Descobri recentemente a função social - essa necessidade que hoje em dia todas as instituições e pessoas precisam ter, uma espécie de "utilidade", ou, em outras palavras, a forma de ganhar dinheiro e não ser pobres ou "deficitárias" [palavrão dos palavrões] -, como dizia, descobri a função social da universidade: pensar. Isso, pensar. Esse hábito tão em desuso, que requer reflexão, isolamento, paciência, memória.
E para que precisamos pensar? Por que precisamos pagar algumas pessoas para pensar? E, como assim pensar? Bem, a resposta para todas essas questões é a libertadora frase que dá título a esse post: não precisamos saber tudo. E isso não precisa ser um desespero. Não precisamos ter opinião sobre tudo. Podemos relaxar e ver apenas a banda passar, cantando coisas de amor.
Isso pode soar estranho em um período em que há sommeliers - como diria, numa ótima sacada, um amigo no Facebook - de qualquer assunto em voga. Ou uma série de cínicos que, numa atitude superiora, de saber o que é ou não importante, desconsideram qualquer assunto em voga. Ou isto ou aquilo. Acho que estamos repetitivos. De toda forma, todo mundo sabe de tudo. Para exaltar, fazer piada, ou destruir. Parafraseando um certo grego, pelo meu lado, eu só sei que nada sei.
Reparem nesse blog: é uma série de contradições, sem tomada de posição clara, uma coleção de platitudes. Nada muito profundo, nada radical, sempre tentando encontrar um meio termo, um outro lado da opinião preponderante.
Mas, voltando ao fator "pensar": por que vamos pagar impostos para um fulano pensar, se podemos, todos, pensar como ele? O cara fica lá, apenas repetindo a posição do Rodin, para repentinamente gritar eureca, e dizer uma frase que ninguém consegue entender, além dos bajuladores de plantão [eu disse "plantão"!]? É isso? Mais ou menos.
A verdade é que a universidade deveria estar ligada direta ou indiretamente à sociedade em que vivemos. Podemos - e devemos - investir em ciência teórica, ou em filosofia. Porque sabemos que esses assuntos não estão descolados da nossa realidade, estão apenas anos-luz das nossas questões atuais, e eles nos preparam para o futuro que virá, para um presente que nem sabíamos que existia.
Fiquemos, contudo, com um exemplo mais mundano. Uma questão em que não há certos nem errados óbvios [como é o caso, por exemplo, desse pastor na comissão dos direitos humanos no Congresso: usar chapinha é errado!]. Como a história da retirada de árvores centenárias de regiões que passam por obras de reurbanização.
É claro que todos são contra a retirada de árvores, num primeiro momento. Ninguém, em sã consciência e razoavelmente centrado, é a favor de deixar a cidade menos verde. Mas qual é a possibilidade real disso acontecer? Os defensores das árvores dizem que o planejamento não leva em conta as árvores, o que seria um problema grave. Já o governo afirma que não há dinheiro para refazer o planejamento. E a obra é mais importante, para mais gente, que as árvores. E aí: como resolver esse impasse? Vamos às universidades, perguntar gente de urbanismo, história, botânica, pessoas que são pagas para pensar para chegar a uma conclusão que seja boa para, senão todos, a maioria das pessoas afetadas por essa mudança.
As discussões bancada verde x bancada progressista-a-qualquer-custo sempre, a meu ver, escondem uma outra questão subjacente. Vejamos o exemplo-mor: Belo Monte. Os verdes sacam a bola: a usina afeta milhares de pessoas. Milhares. Na maioria índios. Desmata. Acaba com equilíbrios ecológicos. O governo rebate: sem Belo Monte, corremos o risco de apagão. A bola volta para os ecologistas, que cortam: podemos substituir por outras fontes de energia. O governo se defende atacando: não há energia totalmente limpa e o custo/benefício da hidrelétrica é o melhor. A bola respinga para um pensador, um acadêmico, um sujeito da universidade que segura a pelota, para o jogo, e diz: a questão não é maior produção de energia, mas para que precisamos dessa energia. Antes de devolver a bola, ele lembra que os maiores consumidores de energia no Brasil são indústrias produtoras de alumínio, que, além de depender de uma outra indústria de extração, portanto destrutiva, nos traz poucas divisas, e incentiva uma industrialização que não passa de secundária, na melhor das opções. [Isso, claro, resumindo muito o resumo da história.]
Ou seja, a questão geralmente não é um tira ou não retira as árvores. Faz ou não faz usina. Mas para que precisamos de árvores, metrôs, usinas, índios. Precisamos de pessoas que consigam fugir do fla x flu da disputa apaixonada por um dos lados. Alguém que, como Guimarães Rosa, pense a terceira margem do rio.
E para que precisamos pensar? Por que precisamos pagar algumas pessoas para pensar? E, como assim pensar? Bem, a resposta para todas essas questões é a libertadora frase que dá título a esse post: não precisamos saber tudo. E isso não precisa ser um desespero. Não precisamos ter opinião sobre tudo. Podemos relaxar e ver apenas a banda passar, cantando coisas de amor.
Isso pode soar estranho em um período em que há sommeliers - como diria, numa ótima sacada, um amigo no Facebook - de qualquer assunto em voga. Ou uma série de cínicos que, numa atitude superiora, de saber o que é ou não importante, desconsideram qualquer assunto em voga. Ou isto ou aquilo. Acho que estamos repetitivos. De toda forma, todo mundo sabe de tudo. Para exaltar, fazer piada, ou destruir. Parafraseando um certo grego, pelo meu lado, eu só sei que nada sei.
Reparem nesse blog: é uma série de contradições, sem tomada de posição clara, uma coleção de platitudes. Nada muito profundo, nada radical, sempre tentando encontrar um meio termo, um outro lado da opinião preponderante.
Mas, voltando ao fator "pensar": por que vamos pagar impostos para um fulano pensar, se podemos, todos, pensar como ele? O cara fica lá, apenas repetindo a posição do Rodin, para repentinamente gritar eureca, e dizer uma frase que ninguém consegue entender, além dos bajuladores de plantão [eu disse "plantão"!]? É isso? Mais ou menos.
A verdade é que a universidade deveria estar ligada direta ou indiretamente à sociedade em que vivemos. Podemos - e devemos - investir em ciência teórica, ou em filosofia. Porque sabemos que esses assuntos não estão descolados da nossa realidade, estão apenas anos-luz das nossas questões atuais, e eles nos preparam para o futuro que virá, para um presente que nem sabíamos que existia.
Fiquemos, contudo, com um exemplo mais mundano. Uma questão em que não há certos nem errados óbvios [como é o caso, por exemplo, desse pastor na comissão dos direitos humanos no Congresso: usar chapinha é errado!]. Como a história da retirada de árvores centenárias de regiões que passam por obras de reurbanização.
É claro que todos são contra a retirada de árvores, num primeiro momento. Ninguém, em sã consciência e razoavelmente centrado, é a favor de deixar a cidade menos verde. Mas qual é a possibilidade real disso acontecer? Os defensores das árvores dizem que o planejamento não leva em conta as árvores, o que seria um problema grave. Já o governo afirma que não há dinheiro para refazer o planejamento. E a obra é mais importante, para mais gente, que as árvores. E aí: como resolver esse impasse? Vamos às universidades, perguntar gente de urbanismo, história, botânica, pessoas que são pagas para pensar para chegar a uma conclusão que seja boa para, senão todos, a maioria das pessoas afetadas por essa mudança.
As discussões bancada verde x bancada progressista-a-qualquer-custo sempre, a meu ver, escondem uma outra questão subjacente. Vejamos o exemplo-mor: Belo Monte. Os verdes sacam a bola: a usina afeta milhares de pessoas. Milhares. Na maioria índios. Desmata. Acaba com equilíbrios ecológicos. O governo rebate: sem Belo Monte, corremos o risco de apagão. A bola volta para os ecologistas, que cortam: podemos substituir por outras fontes de energia. O governo se defende atacando: não há energia totalmente limpa e o custo/benefício da hidrelétrica é o melhor. A bola respinga para um pensador, um acadêmico, um sujeito da universidade que segura a pelota, para o jogo, e diz: a questão não é maior produção de energia, mas para que precisamos dessa energia. Antes de devolver a bola, ele lembra que os maiores consumidores de energia no Brasil são indústrias produtoras de alumínio, que, além de depender de uma outra indústria de extração, portanto destrutiva, nos traz poucas divisas, e incentiva uma industrialização que não passa de secundária, na melhor das opções. [Isso, claro, resumindo muito o resumo da história.]
Ou seja, a questão geralmente não é um tira ou não retira as árvores. Faz ou não faz usina. Mas para que precisamos de árvores, metrôs, usinas, índios. Precisamos de pessoas que consigam fugir do fla x flu da disputa apaixonada por um dos lados. Alguém que, como Guimarães Rosa, pense a terceira margem do rio.
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