Pseudices.
Li por aí, há anos atrás – se eu não me engano era o Daniel Galera, ou alguém do Col, lá do Rio Grande – a idéia de que precisávamos mais de escritores medianos. Na época, não entendi muito bem exatamente onde ele queria chegar, apesar de entender perfeitamente o seu principal argumento. Sua idéia pairava na atmosfera de que precis(áv)amos aumentar a nossa produção de literatura, já que tínhamos grandes autores, mas não uma massa de escritores, uma indústria onde pessoas podem sobreviver de escrever livros e gêneros relacionados.
Pois bem, ainda não temos uma “massa de escritores”, mas com esse negócio chamado Internet, e a necessidade cada vez mais constante de termos que escrever, parece que muita gente se entusiasmou e se sentiu o próprio Gabo. Nada contra, mesmo porque estaria jogando contra mim mesmo, mas, talvez, o maior problema disso, seja uma nova geração de pseudo-intelectuais na acepção original da palavra.
O que isso quer dizer, em termos? Bem, teremos cada vez mais conversas com cara de interessante, e com profundidade de piscina de criança. A Internet me dá outro exemplo (aliá, que bichinho interessante essa tal “rede mundial de computadores”, nome que até parece saído de algum livro do Philip K. Dick). Agora a onda brasileira chama-se Orkut. A segunda maior nacionalidade, nesse programa (?), site (?), comunidade virtual (?) é brasileira. Aliás, descobri dias desses que o Brasil é o terceiro maior internauta do mundo. Atrás dos óbvios americanos e japoneses. Mas enfim, voltemos ao Orkut (trocadilhos liberados). Expliquemos o que é, ou como funciona, o que é melhor até, primeiramente. Você está em casa, navegando, entra no seu email e recebe um convite para participar desse Orkut. Por curiosidade aperta o link e cai dentro da (chamemos assim) comunidade. Dentro, você deve responder a algumas questões simples, como num cadastro para lhe identificarem melhor. Algo como gostos musicais, cor de cabelo, preferências sexuais. E existem fóruns desenvolvidos pelos próprios usuários para se discutir de tudo, desde o Woody Allen, passando pelo Radiohead, até suas preferências sexuais. Aliás, assim como quase tudo o que aparece na Internet, há um forte apelo sexual – muito, mas infinitamente mais próximo do pornô que da sensualidade – no Orkut.
Depois disso, depois de se cadastrar, e escolher as comunidades que você quer fazer parte, você tende a visitar as tais comunidades para saber do que falam, o que discutem. E então, depois dessa introdução enorme, descobre-se a completa falta de assunto que impera. E pseudo-intelectualidade é definitivamente apresentada. Geralmente se a comunidade é de um sujeito – tipo, sei lá, J. L. Borges – as perguntas giram em torno de “qual é o seu conto preferido?”. Ou, o que você menos gostou. E fica nessa masturbação, bilateral, para frente e para trás, apenas. É meio triste perceber que uma ferramenta desse estilo, desse poder está sendo usada apenas com esse intuito primário. Não sou adepto, nem partidário – que isso é coisa de comunista – de um maior engajamento das pessoas no Orkut, pelo contrário. É já meio triste saber que as pessoas – como disse um amigo meu, o Zé – estão conectadas às outras através de fios. Esse meu pensamento talvez seja ainda um resquício romântico e ludista que existe em mim. Talvez isso passe dentre em pouco. O que eu penso – e talvez pudesse pedir – é que, já que essa ferramenta de comunicação e afinidade está ao nosso alcance, que a aproveitemos melhor, aprofundando cada tópico que temos a possibilidade de discutir. Ao invés de “qual é a mais?”, devemos dizer: “por que você considera tal parada a mais?”. No fundo, talvez seja uma questão simples de resolver, apenas mudar de pronome.
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