O transporte público é, na minha humilíssima opinião, o nosso principal problema [como escrevi aqui]. Repare, é a questão da cidade que afeta mais pessoas nos seus cotidianos. E de todas as classes sociais - salvo os muito ricos que se locomovem de helicóptero. Se você não pega o ônibus, porque é coisa de pobre, e você não quer se misturar, ou acha que o ônibus é muito ruim para você e prefere tomar um táxi, ainda assim você enfrenta o congestionamento causado pelo seu carro.
É também um problema que afeta, em bem menores graus, outras questões da cidade, como a favelização e, até, quem sabe, a violência. Cada pessoa deveria ter o direito de escolher entre passar mais tempo nos péssimos transportes pendulares e viver numa casa razoavelmente confortável ou viver mais próximo do trabalho, e optar por um casebre quase insalubre [por favor, considere essa suposta dualidade como uma generalização].
São Paulo é, das poucas cidades que eu conheço, a que tem o pior trânsito. Rio vem em segundo lugar, não muito atrás. Isso é fruto de uma proposta de incentivo a compra de carros, com a desculpa de que a economia deve continuar girando, e de apoio a um sentimento de posse e de ascensão social e status pessoal por meio do consumo de um bem defasado. Além, é claro, de um descaso quase completo por transportes de massa decente. Descaso completo nesse aspecto acontece no Rio.
Então, não entendo como ser contrário aos manifestantes que tentam diminuir o preço da passagem. A reivindicação imediata deles é das mais simples: diminuição, quase simbólica, do valor que se paga para usar esses transportes ruins. Há outras, um pouco mais duras, como o passe livre para estudantes - mas essa pauta maior faz parte do processo.
FILME 2,95 RJ from TRÊS FILMES on Vimeo.
É claro que haverá excessos quando se junta mais de três pessoas. Mas se o argumento para ser contra protestos e manifestações é o prejuízo público, sugiro acabar com eventos como o carnaval e o réveillon. Aproveita e coloca no pacote os eventos de futebol e os grandes shows em lugares públicos.
Além disso, ninguém me mostrou uma prova mais concreta de que as depredações tenham partido dos manifestantes - pelo que eu li e vi, o protesto era completamente pacífico até que a polícia começa os ataques. Aí, é guerra. E, para usar uma expressão que os militares - esses ídolos de um grupo saudosista da ordem e da ditadura - adoram repetir: na guerra, a única coisa boa é o seu fim.
Se um grupo que, de certa forma, representa boa parte da população [senão toda], mesmo que ela não queira ser representada por eles, vai às ruas pedir, com bastante e incisiva insistência, exigir que seja ouvido, que as autoridades aceitem suas vontades, eu dou todo o meu quase dispensável apoio. Concordo totalmente como uma faixa mostrada aos motoristas no último protesto do Rio mostrava: "Desculpe o transtorno, estamos protestando pelos seus direitos".
Se qualquer desses argumentos mais práticos não servir, ainda há o ideológico. Essas manifestações destroem a ficção de que brasileiro não gosta de protestar. Talvez só faltasse um elemento catalisador, algo que despertasse a revolta em cada uma das pessoas envolvidas, cada um dos cidadãos. E para tanto, nada melhor [ou pior] do que enfrentar um engarrafamento dentro de um ônibus lotado e sem ar condicionado, num dia de sol a pino, sabendo que a passagem aumentou sem qualquer benefício direto, e que o seu salário não subiu na mesma velocidade, e, ainda tendo horário para chegar no trabalho / colégio, sabendo que o seu chefe / a diretora não gosta que você se atrase. Dá ou não dá vontade de queimar o ônibus?
É também um problema que afeta, em bem menores graus, outras questões da cidade, como a favelização e, até, quem sabe, a violência. Cada pessoa deveria ter o direito de escolher entre passar mais tempo nos péssimos transportes pendulares e viver numa casa razoavelmente confortável ou viver mais próximo do trabalho, e optar por um casebre quase insalubre [por favor, considere essa suposta dualidade como uma generalização].
São Paulo é, das poucas cidades que eu conheço, a que tem o pior trânsito. Rio vem em segundo lugar, não muito atrás. Isso é fruto de uma proposta de incentivo a compra de carros, com a desculpa de que a economia deve continuar girando, e de apoio a um sentimento de posse e de ascensão social e status pessoal por meio do consumo de um bem defasado. Além, é claro, de um descaso quase completo por transportes de massa decente. Descaso completo nesse aspecto acontece no Rio.
Então, não entendo como ser contrário aos manifestantes que tentam diminuir o preço da passagem. A reivindicação imediata deles é das mais simples: diminuição, quase simbólica, do valor que se paga para usar esses transportes ruins. Há outras, um pouco mais duras, como o passe livre para estudantes - mas essa pauta maior faz parte do processo.
FILME 2,95 RJ from TRÊS FILMES on Vimeo.
É claro que haverá excessos quando se junta mais de três pessoas. Mas se o argumento para ser contra protestos e manifestações é o prejuízo público, sugiro acabar com eventos como o carnaval e o réveillon. Aproveita e coloca no pacote os eventos de futebol e os grandes shows em lugares públicos.
Além disso, ninguém me mostrou uma prova mais concreta de que as depredações tenham partido dos manifestantes - pelo que eu li e vi, o protesto era completamente pacífico até que a polícia começa os ataques. Aí, é guerra. E, para usar uma expressão que os militares - esses ídolos de um grupo saudosista da ordem e da ditadura - adoram repetir: na guerra, a única coisa boa é o seu fim.
Se um grupo que, de certa forma, representa boa parte da população [senão toda], mesmo que ela não queira ser representada por eles, vai às ruas pedir, com bastante e incisiva insistência, exigir que seja ouvido, que as autoridades aceitem suas vontades, eu dou todo o meu quase dispensável apoio. Concordo totalmente como uma faixa mostrada aos motoristas no último protesto do Rio mostrava: "Desculpe o transtorno, estamos protestando pelos seus direitos".
Se qualquer desses argumentos mais práticos não servir, ainda há o ideológico. Essas manifestações destroem a ficção de que brasileiro não gosta de protestar. Talvez só faltasse um elemento catalisador, algo que despertasse a revolta em cada uma das pessoas envolvidas, cada um dos cidadãos. E para tanto, nada melhor [ou pior] do que enfrentar um engarrafamento dentro de um ônibus lotado e sem ar condicionado, num dia de sol a pino, sabendo que a passagem aumentou sem qualquer benefício direto, e que o seu salário não subiu na mesma velocidade, e, ainda tendo horário para chegar no trabalho / colégio, sabendo que o seu chefe / a diretora não gosta que você se atrase. Dá ou não dá vontade de queimar o ônibus?
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