É boa a campanha que diz que o pastor Marcos Feliciano não "me representa". Gosto de campanhas que são prioritariamente virtuais. Não acho que elas demonstram, num tom catastrófico, como ficamos preguiçosos ou despolitizados. Suspeito que sejam apenas o espelho de um tempo em que a internet - e as suas redes sociais - é [são] o(s) espaço[s] onde as pessoas se "encontram" e podem expor suas opiniões.
Além disso, é interessante ver como os assuntos ligados à intimidade são, aparentemente, mais complexos e motivam mais raiva que os, sei lá, ligados à causa verde. Basta lembrar que Blairo Maggi foi eleito motosserra de ouro e presidente da comissão de meio ambiente do mesmo congresso, que, aliás, tem como presidente do senado Renan Calheiros, que dispensa apresentações. Se Calheiros ainda recebeu um abaixo-assinado virtual, com mais de 1,6 milhão de assinaturas pedindo a sua saída, não vi nenhuma movimentação mais substanciosa contra Maggi, o cara considerado como o "rei da soja" e grande desmatador.
Já o infeliz Feliciano, que já se mostrou racista e homofóbico em cultos de sua igreja, além de aparentemente ser um explorador da fé alheia, recebe uma enxurrada de manifestações - a imensa maioria a que tenho acesso - contra ele. Ele conseguiu mobilizar até um protesto na vida real - coisa raríssima hoje em dia. Assim que ele foi confirmado, houve manifestações por várias cidades do Brasil - nas ruas! Recentemente artistas brasileiros até se beijaram em público para mostrar que são contrários à presença desse pastor que fundou sua própria igreja como o presidente da comissão que legisla, entre outros aspectos, sobre os direitos das chamadas minorias.
Porém há algo que me incomoda na frase: "Feliciano não me representa". A minha primeira reação é discordar profundamente. Infelizmente Feliciano - e todos os demais parlamentares, eleitos pelos mais recônditos recôncavos desse país - nos representam. Eles podem até não refletirem a opinião de um, dois ou 1,6 milhão de pessoas, mas se eles estão no Congresso Nacional, eles representam, sim, as vozes, as diversas vozes da nação.
Podemos discutir se as regras eleitorais são boas, válidas, ou verdadeiramente "representativas". Mas isso não muda o fato de, neste momento, os parlamentares serem os representantes diretos da sociedade civil na vida política. Podemos e devemos reclamar da maneira como a micropolítica de apadrinhamento e conchavos funciona, mas não dá para negar que aquelas pessoas lá no congresso foram escolhidas por eleitores que têm tanto poder quanto nós na hora da eleição: um voto.
O eleitor do Feliciano tem tanto direito de ser representado quanto o do Jean Wyllys. Desconsiderar um é acreditar que certos eleitores têm mais poderes porque estudaram até o mestrado, professam outro credo, são mais ricos, moram melhor. O voto não é qualitativo.
Ainda poderia ser aceito um outro argumento de até onde aceitar as diferenças: todos, talvez, concordemos que há, ou deveria haver, limites para o que se pode ou não propor. E esses limites estão expressos na Constituição. Portanto, não podemos ser pública e politicamente racistas e preconceituosos, por exemplo. Mas é a mesma constituição que impede o aborto ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Carta não é fixa no tempo e deve se adaptar aos anseios da sociedade.
Mas o que mais me incomoda com o "não me representa" é a possibilidade de interpretá-la como: esse senhor não tem nada a ver comigo. Como se ao dizer isso, o sujeito lavasse as mãos, tal Pilatos, e mostrasse que ele não votou no pastor, logo, não deve fazer nada para que a questão se modifique. E, para mim, é exatamente o oposto: porque eu não concordo com o ponto de vista desse senhor, porque ele não ilustra, não reflete os meus ideais, eu não o quero como meu representante.
Claro que essa interpretação é um detalhe menor na campanha toda. Mas como este detalhe apareceu para mim talvez tenha também surgido para outras pessoas. E não custa nada deixar claro que Feliciano não reflete as minhas ideias.
Além disso, é interessante ver como os assuntos ligados à intimidade são, aparentemente, mais complexos e motivam mais raiva que os, sei lá, ligados à causa verde. Basta lembrar que Blairo Maggi foi eleito motosserra de ouro e presidente da comissão de meio ambiente do mesmo congresso, que, aliás, tem como presidente do senado Renan Calheiros, que dispensa apresentações. Se Calheiros ainda recebeu um abaixo-assinado virtual, com mais de 1,6 milhão de assinaturas pedindo a sua saída, não vi nenhuma movimentação mais substanciosa contra Maggi, o cara considerado como o "rei da soja" e grande desmatador.
Já o infeliz Feliciano, que já se mostrou racista e homofóbico em cultos de sua igreja, além de aparentemente ser um explorador da fé alheia, recebe uma enxurrada de manifestações - a imensa maioria a que tenho acesso - contra ele. Ele conseguiu mobilizar até um protesto na vida real - coisa raríssima hoje em dia. Assim que ele foi confirmado, houve manifestações por várias cidades do Brasil - nas ruas! Recentemente artistas brasileiros até se beijaram em público para mostrar que são contrários à presença desse pastor que fundou sua própria igreja como o presidente da comissão que legisla, entre outros aspectos, sobre os direitos das chamadas minorias.
Porém há algo que me incomoda na frase: "Feliciano não me representa". A minha primeira reação é discordar profundamente. Infelizmente Feliciano - e todos os demais parlamentares, eleitos pelos mais recônditos recôncavos desse país - nos representam. Eles podem até não refletirem a opinião de um, dois ou 1,6 milhão de pessoas, mas se eles estão no Congresso Nacional, eles representam, sim, as vozes, as diversas vozes da nação.
Podemos discutir se as regras eleitorais são boas, válidas, ou verdadeiramente "representativas". Mas isso não muda o fato de, neste momento, os parlamentares serem os representantes diretos da sociedade civil na vida política. Podemos e devemos reclamar da maneira como a micropolítica de apadrinhamento e conchavos funciona, mas não dá para negar que aquelas pessoas lá no congresso foram escolhidas por eleitores que têm tanto poder quanto nós na hora da eleição: um voto.
O eleitor do Feliciano tem tanto direito de ser representado quanto o do Jean Wyllys. Desconsiderar um é acreditar que certos eleitores têm mais poderes porque estudaram até o mestrado, professam outro credo, são mais ricos, moram melhor. O voto não é qualitativo.
Ainda poderia ser aceito um outro argumento de até onde aceitar as diferenças: todos, talvez, concordemos que há, ou deveria haver, limites para o que se pode ou não propor. E esses limites estão expressos na Constituição. Portanto, não podemos ser pública e politicamente racistas e preconceituosos, por exemplo. Mas é a mesma constituição que impede o aborto ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Carta não é fixa no tempo e deve se adaptar aos anseios da sociedade.
Mas o que mais me incomoda com o "não me representa" é a possibilidade de interpretá-la como: esse senhor não tem nada a ver comigo. Como se ao dizer isso, o sujeito lavasse as mãos, tal Pilatos, e mostrasse que ele não votou no pastor, logo, não deve fazer nada para que a questão se modifique. E, para mim, é exatamente o oposto: porque eu não concordo com o ponto de vista desse senhor, porque ele não ilustra, não reflete os meus ideais, eu não o quero como meu representante.
Claro que essa interpretação é um detalhe menor na campanha toda. Mas como este detalhe apareceu para mim talvez tenha também surgido para outras pessoas. E não custa nada deixar claro que Feliciano não reflete as minhas ideias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário