sábado, 14 de janeiro de 2012

A arte de Platão

A relação de de Platão com a arte é emotiva, como, aliás, é da grande maioria das pessoas [menos, talvez, gente como o Antônio, personagem de Marcos Ricca em "Crime delicado", do Beto Brant]. No caso de Platão, porém, isso é mal-recepcionado.

É famosa a cena da "República", em que os poetas são expulsos da cidade perfeita que Sócrates está construindo na sua imaginação. É argumentado que eles são apenas imitadores, ou miméticos, numa expressão que eu prefiro, e portanto não produzem nada de primeira-mão [numa interpretação para lá de livre]. Além disso, eles - os poetas - também mostrariam cenas de baixos teores morais, incentivando, portanto, as práticas condenáveis. Além dessas passagens, há em outros trechos, de outros diálogos, diversos momentos em que Platão relega a arte a uma posição, se não secundária, ao menos de menos destaque.

Para mim, a arte era um elemento que assombrava Platão. Desafiava-o o fato de ela não se encaixar no seu esquema perfeito - no caso de sua cidade imaginada -, mas ele não conseguia simplesmente esquecê-la, como o amante que não sabe como se livrar da amada. No caso da expulsão da cidade, imagino - e aí já entro no terreno da ficção - que ele tenha agido mais para cumprir uma lógica que ele se auto-impunha, do que para respeitar a sua vontade, o seu querer. Deve ter ficado se martirizando por essa decisão, mas como um protoestóico, decidiu seguir em frente.


Porém, o que sempre me chamou a atenção dos diálogos platônicos - além do fato de serem muito bem escritos [ou traduzidos] - foi o fato de serem isso: são diálogos. Ele não escreve um tratado, não monta um colóquio, não esboça um artigo. Ele coloca personagens dialogando. Não pode ser à toa o fato de Platão ter convivido Sófocles e Eurípides, e ser de uma geração posterior de Ésquilo.

Ao mesmo tempo que ele critica a arte por não atingir o patamar que ele exigia, ele usa dos recursos dela, para atingir os seus. Como criar personagens inesquecíveis, como Sócrates.

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