Pitacos
“Missão: Impossível III” (me recuso a escrever o nome oficial que é um exercício de copidesque) não foi a primeira opção na sexta-feira, mas a única que se encaixou no meu esdrúxulo horário. Contudo, não foi de má-vontade que eu aceitei em vê-lo. Já tinha visto o II e gostado. Imaginei que poderia ser algo do mesmo gênero – e não me enganei.
(Hei, o que é que há? Cinema é a maior diversão ou não?)
No geral, o longa é bom, extremamente competente no que se pretende (diversão despretensiosa, facilmente deglutível e esquecível), mas uma mesma sensação me acompanhou durante toda a projeção: acho que já vi esse filme antes. Na verdade, sabia exatamente de onde vinha essa minha impressão. De “24 horas”.
Não sou um grande fã de seriados, nem tenho como ser, pois nunca tive TV a cabo em casa. Porém, recentemente fui acometido pela febre “Jack Bauer”, por más influências. Estou ainda na primeira temporada, mas já dá para que a série é impressionante.
Voltando. Os motivos que me levaram a traçar os parentescos entre os dois produtos áudios-visuais (PAV, como diria Glauber Rocha): Ambos são agentes secretos, têm famílias (esse é, inclusive, o principal plot da trama do “MI:3”), escondem os verdadeiros trabalhos dos mais chegados, se envolvem em armadilhas por causa dos laços amorosos e, enquanto Jack só conta com 24 horas para resolver seus problemas, Ethan Hunt tem 48 horas para completar sua, enfim, missão impossível. A diferença ÓBVIA é que a vida de Bauer é contada em tempo real, enquanto a de Hunt há diversas elipses de tempo – se não houvesse essa supressão, estaria em estado catatônico até agora.
O mais fã (de qualquer um dos PAVs) dirá que TODO o gênero de espionagem possui algumas ou todas essas caracterizações. A diferença estaria nos detalhes. Bauer é o chefe local de uma agência secreta do governo americano, enquanto Hunt quer se aposentar e ensinar novos espiões. Jack está com família constituída e vive um cotidiano comum, apesar de seu trabalho, enquanto Ethan ainda nem se casou. “M:I3” tem a brincadeira com as máscaras perfeitas com outros rostos, os gadgets surreais, “24 horas” é mais realista, mesmo que de vez em quando haja escorregadelas. O filme com Tom Cruise é muito mais violento, mas a série com Kiefer Sutherland não fica muito atrás. Aliás, Cruise é terrível nos momentos um pouco mais dramáticos, enquanto Sutherland É Bauer. Então, por que será que fiquei com a impressão anterior? Sugiro apenas uma resposta: JJ Abrams.
Não é surpresa para ninguém que o diretor da terceira incursão de “Missão: Impossível” é o diretor/roteirista/criador de séries, como a cultuada “Lost”, JJ Abrams. Não quer dizer que ele tenha feito um episódio apenas dobrando o tempo (o que até poderia ser justificável com as “48 horas para salvar a mulher de Hunt”), nem que haja algum tipo de cacoete televisivo visível na telona. Não, lá eles não têm a tradição da telenovela. Entretanto, contudo, todavia, inexplicavelmente, sem razão específica, ficou com gostinho de TV. Não é um juízo de valor, entendam-me bem, por favor, apenas a exposição de um fato. A correlação, para mim, ficou clara, beirando a obviedade. Olha para a tela de alguns metros quadrados e comparava imediatamente com a minha telinha de 24 polegadas. Só que com um porém: “24” é MUITO melhor que “M:I3”.
ps. Também me senti burro por não ter entendido direito – ou achado a explicação boba demais para ser o que eu entendi – aquele final rocambolesco. No mínimo, mal feito.
Um comentário:
a influência de 24 horas não podia ser melhor
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