Há muitos problemas na sociedade contemporânea, mas eu arrisco dizer que eles podem ser resumidos em um binômio: segurança x liberdade. Há um sentimento bastante espalhado, mas não unânime, que esses dois polos se equilibrariam em uma gangorra: quando um sobe, o outro desce. É assim, ao menos eu os interpreto assim, que são vendidos os argumentos que defendem o Estado contra as manifestações populares no mundo inteiro.
A segurança e a liberdade podem vir travestidas com outros nomes. Na Turquia, o caso mais à mão sem considerar o brasileiro, o primeiro-ministro Erdogan diz que ele pode fazer qualquer coisa que quiser porque a maioria da população o apoia. Ele tem mais de 50% de satisfação e foi eleito três vezes para o cargo mais importante do país. Deve acreditar que esse apoio nasceu com o crescimento econômico que sua política imprimiu. Daí, faz a proposta, como se fosse uma barganha típica daquelas cabines surdas de programa de televisão: você quer trocar a segurança [econômica, o emprego, o crescimento, etc.] por liberdade [poder protestar, beber cerveja, beijar na boca no metrô e andar de minissaia]? Algumas pessoas estão dizendo "sim", sem nem precisar tapar os ouvidos.
No mais recente escândalo dos EUA, o processo é parecido: você troca a sua liberdade [privacidade, uma vida só sua sem que ninguém possa interferir] por segurança [o Estado te protegendo contra o terrorismo internacional entre outros males sem rosto]? Os cidadãos americanos devem estar na dúvida entre ser a "terra do livre" ou o "lar dos bravos", como sugere o hino "Star Spangled Banner", deles.
No Brasil, idem. Sempre foi a mesma coisa, aliás. A luta pela abolição da escravidão é o caso mais óbvio, exatamente porque "liberdade" aí não era metáfora. Mas se repete sempre. A ditadura - e novamente "liberdade" não é metáfora - foi instaurada para acabar com a bagunça, representada à época pelo governo democrático, ou pelo perigo iminente do golpe do terrorismo, para dar a segurança a seus cidadãos. Deu um golpe para não tomar um golpe. É o golpe preventivo. Aquela imagem [provavelmente falsa] que circulou pela internet dando o crédito para a Globonews com o seguinte lettering "Polícia fecha a Avenida Paulista para evitar que manifestantes fechem a Avenida Paulista" apenas repete a história como tragédia. Outra tragédia.
O curioso é que esses dois elementos [segurança x liberdade] não são excludentes. Não é preciso escolher um lado, optar por uma das opções. É possível ter segurança e liberdade ao mesmo tempo. É trabalhoso, muito complicado, mas é possível, sim. Saber quais são os limites da liberdade de um para não afetar a segurança do outro. Em alguns países, costumam chamar esse processo de "democracia" - não confundir com vícios estatístico-demográficos. É a menos pior maneira de se governar, de se guiar um Estado, como bem disse Churchill em uma de suas frases lapidares.
Suspeito que se deixar para o povo decidir entre a liberdade e a segurança, é possível que em alguns momentos possamos escolher, como grupo humano que recém saiu das cavernas, o segundo item. Mas em geral, acredito que tendemos, como homens e mulheres que saímos desses lugares às sombras para encarar o sol a pino sem óculos escuros, ao primeiro. Porque o critério que define "segurança" é coletivo, portanto tem limites passageiros, negociáveis, discutíveis. Já o de "liberdade", não.
A segurança e a liberdade podem vir travestidas com outros nomes. Na Turquia, o caso mais à mão sem considerar o brasileiro, o primeiro-ministro Erdogan diz que ele pode fazer qualquer coisa que quiser porque a maioria da população o apoia. Ele tem mais de 50% de satisfação e foi eleito três vezes para o cargo mais importante do país. Deve acreditar que esse apoio nasceu com o crescimento econômico que sua política imprimiu. Daí, faz a proposta, como se fosse uma barganha típica daquelas cabines surdas de programa de televisão: você quer trocar a segurança [econômica, o emprego, o crescimento, etc.] por liberdade [poder protestar, beber cerveja, beijar na boca no metrô e andar de minissaia]? Algumas pessoas estão dizendo "sim", sem nem precisar tapar os ouvidos.
No mais recente escândalo dos EUA, o processo é parecido: você troca a sua liberdade [privacidade, uma vida só sua sem que ninguém possa interferir] por segurança [o Estado te protegendo contra o terrorismo internacional entre outros males sem rosto]? Os cidadãos americanos devem estar na dúvida entre ser a "terra do livre" ou o "lar dos bravos", como sugere o hino "Star Spangled Banner", deles.
No Brasil, idem. Sempre foi a mesma coisa, aliás. A luta pela abolição da escravidão é o caso mais óbvio, exatamente porque "liberdade" aí não era metáfora. Mas se repete sempre. A ditadura - e novamente "liberdade" não é metáfora - foi instaurada para acabar com a bagunça, representada à época pelo governo democrático, ou pelo perigo iminente do golpe do terrorismo, para dar a segurança a seus cidadãos. Deu um golpe para não tomar um golpe. É o golpe preventivo. Aquela imagem [provavelmente falsa] que circulou pela internet dando o crédito para a Globonews com o seguinte lettering "Polícia fecha a Avenida Paulista para evitar que manifestantes fechem a Avenida Paulista" apenas repete a história como tragédia. Outra tragédia.
O curioso é que esses dois elementos [segurança x liberdade] não são excludentes. Não é preciso escolher um lado, optar por uma das opções. É possível ter segurança e liberdade ao mesmo tempo. É trabalhoso, muito complicado, mas é possível, sim. Saber quais são os limites da liberdade de um para não afetar a segurança do outro. Em alguns países, costumam chamar esse processo de "democracia" - não confundir com vícios estatístico-demográficos. É a menos pior maneira de se governar, de se guiar um Estado, como bem disse Churchill em uma de suas frases lapidares.
Suspeito que se deixar para o povo decidir entre a liberdade e a segurança, é possível que em alguns momentos possamos escolher, como grupo humano que recém saiu das cavernas, o segundo item. Mas em geral, acredito que tendemos, como homens e mulheres que saímos desses lugares às sombras para encarar o sol a pino sem óculos escuros, ao primeiro. Porque o critério que define "segurança" é coletivo, portanto tem limites passageiros, negociáveis, discutíveis. Já o de "liberdade", não.
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