quinta-feira, 17 de abril de 2014

A arte como utilidade

Um homem não deve confessar que é um artista. O fato lhe confere de alguma forma superioridade, causando imediata inveja ou outra reação violenta do tipo. Um amigo meu tem QI altíssimo esconde isso, como quem esconde a chave do cofre. Ninguém pode saber. É um segredo entre os artistas, mas eles sabem quem são, reconhecem sua turma. A palavra “arte” devia ser abolida, está gasta. Nunca conseguiu desvencilhar-se da aristocracia. Corroída pelos que sem entendê-la, odeiam-na. Perdeu o vigor. Um “filme de arte” é um palavrão. Recomendo trocar por “filme útil”. Por que isso que a arte é, acima de tudo: útil.   Único bisturi que alcança a esperança de resgate do mundo. Atualmente, por falar nisso, há uma certa ideia constrangedora de que o cinema, por exemplo, deve dar ao seu espectador o que ele quer e não o que ele precisa. Certamente não é uma coisa que se diga alto, nem que se possa defender. Qualquer ser pensante sabe da importância social da arte e sua privilegiada contundência na formação e no caráter das pessoas. Todo problema social é na verdade cultural. No aprimoramento das pessoas reside a chance única de evitar o caos iminente. O mercado é o caos. O cinema pode ser um bom negócio, tomara que seja. Mas não pode ser apenas um negócio. Sem arte é a barbárie, embora a obviedade da ideia, muitos não entendem, não tem esse compromisso.
Digam o que quiserem de Domingos de Oliveira, menos que ele não é um grande frasista. Essa entrevista é toda ótima.

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