terça-feira, 16 de maio de 2006

Medo escondido

"Caché" (escondido em francês) é um filme que aborda o medo, em suas mais diferentes vertentes. Seja no filho que tem medo de ser menosprezado pelos pais e inventa mentiras sobre o irmão adotivo; seja na família de classe-média que se sente vigiada e não sabe de onde nem por que as fitas com imagens do seu cotidiano estão sendo feitas; seja nos franceses que pensam que serão atacados a qualquer momento por argelinos.

E, por mais que o filme de Michael Haneke ("A professora de piano") se restrinja a um microcosmo específico, no caso, Paris, ele faz valer a máxima do alcance global. O Francês, substantivo próprio, pode ser substituído a qualquer momento por Americano ou Brasileiro-branco-rico, enquanto o Argelino seria trocado por Latino ou Brasileiro-preto-pobre, sem, por isso, perder nenhuma de sua contundência.

Fora isso, Haneke consegue imprimir um terror psicológico na película sem usar nenhum dos cacoetes/clichês do genero (música de suspense, câmera lenta, etc.) apenas usando a situação inusitada. Só por isso já valeria totalmente o ingresso.

Por mais que sofra da síndrome do "acabou?", que tende a incomodar ao espectador mais (como Eros chamou em sua crítica) cartesiano, acredito que a intenção era desmerecer o fator "sexo, mentiras e videotape" do filme. Como se Haneke (um tradicional intelectual francês, só que austríaco) apontasse: "não prestem atenção nisso, falo de outra coisa". No caso, o medo.

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