Olívio
Comecei a ler esse livro com tantas e tão antagônicas expectativas, que elas se anularam e me deixaram sozinho para avalia-lo.
Por um lado, queria ver como é a cara - e a escrita - desse povo que começou a escrever na virada do milênio (não, não usarei palavras como "geração", "grupo" etc.). Sei - tenho a comprovação explícita - de que são diferentes, tão diferentes entre si, que não devem ser comparados, quiçá colocados no mesmo saco. Por isso escolhi um aleatoriamente. Aliás, ele me escolheu. Melhor, escolheram para mim, já que foi o Batata, camarada meu, exigente até a chatice, que comprara esse exemplar e me entregara com o conselho irônico de "divirta-se".
Conheço e invejo os moços do sul - Livros do mal e Clarah Averbuck - por escreverem bem. Mas esse Santiago Nazarian - apesar da orelha dizer que ele também é gaúcho, e também tatuado, assim como o Mojo, da Livros - havia passado despercebido por mim. Sua referência, descobri depois, era ter escrito, junto com o JP Cuenca - carioca, gente fina - e mais um outro que obviamente não sei o nome, um dos contos daquele livro que foi lançado ano passado na Flip - a feira literária de Parati.
Ou seja, se por um lado eu estava empolgado por querer saber de que era feito esse novo escritor, como ele escrevia, de onde é que ele tira suas idéias, eu tinha uma PUTA inveja dele estar no seu segundo livro, já (depois descobri que já lançou o terceiro, com vinte e oito anos).
Batata tinha me assegurado que era uma merda o livro. Típico comentário dele, sujeito que não aceita meio termos, e não amacia a mão nem se o autor for de primeira viagem. Dizia que era pretensioso, tentava uma poesia vazia ali para o final, e se perdia completamente.
Pois bem, armado disso tudo, adentrei o tal "Olívio".
De início, me saltou aos olhos um detalhe sobre sua estrutura: com frases recortadas, com pensamentos fragmentados formando jogos semânticos com duplos sentidos, eu admito que gostei. Já tinha visto algo do gênero, mas me pareceu novo, vigoroso. O ruim era a falta de tato para juntar os capítulos. Quando acaba um, vc tem que se convencer que o próximo terá algo realmente importante para te mostrar. Principalmente porque ele fica meio livro apresentando personagens que interagem com o protagonista e criam situações para que este se movimente. Inclusive toda a estrutura do livro é dessa forma. (José Roberto Torero faz algo semelhante e muito bem no seu livro sobre a Ira na coleção Pecados Capitais, da Objetiva) Só que do meio para o final, os personagens que já tinham sido apresentados, aparecem novamente, na grande maioria das vezes, por pura obra do acaso - uma grandissíssima bola fora. É coincidência demais para mim.
Por outro lado, nessa segunda parte, os links entre capítulos são dignos dos melhores folhetins. Te prendem até vc não poder realmente ler o que vem a seguir. Se deixarem, vc acaba com o livro de uma vez só. Isso, claro se esse ritmo continuasse até o fim. Não é o caso.
Essa irregularidade - nas tensões deixemos claro, porque em relação ao encadeamento frasal, este é sempre o mesmo até o final, o que é bem bom - talvez seja a parte mais chata do livro.
E o final é bobo, para ser direto, sem meandros. O início que parecia um reavivamento - fora de hora, como diriam alguns - de uma literatura quase existencialista, esbarrando num Camus de "O estrangeiro", se torna fútil ali nas últimas páginas. Muitos pontos ficam em suspenso, muita gente fica sem se apresentar direito, muitas perguntas ficam sem nenhum tipo de resposta. O que seria o ápice do romance me deu vontade de pular.
Para um primeiro "livro grande", na falta de sinônimo para romance, é passável. Mas vale aprender com tamanhos pecados praticados. Acho que em contos, esse estilo todo funcionaria melhor.
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