidamente, sem nunca ter trocado um olá com ele. Coisas do futebol.
Acaba o primeiro tempo e o Campusca me responde: "Cara, esse jogo tá foda". E estava mesmo. O segundo tempo começa da mesma forma que o primeiro terminou, Portugal atacando e o "English Team" se defendendo. Até que Portugal faz um gol, no meio do segundo tempo da prorrogação. "Portugal, Portugal, Portugal", escrevia-gritava eu.
As regras novas sobre o gol de ouro dizem que o time deve manter o placar na vantagem até o final do tempo em que está jogando a prorrogação. E, logo após ter passado mais de 90 minutos somente se defendendo, como que por acaso, a Inglaterra começa a atacar.
Cinco minutos para acabar a prorrogação, eu já comemorando Portugal na semifinal, três minutos para terminar e a Inglaterra faz o gol de empate. Agora, só restavam os pênaltis.
A tv mostra novamente Felipão e eu sinto uma ponta de inveja do time deles por estar sendo treinado por um sujeito tão humano, explosivo, conhecedor da arte futebolística, turrão e, acima de tudo, sortudo. Não tinha como não estar torcendo para o time do Scolari.
O time da Inglaterra coloca o seu mais caro craque para bater o primeiro penalti, David Beckham. Antes dele colocar a bola na marca, a tv mostra Eusébio, craque moçambicano que jogou a copa de 66, em Portugal, pelo time da casa. Escrevi: "Eusébio parece, já ganhamos". E o sir Victoria Spice Girl perdeu o penalti. Comoção em todos os lugares. Meu vizinho de baia comenta: "pior que o Baggio em 94". E foi realmente.
Agora, já tínhamos a vantagem, bastava administrar a vantagem para que vencêssemos. Mas, não poderia ser, assim, tão simples. Rui Costa, o craque do time, que havia feito o gol da prorrogação, me perde o seu penalti. "Filho-da-puta, corno e safado", escrevi para o Campusca.
Já não tínhamos mais vantagem nenhuma, começa a cobrança dos extras. Aparece novamente Eusébio na Tv, "Eusébio novamente, já ganhamos", escrevo, aparece o goleiro de Portugal, sem as luvas, (o Campusca me contou depois: "Nunca vi isso na minha vida, um goleiro tirar as luvas"). Vassel, o inglês, bate bem, colocado, forte e no canto esquerdo do gol, mas o goleiro Ricardo (descubro seu nome depois) está lá para rebater. "Portugal, PORTUGAL".
Basta que quem quer que seja confirme o gol. Ao meu lado, várias pessoas paradas, apreensivas, loucas para saber quem é que irá cobrar o pênalti. Penso: "não deve ser assim, tão difícil, fazer um gol de pênalti". Mas naquela hora, daquele jeito, já duvidava de qualquer coisa. E Ricardo, o homem do jogo àquele momento, é escalado para bater a última e decisiva penalidade. Sem luvas, camisa de goleiro, mãos na cintura. É autorizado, aproxima-se da bola e estufa a rede. "PORTUGAL ESTÁ NAS SEMIFINAIS", estampo para o Campusca.
Novamente a tv mostra Felipão: está com as bandeiras do Brasil e de Portugal. Sinto novamente a inveja dos portugueses. Felipão havia prometido a semi-final. Conseguiu. Agora só pára, se parar, na final. Que venham os franceses.
quinta-feira, 24 de junho de 2004
Autores-críticos
Do pouco que atento para a crítica, tanto literária, quanto a cinematográfica, ou de qualquer outra estirpe, pude perceber que alguns dos clichês mais badalados não existem na realidade. O crítico não é um sujeito frustrado porque não conseguiu trabalhar com aquilo que ele agora fala mal. Nem sempre, ao menos. Normalmente é o homem que gosta tanto do que lhe é apresentado para “provar” que não conseguiu começar a produzir pares. Não diria que gosta mais ou menos que os próprios autores, mas é comum encontrar críticos com maior e mais vasta cultura sobre o seu objeto de estudo que os próprios criadores de obras. O problema vem da idéia de que alguns são, ao mesmo tempo, críticos e autores, e nessas horas, há a possibilidade de se misturar um lado com o outro.
Não, não sugiro (nem quero) que haja no mundo uma espécie de “distanciamento jornalístico”, ou “visão antropológica”, ou “posicionamento objetivo”. Se há dois pontos-de-vista sobre a mesma obra, a objetividade já é contestável.
O que eu digo é que algumas das críticas feitas por autores impregnam-se de suas próprias obras. Como se elas fossem os centros onde as outras criações gravitassem em volta. Dizendo assim parece até algo cruel, ou pelo egoísta e bastante umbilical. Não, é bem mais simples. Se o crítico-autor acha que aquilo que ele escreve reflete bem o que ele acredita, normalmente ele estará ligado fortemente com as suas raízes. Assim, tudo o que se distanciar desse universo, será visto como estranho. E como Borges já bem disse, “gostar é reconhecer”.
Com exemplos. O sujeito é grande fã de Dostoievski. E toda a sua obra é inspirada nos clássicos do famoso russo. Os personagens são emotivos, fortes, impulsivos, com características marcantes, as cenas são imprevisíveis e não saem de sua memória, as idéias são grandiosas, imensas, movem mundos. Sua própria obra terá algo disso dentro. Ou, o autor-crítico considerará como bom àqueles que apresentarem essas características.
Quem escrever concisamente, ou por meio de parábolas, onde o que ele quer dizer nunca está escrito, numa linguagem quase cifrada, com personagens fatalistas, pessimistas, como em Kafka, será considerado ruim.
Claro que esses exemplos são apenas demonstrativos e absurdamente exagerados. Não creio que alguém teria condição de não gostar de Kafka – só se não o entender; o que, aliás, é até fácil, considerando os nossos companheiros de jornada.
O bom crítico-autor seria aquele que colocasse o seu centro de análise para longe das suas próprias obras, de duas raízes, de suas influências. Analisasse as suas cobaias independentes do mundo que as roda, sozinhas, isoladas no mundo. Tendo em mente onde elas querem chegar e se conseguiram passar todas as informações desejadas na primeira leitura – ou se esconderam detalhes para uma segunda, mais cuidadosa. Ou o autor quis que sua cria fosse algo dissecado aos poucos, com cada leitura, uma casca saísse e você pudesse enxergar mais profundamente.
O autor-crítico deve encarar a obra como um esfomeado encara um prato de comida, sem concessões. Sem pré-julgamentos, ou conceitos estabelecidos. Como se o mundo inteiro não existisse e só apenas aquela pequena obra fosse o caminho conhecido.
Do pouco que atento para a crítica, tanto literária, quanto a cinematográfica, ou de qualquer outra estirpe, pude perceber que alguns dos clichês mais badalados não existem na realidade. O crítico não é um sujeito frustrado porque não conseguiu trabalhar com aquilo que ele agora fala mal. Nem sempre, ao menos. Normalmente é o homem que gosta tanto do que lhe é apresentado para “provar” que não conseguiu começar a produzir pares. Não diria que gosta mais ou menos que os próprios autores, mas é comum encontrar críticos com maior e mais vasta cultura sobre o seu objeto de estudo que os próprios criadores de obras. O problema vem da idéia de que alguns são, ao mesmo tempo, críticos e autores, e nessas horas, há a possibilidade de se misturar um lado com o outro.
Não, não sugiro (nem quero) que haja no mundo uma espécie de “distanciamento jornalístico”, ou “visão antropológica”, ou “posicionamento objetivo”. Se há dois pontos-de-vista sobre a mesma obra, a objetividade já é contestável.
O que eu digo é que algumas das críticas feitas por autores impregnam-se de suas próprias obras. Como se elas fossem os centros onde as outras criações gravitassem em volta. Dizendo assim parece até algo cruel, ou pelo egoísta e bastante umbilical. Não, é bem mais simples. Se o crítico-autor acha que aquilo que ele escreve reflete bem o que ele acredita, normalmente ele estará ligado fortemente com as suas raízes. Assim, tudo o que se distanciar desse universo, será visto como estranho. E como Borges já bem disse, “gostar é reconhecer”.
Com exemplos. O sujeito é grande fã de Dostoievski. E toda a sua obra é inspirada nos clássicos do famoso russo. Os personagens são emotivos, fortes, impulsivos, com características marcantes, as cenas são imprevisíveis e não saem de sua memória, as idéias são grandiosas, imensas, movem mundos. Sua própria obra terá algo disso dentro. Ou, o autor-crítico considerará como bom àqueles que apresentarem essas características.
Quem escrever concisamente, ou por meio de parábolas, onde o que ele quer dizer nunca está escrito, numa linguagem quase cifrada, com personagens fatalistas, pessimistas, como em Kafka, será considerado ruim.
Claro que esses exemplos são apenas demonstrativos e absurdamente exagerados. Não creio que alguém teria condição de não gostar de Kafka – só se não o entender; o que, aliás, é até fácil, considerando os nossos companheiros de jornada.
O bom crítico-autor seria aquele que colocasse o seu centro de análise para longe das suas próprias obras, de duas raízes, de suas influências. Analisasse as suas cobaias independentes do mundo que as roda, sozinhas, isoladas no mundo. Tendo em mente onde elas querem chegar e se conseguiram passar todas as informações desejadas na primeira leitura – ou se esconderam detalhes para uma segunda, mais cuidadosa. Ou o autor quis que sua cria fosse algo dissecado aos poucos, com cada leitura, uma casca saísse e você pudesse enxergar mais profundamente.
O autor-crítico deve encarar a obra como um esfomeado encara um prato de comida, sem concessões. Sem pré-julgamentos, ou conceitos estabelecidos. Como se o mundo inteiro não existisse e só apenas aquela pequena obra fosse o caminho conhecido.
De volta à labuta
Sinto-me como um personagem arquétipo, ou clichê, nesses dias. É como se eu tivesse sido presentiado por alguém com um emprego (e foi mais ou menos isso realmente).
Como se eu tivesse, por anos da minha vida, me tornado dependente de alguns desses dramas modernos (virado alcoólatra, junkie ou caído em depressão) e agora, resgatado para o mundo dos "vivos" novamente.
Como se alguém tivesse dito para quem me contratou algo assim: "olha, dê um trabalho para ele, dê uma segunda chance para o sujeito, ele não fará mais mal a ninguém". E esse sujeito, no misto de pena com orgulho pessoal (já que estaria fazendo bem a um ser necessitado), me concederia a vaga, com o conselho (para mim, se for num filme onde este personagem é cruel; para quem pediu a vaga para mim, se a obra retratar um chefe mais brando) de que não toleraria novas escorregadas. Se me encontrasse no banheiro, cheirando uma carreira, se sentisse o cheiro de uísque barato em mim, se eu faltasse sem argumentação, só porque não tive forças para ir, ele não poderia fazer nada além de me demitir.
Quem interviu por mim - e sempre há alguém nesses casos, mesmo se for de longe, mesmo se só me incentivou a procurar um sentido no caos diário e cotidiano - estaria sempre em contato para perguntar como foi o meu dia, "conte novidades"...
E eu, por meu lado, estou na fase onde me sinto (pelo menos um pouco) útil, para quem, ou o que, quer que seja. E só isso me bastaria agora. Estar vivo e continuar a fazer qualquer coisa, ocupar o meu tempo com algo classificado como "produtivo", fornecer a possibilidade de orgulho para o meu - como o chamarei - "tutor", só essas coisas que todos passam por cima diariamente, já me dão uma felicidade que não sentia há anos.
Ontem, ao menos, tive que segurar as minhas palavras porque qualquer coisa que eu dissesse seria boba, banhada na imensa alegria que me tomava. (Nesses estados, qualquer frase imbecil faz sentido, e todas as piadas são engraçadas, para nós mesmos.)
Daqui para a frente, caminhos diferentes são postos para o mesmo personagem a partir daqui. Ou ele continua, e daqui a quarenta anos, pode se orgulhar de ter voltado a "viver", com todo o apoio de seu chefe e de seu tutor, com uma "casa no campo, cachorro labrador e uma bermuda branca de prega"; Desiste, depois dessa nova tentativa de se integrar aos "vivos", porque descobre que esse não é exatamente feito para ele; Ou percebe que tudo não é nada além de percalços comuns a todos que, de um jeito ou outro, por mais ou menos tempo, passam e que tendem apenas a demonstrar como essa bola planetária gira, gira, gira e é exatamente igual e a mesma para todo mundo.
Sinto-me como um personagem arquétipo, ou clichê, nesses dias. É como se eu tivesse sido presentiado por alguém com um emprego (e foi mais ou menos isso realmente).
Como se eu tivesse, por anos da minha vida, me tornado dependente de alguns desses dramas modernos (virado alcoólatra, junkie ou caído em depressão) e agora, resgatado para o mundo dos "vivos" novamente.
Como se alguém tivesse dito para quem me contratou algo assim: "olha, dê um trabalho para ele, dê uma segunda chance para o sujeito, ele não fará mais mal a ninguém". E esse sujeito, no misto de pena com orgulho pessoal (já que estaria fazendo bem a um ser necessitado), me concederia a vaga, com o conselho (para mim, se for num filme onde este personagem é cruel; para quem pediu a vaga para mim, se a obra retratar um chefe mais brando) de que não toleraria novas escorregadas. Se me encontrasse no banheiro, cheirando uma carreira, se sentisse o cheiro de uísque barato em mim, se eu faltasse sem argumentação, só porque não tive forças para ir, ele não poderia fazer nada além de me demitir.
Quem interviu por mim - e sempre há alguém nesses casos, mesmo se for de longe, mesmo se só me incentivou a procurar um sentido no caos diário e cotidiano - estaria sempre em contato para perguntar como foi o meu dia, "conte novidades"...
E eu, por meu lado, estou na fase onde me sinto (pelo menos um pouco) útil, para quem, ou o que, quer que seja. E só isso me bastaria agora. Estar vivo e continuar a fazer qualquer coisa, ocupar o meu tempo com algo classificado como "produtivo", fornecer a possibilidade de orgulho para o meu - como o chamarei - "tutor", só essas coisas que todos passam por cima diariamente, já me dão uma felicidade que não sentia há anos.
Ontem, ao menos, tive que segurar as minhas palavras porque qualquer coisa que eu dissesse seria boba, banhada na imensa alegria que me tomava. (Nesses estados, qualquer frase imbecil faz sentido, e todas as piadas são engraçadas, para nós mesmos.)
Daqui para a frente, caminhos diferentes são postos para o mesmo personagem a partir daqui. Ou ele continua, e daqui a quarenta anos, pode se orgulhar de ter voltado a "viver", com todo o apoio de seu chefe e de seu tutor, com uma "casa no campo, cachorro labrador e uma bermuda branca de prega"; Desiste, depois dessa nova tentativa de se integrar aos "vivos", porque descobre que esse não é exatamente feito para ele; Ou percebe que tudo não é nada além de percalços comuns a todos que, de um jeito ou outro, por mais ou menos tempo, passam e que tendem apenas a demonstrar como essa bola planetária gira, gira, gira e é exatamente igual e a mesma para todo mundo.
terça-feira, 22 de junho de 2004
quinta-feira, 17 de junho de 2004
Pseudices.
Li por aí, há anos atrás – se eu não me engano era o Daniel Galera, ou alguém do Col, lá do Rio Grande – a idéia de que precisávamos mais de escritores medianos. Na época, não entendi muito bem exatamente onde ele queria chegar, apesar de entender perfeitamente o seu principal argumento. Sua idéia pairava na atmosfera de que precis(áv)amos aumentar a nossa produção de literatura, já que tínhamos grandes autores, mas não uma massa de escritores, uma indústria onde pessoas podem sobreviver de escrever livros e gêneros relacionados.
Pois bem, ainda não temos uma “massa de escritores”, mas com esse negócio chamado Internet, e a necessidade cada vez mais constante de termos que escrever, parece que muita gente se entusiasmou e se sentiu o próprio Gabo. Nada contra, mesmo porque estaria jogando contra mim mesmo, mas, talvez, o maior problema disso, seja uma nova geração de pseudo-intelectuais na acepção original da palavra.
O que isso quer dizer, em termos? Bem, teremos cada vez mais conversas com cara de interessante, e com profundidade de piscina de criança. A Internet me dá outro exemplo (aliá, que bichinho interessante essa tal “rede mundial de computadores”, nome que até parece saído de algum livro do Philip K. Dick). Agora a onda brasileira chama-se Orkut. A segunda maior nacionalidade, nesse programa (?), site (?), comunidade virtual (?) é brasileira. Aliás, descobri dias desses que o Brasil é o terceiro maior internauta do mundo. Atrás dos óbvios americanos e japoneses. Mas enfim, voltemos ao Orkut (trocadilhos liberados). Expliquemos o que é, ou como funciona, o que é melhor até, primeiramente. Você está em casa, navegando, entra no seu email e recebe um convite para participar desse Orkut. Por curiosidade aperta o link e cai dentro da (chamemos assim) comunidade. Dentro, você deve responder a algumas questões simples, como num cadastro para lhe identificarem melhor. Algo como gostos musicais, cor de cabelo, preferências sexuais. E existem fóruns desenvolvidos pelos próprios usuários para se discutir de tudo, desde o Woody Allen, passando pelo Radiohead, até suas preferências sexuais. Aliás, assim como quase tudo o que aparece na Internet, há um forte apelo sexual – muito, mas infinitamente mais próximo do pornô que da sensualidade – no Orkut.
Depois disso, depois de se cadastrar, e escolher as comunidades que você quer fazer parte, você tende a visitar as tais comunidades para saber do que falam, o que discutem. E então, depois dessa introdução enorme, descobre-se a completa falta de assunto que impera. E pseudo-intelectualidade é definitivamente apresentada. Geralmente se a comunidade é de um sujeito – tipo, sei lá, J. L. Borges – as perguntas giram em torno de “qual é o seu conto preferido?”. Ou, o que você menos gostou. E fica nessa masturbação, bilateral, para frente e para trás, apenas. É meio triste perceber que uma ferramenta desse estilo, desse poder está sendo usada apenas com esse intuito primário. Não sou adepto, nem partidário – que isso é coisa de comunista – de um maior engajamento das pessoas no Orkut, pelo contrário. É já meio triste saber que as pessoas – como disse um amigo meu, o Zé – estão conectadas às outras através de fios. Esse meu pensamento talvez seja ainda um resquício romântico e ludista que existe em mim. Talvez isso passe dentre em pouco. O que eu penso – e talvez pudesse pedir – é que, já que essa ferramenta de comunicação e afinidade está ao nosso alcance, que a aproveitemos melhor, aprofundando cada tópico que temos a possibilidade de discutir. Ao invés de “qual é a mais?”, devemos dizer: “por que você considera tal parada a mais?”. No fundo, talvez seja uma questão simples de resolver, apenas mudar de pronome.
Li por aí, há anos atrás – se eu não me engano era o Daniel Galera, ou alguém do Col, lá do Rio Grande – a idéia de que precisávamos mais de escritores medianos. Na época, não entendi muito bem exatamente onde ele queria chegar, apesar de entender perfeitamente o seu principal argumento. Sua idéia pairava na atmosfera de que precis(áv)amos aumentar a nossa produção de literatura, já que tínhamos grandes autores, mas não uma massa de escritores, uma indústria onde pessoas podem sobreviver de escrever livros e gêneros relacionados.
Pois bem, ainda não temos uma “massa de escritores”, mas com esse negócio chamado Internet, e a necessidade cada vez mais constante de termos que escrever, parece que muita gente se entusiasmou e se sentiu o próprio Gabo. Nada contra, mesmo porque estaria jogando contra mim mesmo, mas, talvez, o maior problema disso, seja uma nova geração de pseudo-intelectuais na acepção original da palavra.
O que isso quer dizer, em termos? Bem, teremos cada vez mais conversas com cara de interessante, e com profundidade de piscina de criança. A Internet me dá outro exemplo (aliá, que bichinho interessante essa tal “rede mundial de computadores”, nome que até parece saído de algum livro do Philip K. Dick). Agora a onda brasileira chama-se Orkut. A segunda maior nacionalidade, nesse programa (?), site (?), comunidade virtual (?) é brasileira. Aliás, descobri dias desses que o Brasil é o terceiro maior internauta do mundo. Atrás dos óbvios americanos e japoneses. Mas enfim, voltemos ao Orkut (trocadilhos liberados). Expliquemos o que é, ou como funciona, o que é melhor até, primeiramente. Você está em casa, navegando, entra no seu email e recebe um convite para participar desse Orkut. Por curiosidade aperta o link e cai dentro da (chamemos assim) comunidade. Dentro, você deve responder a algumas questões simples, como num cadastro para lhe identificarem melhor. Algo como gostos musicais, cor de cabelo, preferências sexuais. E existem fóruns desenvolvidos pelos próprios usuários para se discutir de tudo, desde o Woody Allen, passando pelo Radiohead, até suas preferências sexuais. Aliás, assim como quase tudo o que aparece na Internet, há um forte apelo sexual – muito, mas infinitamente mais próximo do pornô que da sensualidade – no Orkut.
Depois disso, depois de se cadastrar, e escolher as comunidades que você quer fazer parte, você tende a visitar as tais comunidades para saber do que falam, o que discutem. E então, depois dessa introdução enorme, descobre-se a completa falta de assunto que impera. E pseudo-intelectualidade é definitivamente apresentada. Geralmente se a comunidade é de um sujeito – tipo, sei lá, J. L. Borges – as perguntas giram em torno de “qual é o seu conto preferido?”. Ou, o que você menos gostou. E fica nessa masturbação, bilateral, para frente e para trás, apenas. É meio triste perceber que uma ferramenta desse estilo, desse poder está sendo usada apenas com esse intuito primário. Não sou adepto, nem partidário – que isso é coisa de comunista – de um maior engajamento das pessoas no Orkut, pelo contrário. É já meio triste saber que as pessoas – como disse um amigo meu, o Zé – estão conectadas às outras através de fios. Esse meu pensamento talvez seja ainda um resquício romântico e ludista que existe em mim. Talvez isso passe dentre em pouco. O que eu penso – e talvez pudesse pedir – é que, já que essa ferramenta de comunicação e afinidade está ao nosso alcance, que a aproveitemos melhor, aprofundando cada tópico que temos a possibilidade de discutir. Ao invés de “qual é a mais?”, devemos dizer: “por que você considera tal parada a mais?”. No fundo, talvez seja uma questão simples de resolver, apenas mudar de pronome.
Exagerado.
Nem tudo no filme "Cazuza" pode ser considerado exagerado, ora. Tirando a fotografia com cores saturadas, câmera que não pára numa só personagem nunca, o som que sempre está congestionado quando no meio de multidões, os atores que estão exageradamente bem, a edição que é frenética, não há nada demais no filme. Nem de menos, pelo contrário.
A opção dos cineastas foi fazer um filme em tópicos, com o ritmo aceleradíssimo no início - lembro que pensei "será que eu vou conseguir acompanhar?" -, mas que vc logo se acostuma, e tentando mostrar um pouco de tudo o que foi a vida desse personagem que já nasceu pronto. Exagerado em tudo.
Cazuza é um prato cheio para qualquer escritor e/ou cineasta. Era impulsivo, emotivo ao extremo, capaz de mudar de humor de uma hora para outra, era poeta, revolucionário nos costumes, contra a "caretice" e morreu jovem. Vê se não existe um arquétipo já montado para isso?
O filme não parece em nada com as (boas) comédias românticas de Sandra Werneck, nem pode ser comparado ao único filme do Walter Carvalho, o doc. "Janela da Alma". Por isso, seria um mix, uma adição, Sandra + Walter = Cazuza, o filme.
E, é válido ressaltar que este, em nenhum momento, subestima a inteligência do espectador. Todas as informações sobre o cantor-compositor-poeta passam sutilmente. Aliás, contrastando em demasia com o exagero geral. Se vc não prestar muita atenção, perde algum detalhe. Saí do filme comentando algumas cenas que tinha mais gostado com o Ruivo, camarada meu, e ele não lembrava de alguma delas.
Uma, por exemplo, em que Daniel de Oliveira incorporou Cazuza, ao cantar em seu último e mais conhecido show, de branco, com a bandana na cabeça, já doente, máscara de oxigênio atrás do palco. Não lembro exatamente qual é a música, acho que é "ideologia", mas pode ser outra, são tantas. Cortam para o público e mostram Marieta Severo - como a Lucinha Araújo - e cortam para o palco, Daniel com todos os trejeitos de Cazuza nessa época, de costas a mesma pessoa, de frente o mesmo rosto, corta para o público, Marieta, ou será que é a própria Lucinha?, Marieta-Lucinha aplaudem, no palco, é o Cazuza, só pode ser ele próprio, público, é a Lucinha, tenho certeza, ela joga uma rosa branca, também aparece Marieta, repete a mesma ação, palco, Cazuza agradece e pega um rosa, público, ambas Lucinhas aplaudem. Fim de cena. Ruivo não lembrava da Lucinha de verdade. Quando contei-lhe, ele pareceu não acreditar. Nesse momento, eu tive a certeza que o filme era bom, acima da média.
Tem bolas fora, tem. Mas se a produção erra, erra por exagerar, por tentar demais acertar, e no caso do Cazuza, especificamente desse moço, sim, exagerar era o certo.
ps. Domingo passado, ouvi de uma senhora que tenho respeito, considero inteligente, culta, que esse filme era apenas a celebração hedonista de um sujeito drogado. Quase falou de apologia às drogas. Fiquei espantado com tamanho conservadorismo na classe-média. Essa que leva o Brasil no colo. Se vissem o filme ouviriam da boca de Daniel-Cazuza que ele é do bem, não faz mal a ninguém. Ou de Zeca-Emílio de Mello que o meio termo é bom, mas exagero é fundamental. E talvez fosse isso exatamente o que faltasse a muita gente da classe-mérdia: exagerar sem fazer mal a ninguém.
Nem tudo no filme "Cazuza" pode ser considerado exagerado, ora. Tirando a fotografia com cores saturadas, câmera que não pára numa só personagem nunca, o som que sempre está congestionado quando no meio de multidões, os atores que estão exageradamente bem, a edição que é frenética, não há nada demais no filme. Nem de menos, pelo contrário.
A opção dos cineastas foi fazer um filme em tópicos, com o ritmo aceleradíssimo no início - lembro que pensei "será que eu vou conseguir acompanhar?" -, mas que vc logo se acostuma, e tentando mostrar um pouco de tudo o que foi a vida desse personagem que já nasceu pronto. Exagerado em tudo.
Cazuza é um prato cheio para qualquer escritor e/ou cineasta. Era impulsivo, emotivo ao extremo, capaz de mudar de humor de uma hora para outra, era poeta, revolucionário nos costumes, contra a "caretice" e morreu jovem. Vê se não existe um arquétipo já montado para isso?
O filme não parece em nada com as (boas) comédias românticas de Sandra Werneck, nem pode ser comparado ao único filme do Walter Carvalho, o doc. "Janela da Alma". Por isso, seria um mix, uma adição, Sandra + Walter = Cazuza, o filme.
E, é válido ressaltar que este, em nenhum momento, subestima a inteligência do espectador. Todas as informações sobre o cantor-compositor-poeta passam sutilmente. Aliás, contrastando em demasia com o exagero geral. Se vc não prestar muita atenção, perde algum detalhe. Saí do filme comentando algumas cenas que tinha mais gostado com o Ruivo, camarada meu, e ele não lembrava de alguma delas.
Uma, por exemplo, em que Daniel de Oliveira incorporou Cazuza, ao cantar em seu último e mais conhecido show, de branco, com a bandana na cabeça, já doente, máscara de oxigênio atrás do palco. Não lembro exatamente qual é a música, acho que é "ideologia", mas pode ser outra, são tantas. Cortam para o público e mostram Marieta Severo - como a Lucinha Araújo - e cortam para o palco, Daniel com todos os trejeitos de Cazuza nessa época, de costas a mesma pessoa, de frente o mesmo rosto, corta para o público, Marieta, ou será que é a própria Lucinha?, Marieta-Lucinha aplaudem, no palco, é o Cazuza, só pode ser ele próprio, público, é a Lucinha, tenho certeza, ela joga uma rosa branca, também aparece Marieta, repete a mesma ação, palco, Cazuza agradece e pega um rosa, público, ambas Lucinhas aplaudem. Fim de cena. Ruivo não lembrava da Lucinha de verdade. Quando contei-lhe, ele pareceu não acreditar. Nesse momento, eu tive a certeza que o filme era bom, acima da média.
Tem bolas fora, tem. Mas se a produção erra, erra por exagerar, por tentar demais acertar, e no caso do Cazuza, especificamente desse moço, sim, exagerar era o certo.
ps. Domingo passado, ouvi de uma senhora que tenho respeito, considero inteligente, culta, que esse filme era apenas a celebração hedonista de um sujeito drogado. Quase falou de apologia às drogas. Fiquei espantado com tamanho conservadorismo na classe-média. Essa que leva o Brasil no colo. Se vissem o filme ouviriam da boca de Daniel-Cazuza que ele é do bem, não faz mal a ninguém. Ou de Zeca-Emílio de Mello que o meio termo é bom, mas exagero é fundamental. E talvez fosse isso exatamente o que faltasse a muita gente da classe-mérdia: exagerar sem fazer mal a ninguém.
quarta-feira, 16 de junho de 2004
"Well, nobody is perfect".
Nas últimas semanas tive a honra de ver dois filmes de roteiristas-diretores. "O Outro lado da Rua", do Marcos Bernstein, e "Quanto mais Quente, melhor", do - provável - melhor dessa classe de cineasta, Billy Wilder.
Antes, porém, deve-se, ao mínimo, parametrizar quem são esses tais que chamei de roteirista-cineasta. É facílimo encontrar um por aí. Primeiro: eles são quase sempre escritores antes de se envolverem com o cinema, propriamente dito. Nem que sejam roteiristas, apenas. Segundo, seus filmes têm diálogos inteligentes, bem distantes do marasmo e irrealidades que rondam por aí. Volta e meia gostam de publicar algo em papel, talvez para não perder a mão. São acusados - em alguns casos - de fazer filmes lentos, contemplativos. Sempre é possível encontrar humor em suas produções. Sujeitos exemplares (sem ordem): Woody Allen, Jorge Furtado, o cineasta bissexto Paul Auster e os dois ali de cima.
Voltando aos filmes vistos recentemente. O primeiro, o brasileiro, a estréia do roteirista de "Central do Brasil" na direção, função que pode ser (bem) definida - e já foi por um camarada meu - como o homem que diz "ação" e "corta", ainda peca em alguns aspectos imagéticos - para usar uma expressão que deveria me condenar ao fogo eterno dos infernos. Não que ele não saiba criar imagens comoventes, ou tenha idéias para lá de originais - mesmo usando uma trama conhecidíssima, no caso de "Rear Window". O problema é outro. Parece que estamos assistindo a um livro na tela. É complicado passar esse conceito, dias depois de ter assistido, e com as imagens já parcialmente apagadas da memória, mas um exemplo claro disso é quando Fernando Montenegro - o que comentar sobre ela? Será que algum adjetivo de elogio ainda não foi utilizado sobre ela? Que tal, sei lá, perfeita? - num momento sozinha, sem nada para fazer, sentada no sofá da sala, fumando o seu cigarro, olhando para a fumaça, diz "que tédio". É até provável que alguém dissesse "que tédio" naquele momento, eu diria "que tédio" em circunstâncias iguais, mas isso não seria o que uma personagem de cinema diria. O que até pode ser encarado - por um lado - de bom, já que teria fugido da persona clássica do cinema, mas não funciona nesse caso e em vários outros. Outro bom exemplo é quando ela se sente sozinha-no-meio-da-multidão, sentimento clássico em roteirista sensíveis à contemporaneidade (vide final de "Devil´s Advocate"), e, de repente, no meio do turbilhão chamado Copacabana, ela está realmente sozinha. Fraco, bem fraco, diria. Nem comento, então, da já famosa cena de sexo entre Raul Cortez e Mrs. Montenegro. Parece que todo o filme começou dali, na cabeça de Bernstein, porque a seqüência inteira parece estranha, fora de contexto e é explicada meio que por acaso, num comentário jogado para o alto, logo depois, meio como desculpa. Esse momento foi o menos "filme de roteirista" de todos. Por outro lado, parece que ele teve a idéia da cena de sexo inesperada e disse: "vou fazer um filme sobre isso" e a idéia deslanchou.
Mas não, não me leve a mal. O filme é bem inteligente, mexe com assuntos pouquíssimos explorados e mesmo sem direção daria certo - também, com essa dupla de protagonistas... Creio que os próximos filmes desse moço serão bem melhores. Acontecerá com ele, o mesmo que aconteceu com Woody Allen, quando começou a filmar. Tinha idéias ótimas e concepções ruins. Valiam porque era bem diferente do que estávamos acostumados. Enfim, é esperar para ver.
Do outro lado da carreira estava Billy Wilder quando fez "Some Like it Hot", uma comédia boba e divertidíssima. Parece que esse filme criou milhares dos clichês cinematográficos existentes até hoje. Um exemplo: Marylin Monroe interpretando Marylin Monroe. Depois disso, todas as louras - de espírito - quiseram apenas ser a mesma.
Como disse, a história é boba, pode ser interrompida quinze vezes, pode ser assistida com seu sobrinho de seis anos, pode ser vista com anos de distanciamento, o que importa, e está inalterado, é a qualidade do texto nos diálogos. São todos inteligentíssimos, com piadas internas, ironias veladas que provocam risos pequenos e nunca gargalhadas das tortas na cara. Talvez só descambe para o pastelão lá para o final, numa perseguição aos dois protagonistas (nada menos que Tony Curtis e Jack Lemmon). A fórmula do escada é usada com maestria, e as interpretações (!), a agilidade das falas (!!), tudo se encaixa à perfeição nessa comédia. Tony Curtis, por exemplo, tem três personagens diferentes durante o filme. E está engraçado em todos. Jack Lemmon tem momentos inesquecíveis, como o diálogo que ele tem depois de ser pedido em casamento. E, para comprovar a origem roteirista-diretor da película, basta lembrar da seqüência onde Tony Curtis vai se encontrar com Marylin e, vestido de magnata, esquece de tirar os brincos de sua persona Josephine. Todo mundo fica apreensivo porque seria o momento de Sugar Cane (não tentem traduzir) descobrir a farsa, mas é óbvio que ele se lembrará a tempo. Resumindo tudo: um filmão.
ps, o título do texto vem do diálogo final que é, talvez, o melhor.
Nas últimas semanas tive a honra de ver dois filmes de roteiristas-diretores. "O Outro lado da Rua", do Marcos Bernstein, e "Quanto mais Quente, melhor", do - provável - melhor dessa classe de cineasta, Billy Wilder.
Antes, porém, deve-se, ao mínimo, parametrizar quem são esses tais que chamei de roteirista-cineasta. É facílimo encontrar um por aí. Primeiro: eles são quase sempre escritores antes de se envolverem com o cinema, propriamente dito. Nem que sejam roteiristas, apenas. Segundo, seus filmes têm diálogos inteligentes, bem distantes do marasmo e irrealidades que rondam por aí. Volta e meia gostam de publicar algo em papel, talvez para não perder a mão. São acusados - em alguns casos - de fazer filmes lentos, contemplativos. Sempre é possível encontrar humor em suas produções. Sujeitos exemplares (sem ordem): Woody Allen, Jorge Furtado, o cineasta bissexto Paul Auster e os dois ali de cima.
Voltando aos filmes vistos recentemente. O primeiro, o brasileiro, a estréia do roteirista de "Central do Brasil" na direção, função que pode ser (bem) definida - e já foi por um camarada meu - como o homem que diz "ação" e "corta", ainda peca em alguns aspectos imagéticos - para usar uma expressão que deveria me condenar ao fogo eterno dos infernos. Não que ele não saiba criar imagens comoventes, ou tenha idéias para lá de originais - mesmo usando uma trama conhecidíssima, no caso de "Rear Window". O problema é outro. Parece que estamos assistindo a um livro na tela. É complicado passar esse conceito, dias depois de ter assistido, e com as imagens já parcialmente apagadas da memória, mas um exemplo claro disso é quando Fernando Montenegro - o que comentar sobre ela? Será que algum adjetivo de elogio ainda não foi utilizado sobre ela? Que tal, sei lá, perfeita? - num momento sozinha, sem nada para fazer, sentada no sofá da sala, fumando o seu cigarro, olhando para a fumaça, diz "que tédio". É até provável que alguém dissesse "que tédio" naquele momento, eu diria "que tédio" em circunstâncias iguais, mas isso não seria o que uma personagem de cinema diria. O que até pode ser encarado - por um lado - de bom, já que teria fugido da persona clássica do cinema, mas não funciona nesse caso e em vários outros. Outro bom exemplo é quando ela se sente sozinha-no-meio-da-multidão, sentimento clássico em roteirista sensíveis à contemporaneidade (vide final de "Devil´s Advocate"), e, de repente, no meio do turbilhão chamado Copacabana, ela está realmente sozinha. Fraco, bem fraco, diria. Nem comento, então, da já famosa cena de sexo entre Raul Cortez e Mrs. Montenegro. Parece que todo o filme começou dali, na cabeça de Bernstein, porque a seqüência inteira parece estranha, fora de contexto e é explicada meio que por acaso, num comentário jogado para o alto, logo depois, meio como desculpa. Esse momento foi o menos "filme de roteirista" de todos. Por outro lado, parece que ele teve a idéia da cena de sexo inesperada e disse: "vou fazer um filme sobre isso" e a idéia deslanchou.
Mas não, não me leve a mal. O filme é bem inteligente, mexe com assuntos pouquíssimos explorados e mesmo sem direção daria certo - também, com essa dupla de protagonistas... Creio que os próximos filmes desse moço serão bem melhores. Acontecerá com ele, o mesmo que aconteceu com Woody Allen, quando começou a filmar. Tinha idéias ótimas e concepções ruins. Valiam porque era bem diferente do que estávamos acostumados. Enfim, é esperar para ver.
Do outro lado da carreira estava Billy Wilder quando fez "Some Like it Hot", uma comédia boba e divertidíssima. Parece que esse filme criou milhares dos clichês cinematográficos existentes até hoje. Um exemplo: Marylin Monroe interpretando Marylin Monroe. Depois disso, todas as louras - de espírito - quiseram apenas ser a mesma.
Como disse, a história é boba, pode ser interrompida quinze vezes, pode ser assistida com seu sobrinho de seis anos, pode ser vista com anos de distanciamento, o que importa, e está inalterado, é a qualidade do texto nos diálogos. São todos inteligentíssimos, com piadas internas, ironias veladas que provocam risos pequenos e nunca gargalhadas das tortas na cara. Talvez só descambe para o pastelão lá para o final, numa perseguição aos dois protagonistas (nada menos que Tony Curtis e Jack Lemmon). A fórmula do escada é usada com maestria, e as interpretações (!), a agilidade das falas (!!), tudo se encaixa à perfeição nessa comédia. Tony Curtis, por exemplo, tem três personagens diferentes durante o filme. E está engraçado em todos. Jack Lemmon tem momentos inesquecíveis, como o diálogo que ele tem depois de ser pedido em casamento. E, para comprovar a origem roteirista-diretor da película, basta lembrar da seqüência onde Tony Curtis vai se encontrar com Marylin e, vestido de magnata, esquece de tirar os brincos de sua persona Josephine. Todo mundo fica apreensivo porque seria o momento de Sugar Cane (não tentem traduzir) descobrir a farsa, mas é óbvio que ele se lembrará a tempo. Resumindo tudo: um filmão.
ps, o título do texto vem do diálogo final que é, talvez, o melhor.
segunda-feira, 14 de junho de 2004
Olívio
Comecei a ler esse livro com tantas e tão antagônicas expectativas, que elas se anularam e me deixaram sozinho para avalia-lo.
Por um lado, queria ver como é a cara - e a escrita - desse povo que começou a escrever na virada do milênio (não, não usarei palavras como "geração", "grupo" etc.). Sei - tenho a comprovação explícita - de que são diferentes, tão diferentes entre si, que não devem ser comparados, quiçá colocados no mesmo saco. Por isso escolhi um aleatoriamente. Aliás, ele me escolheu. Melhor, escolheram para mim, já que foi o Batata, camarada meu, exigente até a chatice, que comprara esse exemplar e me entregara com o conselho irônico de "divirta-se".
Conheço e invejo os moços do sul - Livros do mal e Clarah Averbuck - por escreverem bem. Mas esse Santiago Nazarian - apesar da orelha dizer que ele também é gaúcho, e também tatuado, assim como o Mojo, da Livros - havia passado despercebido por mim. Sua referência, descobri depois, era ter escrito, junto com o JP Cuenca - carioca, gente fina - e mais um outro que obviamente não sei o nome, um dos contos daquele livro que foi lançado ano passado na Flip - a feira literária de Parati.
Ou seja, se por um lado eu estava empolgado por querer saber de que era feito esse novo escritor, como ele escrevia, de onde é que ele tira suas idéias, eu tinha uma PUTA inveja dele estar no seu segundo livro, já (depois descobri que já lançou o terceiro, com vinte e oito anos).
Batata tinha me assegurado que era uma merda o livro. Típico comentário dele, sujeito que não aceita meio termos, e não amacia a mão nem se o autor for de primeira viagem. Dizia que era pretensioso, tentava uma poesia vazia ali para o final, e se perdia completamente.
Pois bem, armado disso tudo, adentrei o tal "Olívio".
De início, me saltou aos olhos um detalhe sobre sua estrutura: com frases recortadas, com pensamentos fragmentados formando jogos semânticos com duplos sentidos, eu admito que gostei. Já tinha visto algo do gênero, mas me pareceu novo, vigoroso. O ruim era a falta de tato para juntar os capítulos. Quando acaba um, vc tem que se convencer que o próximo terá algo realmente importante para te mostrar. Principalmente porque ele fica meio livro apresentando personagens que interagem com o protagonista e criam situações para que este se movimente. Inclusive toda a estrutura do livro é dessa forma. (José Roberto Torero faz algo semelhante e muito bem no seu livro sobre a Ira na coleção Pecados Capitais, da Objetiva) Só que do meio para o final, os personagens que já tinham sido apresentados, aparecem novamente, na grande maioria das vezes, por pura obra do acaso - uma grandissíssima bola fora. É coincidência demais para mim.
Por outro lado, nessa segunda parte, os links entre capítulos são dignos dos melhores folhetins. Te prendem até vc não poder realmente ler o que vem a seguir. Se deixarem, vc acaba com o livro de uma vez só. Isso, claro se esse ritmo continuasse até o fim. Não é o caso.
Essa irregularidade - nas tensões deixemos claro, porque em relação ao encadeamento frasal, este é sempre o mesmo até o final, o que é bem bom - talvez seja a parte mais chata do livro.
E o final é bobo, para ser direto, sem meandros. O início que parecia um reavivamento - fora de hora, como diriam alguns - de uma literatura quase existencialista, esbarrando num Camus de "O estrangeiro", se torna fútil ali nas últimas páginas. Muitos pontos ficam em suspenso, muita gente fica sem se apresentar direito, muitas perguntas ficam sem nenhum tipo de resposta. O que seria o ápice do romance me deu vontade de pular.
Para um primeiro "livro grande", na falta de sinônimo para romance, é passável. Mas vale aprender com tamanhos pecados praticados. Acho que em contos, esse estilo todo funcionaria melhor.
Comecei a ler esse livro com tantas e tão antagônicas expectativas, que elas se anularam e me deixaram sozinho para avalia-lo.
Por um lado, queria ver como é a cara - e a escrita - desse povo que começou a escrever na virada do milênio (não, não usarei palavras como "geração", "grupo" etc.). Sei - tenho a comprovação explícita - de que são diferentes, tão diferentes entre si, que não devem ser comparados, quiçá colocados no mesmo saco. Por isso escolhi um aleatoriamente. Aliás, ele me escolheu. Melhor, escolheram para mim, já que foi o Batata, camarada meu, exigente até a chatice, que comprara esse exemplar e me entregara com o conselho irônico de "divirta-se".
Conheço e invejo os moços do sul - Livros do mal e Clarah Averbuck - por escreverem bem. Mas esse Santiago Nazarian - apesar da orelha dizer que ele também é gaúcho, e também tatuado, assim como o Mojo, da Livros - havia passado despercebido por mim. Sua referência, descobri depois, era ter escrito, junto com o JP Cuenca - carioca, gente fina - e mais um outro que obviamente não sei o nome, um dos contos daquele livro que foi lançado ano passado na Flip - a feira literária de Parati.
Ou seja, se por um lado eu estava empolgado por querer saber de que era feito esse novo escritor, como ele escrevia, de onde é que ele tira suas idéias, eu tinha uma PUTA inveja dele estar no seu segundo livro, já (depois descobri que já lançou o terceiro, com vinte e oito anos).
Batata tinha me assegurado que era uma merda o livro. Típico comentário dele, sujeito que não aceita meio termos, e não amacia a mão nem se o autor for de primeira viagem. Dizia que era pretensioso, tentava uma poesia vazia ali para o final, e se perdia completamente.
Pois bem, armado disso tudo, adentrei o tal "Olívio".
De início, me saltou aos olhos um detalhe sobre sua estrutura: com frases recortadas, com pensamentos fragmentados formando jogos semânticos com duplos sentidos, eu admito que gostei. Já tinha visto algo do gênero, mas me pareceu novo, vigoroso. O ruim era a falta de tato para juntar os capítulos. Quando acaba um, vc tem que se convencer que o próximo terá algo realmente importante para te mostrar. Principalmente porque ele fica meio livro apresentando personagens que interagem com o protagonista e criam situações para que este se movimente. Inclusive toda a estrutura do livro é dessa forma. (José Roberto Torero faz algo semelhante e muito bem no seu livro sobre a Ira na coleção Pecados Capitais, da Objetiva) Só que do meio para o final, os personagens que já tinham sido apresentados, aparecem novamente, na grande maioria das vezes, por pura obra do acaso - uma grandissíssima bola fora. É coincidência demais para mim.
Por outro lado, nessa segunda parte, os links entre capítulos são dignos dos melhores folhetins. Te prendem até vc não poder realmente ler o que vem a seguir. Se deixarem, vc acaba com o livro de uma vez só. Isso, claro se esse ritmo continuasse até o fim. Não é o caso.
Essa irregularidade - nas tensões deixemos claro, porque em relação ao encadeamento frasal, este é sempre o mesmo até o final, o que é bem bom - talvez seja a parte mais chata do livro.
E o final é bobo, para ser direto, sem meandros. O início que parecia um reavivamento - fora de hora, como diriam alguns - de uma literatura quase existencialista, esbarrando num Camus de "O estrangeiro", se torna fútil ali nas últimas páginas. Muitos pontos ficam em suspenso, muita gente fica sem se apresentar direito, muitas perguntas ficam sem nenhum tipo de resposta. O que seria o ápice do romance me deu vontade de pular.
Para um primeiro "livro grande", na falta de sinônimo para romance, é passável. Mas vale aprender com tamanhos pecados praticados. Acho que em contos, esse estilo todo funcionaria melhor.
terça-feira, 8 de junho de 2004
Último post desse naipe de porqueira:
Vi uma seleção de trabalhos do Michel Gondry, o cara atualmente. Dentre clipes, entrevistas com ele e com artistas que foram dirigidos por ele e algumas perguntas para a sua mãe, que pode ser encontrada com relativa freqüência nos seus sets de filmagem, encarei dois curtas de início de carreira. Legaizinhos, nada demais, apenas aqui e ali se encontra algo melhor. Típico primeiros filmes, mesmo. Mas mesmo assim, já parece que nos filmes dele, quando aparece algo improvável, ou mesmo impossível, ele deve se fazer a pergunta: mas por quê? Por que não posso fazer esse carro voar, ora?
Utilizando a desculpa de retratar um sonho, por exemplo, ele abusa de uma realidade que não encontramos normalmente nas ruas, assim, digamos, todos os dias. O segundo curta, por exemplo, começa com um sujeito saindo do banheiro, e logo após ele, sai um cago (um cara toscamente vestido de cago), gritando para que seu "pai" o espere. O mais engraçado é que o cocô chama seu "pai", ora de pai, mesmo, e ora de Michel. Diz que foi ele que o produziu, logo ele tem uma responsabilidade para com ele. E abusa de piadas com duplos sentidos baseadas na cagança. É tão surreal que é engraçado.
Conto o final porque não atrapalha - e mesmo porque o final em si é bem fraquinho. Depois de um dia de convivência, fazendo Michel passar por todas as vergonhas possíveis, os dois dormem juntos, na mesma cama. Ao amanhecer, o cocô se transformara num nazista caricato, com suástica no braço e bigodinho.
O filme acaba aí, mas só nesses detalhes surreais, sem nenhuma explicação cabível, podemos antever o que Gondry se transformaria: um cineasta surpreendente, sempre.
Vi uma seleção de trabalhos do Michel Gondry, o cara atualmente. Dentre clipes, entrevistas com ele e com artistas que foram dirigidos por ele e algumas perguntas para a sua mãe, que pode ser encontrada com relativa freqüência nos seus sets de filmagem, encarei dois curtas de início de carreira. Legaizinhos, nada demais, apenas aqui e ali se encontra algo melhor. Típico primeiros filmes, mesmo. Mas mesmo assim, já parece que nos filmes dele, quando aparece algo improvável, ou mesmo impossível, ele deve se fazer a pergunta: mas por quê? Por que não posso fazer esse carro voar, ora?
Utilizando a desculpa de retratar um sonho, por exemplo, ele abusa de uma realidade que não encontramos normalmente nas ruas, assim, digamos, todos os dias. O segundo curta, por exemplo, começa com um sujeito saindo do banheiro, e logo após ele, sai um cago (um cara toscamente vestido de cago), gritando para que seu "pai" o espere. O mais engraçado é que o cocô chama seu "pai", ora de pai, mesmo, e ora de Michel. Diz que foi ele que o produziu, logo ele tem uma responsabilidade para com ele. E abusa de piadas com duplos sentidos baseadas na cagança. É tão surreal que é engraçado.
Conto o final porque não atrapalha - e mesmo porque o final em si é bem fraquinho. Depois de um dia de convivência, fazendo Michel passar por todas as vergonhas possíveis, os dois dormem juntos, na mesma cama. Ao amanhecer, o cocô se transformara num nazista caricato, com suástica no braço e bigodinho.
O filme acaba aí, mas só nesses detalhes surreais, sem nenhuma explicação cabível, podemos antever o que Gondry se transformaria: um cineasta surpreendente, sempre.
sexta-feira, 4 de junho de 2004
Continuando co'a porqueira:
"A manhã me viu de pé, no banheiro, contemplando no vaso a curiosa entidade que eu tinha produzido: um objeto cilíndrico, bem-formado, de cor saudável textura fina, superfície lisa, quase acetinada. E tinha, à guisa de olhos, dois grãos de milho.
(...)
Estava tão bem ali, que vacilei em dar a descarga.
(...)
Passei a rebentação e fui nadando longe, longe, mas sempre melancólico. Nadando, eu chorava, sabendo que minhas lágrimas se misturariam ao mar, não me acarretando nenhum problema. De súbito, o que avisto boiando? O pequeno cilindro marrom com seus espertos olhinhos amarelos! Não pude conter um grio de alegria: era um bom presságio, aquilo!"
Moacyr Scliar, "(o ciclo das águas)", pág. 105. Detalhe: a personagem, Marcos, está nadando na praia do Flamengo. Não é de se espantar que ele encontre tal "objeto" boiando.
"A manhã me viu de pé, no banheiro, contemplando no vaso a curiosa entidade que eu tinha produzido: um objeto cilíndrico, bem-formado, de cor saudável textura fina, superfície lisa, quase acetinada. E tinha, à guisa de olhos, dois grãos de milho.
(...)
Estava tão bem ali, que vacilei em dar a descarga.
(...)
Passei a rebentação e fui nadando longe, longe, mas sempre melancólico. Nadando, eu chorava, sabendo que minhas lágrimas se misturariam ao mar, não me acarretando nenhum problema. De súbito, o que avisto boiando? O pequeno cilindro marrom com seus espertos olhinhos amarelos! Não pude conter um grio de alegria: era um bom presságio, aquilo!"
Moacyr Scliar, "(o ciclo das águas)", pág. 105. Detalhe: a personagem, Marcos, está nadando na praia do Flamengo. Não é de se espantar que ele encontre tal "objeto" boiando.
quinta-feira, 3 de junho de 2004
Grifos meus:
"Mas quer fosse pela friagem da manhã, que já começava, quer por ter Sancho ceado alguma coisa laxante, quer fosse enfim coisa natural (que é o que mais depressa se deve crer), veio-lhe a ele vontade de fazer o que mais ninguém poderia em seu lugar; mas tamanho era o medo que dele se tinha apossado, que não se atrevia a apartar-se uma unha negra do seu amo. Cuidar que não havia de fazer o que tão apertadamente lhe era necessário também não era possível. O que fez, para de algum modo conciliar tudo, foi soltar a mão direita, que tinha segura ao arção traseiro, e com ela à sorrelfa e sem rumor, soltou a laçada corredia com que o calções se agüentavam sem mais nada, e, soltando-a caíram-lhe eles logo aos pés, que lhe ficaram presos como em grilhões; depois levantou-a camisa o melhor que pôde, e pôs ao vento o poisadouro (que não era pequeno). Feito aquilo, que ele entendeu ser o essencial para sair do terrível aperto, sobreveio-lhe logo segunda e pior angústia, que foi o parecer-lhe que não podia aliviar-se sem fazer estrondo; e entrou a rilhar dos dentes e encolher os ombros tomando a si o fôlego quanto lhe era possível; mas, com todas estas precauções, tal foi a sua desgraça, que ao cabo e ao fim não deixou de lhe escapar um pouco de ruído, bem diferente daquele que tanto receava."
Miguel de Cervantes Saavedra escreveu na, provável, mais conhecida obra de literatura uma passagem que, tirando essa linguagem característica de época e eufêmica, poderia ser um papo "da galera".
"Mas quer fosse pela friagem da manhã, que já começava, quer por ter Sancho ceado alguma coisa laxante, quer fosse enfim coisa natural (que é o que mais depressa se deve crer), veio-lhe a ele vontade de fazer o que mais ninguém poderia em seu lugar; mas tamanho era o medo que dele se tinha apossado, que não se atrevia a apartar-se uma unha negra do seu amo. Cuidar que não havia de fazer o que tão apertadamente lhe era necessário também não era possível. O que fez, para de algum modo conciliar tudo, foi soltar a mão direita, que tinha segura ao arção traseiro, e com ela à sorrelfa e sem rumor, soltou a laçada corredia com que o calções se agüentavam sem mais nada, e, soltando-a caíram-lhe eles logo aos pés, que lhe ficaram presos como em grilhões; depois levantou-a camisa o melhor que pôde, e pôs ao vento o poisadouro (que não era pequeno). Feito aquilo, que ele entendeu ser o essencial para sair do terrível aperto, sobreveio-lhe logo segunda e pior angústia, que foi o parecer-lhe que não podia aliviar-se sem fazer estrondo; e entrou a rilhar dos dentes e encolher os ombros tomando a si o fôlego quanto lhe era possível; mas, com todas estas precauções, tal foi a sua desgraça, que ao cabo e ao fim não deixou de lhe escapar um pouco de ruído, bem diferente daquele que tanto receava."
Miguel de Cervantes Saavedra escreveu na, provável, mais conhecida obra de literatura uma passagem que, tirando essa linguagem característica de época e eufêmica, poderia ser um papo "da galera".
terça-feira, 1 de junho de 2004
Ainda na área de serviços:
Mais uma vez falarei o óbvio e nada de novo se avistará. Por isso, o conselho dado abaixo, serve para cá, também.
Só quero dizer uma coisinha simples: o sistema bancário brasileiro é de uma vergonha que não dá para se expressar. Principalmente quando se compara o quanto eles faturam a cada trimestre (o único segmento que compara seus orçamentos quatro vezes ao ano e que sempre consegue aumentar suas receitas). Ainda mais se compararmos com bancos de outros países (nos eua há agências que abrem aos fins-de-semana, instituições que não cobram "mensalidade", e em NENHUMA agências há fila).
A falta de respeito para com o cliente, o sujeito que paga todos os encargos do banco (já que 100% dos custos bancários são já pagos com as tarifas sobre as contas correntes - tipo tarifa extra pelo extrato, tarifa sobre o saque, tarifa sobre transferência etc etc etc), é de tamanha escrotidão, que ir ao banco se transformou num esporte de resistência física e psicológica.
Às vezes eu acho aquele final do Fight Club, com as explosões dos prédios onde pretensamente ficariam as sedes das empresas financeiras, bobo. Outras, em absoluto, não.
Mais uma vez falarei o óbvio e nada de novo se avistará. Por isso, o conselho dado abaixo, serve para cá, também.
Só quero dizer uma coisinha simples: o sistema bancário brasileiro é de uma vergonha que não dá para se expressar. Principalmente quando se compara o quanto eles faturam a cada trimestre (o único segmento que compara seus orçamentos quatro vezes ao ano e que sempre consegue aumentar suas receitas). Ainda mais se compararmos com bancos de outros países (nos eua há agências que abrem aos fins-de-semana, instituições que não cobram "mensalidade", e em NENHUMA agências há fila).
A falta de respeito para com o cliente, o sujeito que paga todos os encargos do banco (já que 100% dos custos bancários são já pagos com as tarifas sobre as contas correntes - tipo tarifa extra pelo extrato, tarifa sobre o saque, tarifa sobre transferência etc etc etc), é de tamanha escrotidão, que ir ao banco se transformou num esporte de resistência física e psicológica.
Às vezes eu acho aquele final do Fight Club, com as explosões dos prédios onde pretensamente ficariam as sedes das empresas financeiras, bobo. Outras, em absoluto, não.
César Maia, o Pan, e o que que temos a ver com isso?
O que vou escrever aqui é de tal obviedade, já foi tão escancarado em qualquer que seja o meio de comunicação, que se vc quiser parar de ler agora, não me sentirei, de maneira nenhuma, ultrajado.
Pois bem, para os que continuaram, tenho a honra de dizer que rola um boato nos hospitais públicos e centros de saúde comunitário, que a verba dessa área será (e está sendo) drasticamente afetada até o Pan de 2007 no Rio.
Tenho uma irmã que é dentista e trabalha para o município do Rio, em Santa Cruz - para piorar o lado dela. Diz ela que todos os materiais de consumo - luvas, brocas, químicos para esterelizar etc. - não existem mais. (Talvez o que impressione seja o fato de ter havido um dia.) Eles continuam a trabalhar no esquema de cada um leva uma parte.
Se chocar, será, talvez, pela informação sobre o Lorenço Jorge. Segundo Thaty (minha irmã), nesse hospital da Barra, bem visto pela sociedade de maneira geral, acabou até o papel para o receituário. Os médicos agora usam papel-higiênico com carimbo para substitui-lo.
Tudo isso com a justificativa do Pan. Ela me falou: "enquanto não passar o Pan, haverá falta generalizada de material". Isso, claro, eu não posso comprovar porque não apurei nada. Mas, lembremos que esses jogos só aconteceram em 2007!
E ainda queriam trazer os jogos olímpicos de 2012 para cá...
O que vou escrever aqui é de tal obviedade, já foi tão escancarado em qualquer que seja o meio de comunicação, que se vc quiser parar de ler agora, não me sentirei, de maneira nenhuma, ultrajado.
Pois bem, para os que continuaram, tenho a honra de dizer que rola um boato nos hospitais públicos e centros de saúde comunitário, que a verba dessa área será (e está sendo) drasticamente afetada até o Pan de 2007 no Rio.
Tenho uma irmã que é dentista e trabalha para o município do Rio, em Santa Cruz - para piorar o lado dela. Diz ela que todos os materiais de consumo - luvas, brocas, químicos para esterelizar etc. - não existem mais. (Talvez o que impressione seja o fato de ter havido um dia.) Eles continuam a trabalhar no esquema de cada um leva uma parte.
Se chocar, será, talvez, pela informação sobre o Lorenço Jorge. Segundo Thaty (minha irmã), nesse hospital da Barra, bem visto pela sociedade de maneira geral, acabou até o papel para o receituário. Os médicos agora usam papel-higiênico com carimbo para substitui-lo.
Tudo isso com a justificativa do Pan. Ela me falou: "enquanto não passar o Pan, haverá falta generalizada de material". Isso, claro, eu não posso comprovar porque não apurei nada. Mas, lembremos que esses jogos só aconteceram em 2007!
E ainda queriam trazer os jogos olímpicos de 2012 para cá...
Assinar:
Postagens (Atom)