Rachel Sheherazade |
Bem, a resposta óbvia é: a lei. Ou seja, enquanto estivermos dentro da lei podemos fazer qualquer coisa. Mas, e novamente, não é o suficiente. A própria lei é interpretativa - e assim deve ser. Se seguirmos a informação da notícia citada acima, haveria uma intenção de apresentar queixa contra a apresentadora, alegando que ela teria feito uma apologia ao crime, o que é contra a lei, ao elogiar o grupo que prendeu o menino negro no poste no Flamengo. Portanto, ela teria cometido um crime, logo não poderia mais estar no ar. Mas quem vai dizer que isso é apologia ao crime é um juiz, ou seja, não é algo matemático, infalível. É sujeito a interpretações, preconceitos, juízos, erros. O juiz é humano, felizmente.
Ouvi dizer que a retirada dela do ar seria um ato de censura. O governo não poderia se meter na liberdade que a TV teria de transmitir o que quisesse. Seguindo esse raciocínio, as TVs poderiam exibir o que quisessem, na hora que quisessem. A cena de estupro de "Irreversível" no café-da-manhã, por exemplo. Caberia ao indivíduo, de posse de suas faculdades mentais, decidir se quer ou não ver tal filme, e a hora que ele quer ver. Em caso de crianças, essa autorização caberia aos pais, ou tutores.
A segunda afirmação parece a mais enobrecedora: parece que dá uma dignidade ao ser humano, a ponto de ele ser livre a ponto de fazer o que quiser. Lembra, por exemplo, o argumento a favor do casamento gay: as pessoas fazem o que quiserem com os seus próprios corpos, ninguém tem nada a ver com isso. Querer regular o comportamento privado dos indivíduos é apenas um dos traços do moralismo vigente.
Por que, então, não dá certo? Bem, porque, como diz lá dona Hannah Arendt em "A condição humana", não somos o Homem, mas os homens. Para algumas pessoas, o simples pensamento de um homem transar com outro homem é uma agressão. Existir isso no mundo, uma afronta. Essa pessoa, de posse de sua liberdade de ação, se acha no direito de vir a público reclamar da liberdade de outras pessoas em usarem suas liberdades.
Pode-se argumentar: o sujeito tem o direito de vir a público reclamar das liberdades privadas dos outros. OK. Mas e se ele não apenas reclamar, e se ele quiser agredir fisicamente casais gays? Ele não teria direito? Já escuto: não, isso não. Mas e quando se usa palavras muito duras, isso não seria também uma forma de agressão? Quem consegue regular qual é o limite da agressão das palavras? Palavras podem ser usadas, punhos, não? E outras agressões? Há limite para isso?
Suspeito que as liberdades ilimitadas sejam conflitantes.
2 comentários:
Não sou uma pessoa com o dom da palavra ou até mesmo da escrita. Mas me coloquei ao questionamento da pergunta feita. "Qual o limite da liberdade". Logo me veio a cabeça a seguinte resposta. Esse limite depende de quem o impõem. Vivemos em um mundo onde a hipocrisia toma conta de tudo. Valores de determinados atos são pesados de acordo com os interesses de uma minoria, mas que tem um poder de determinar o que deve ou não deve ser feito. Não me agride saber sobre a luta dos casais gays para conquistarem alguns direitos, ou de prostitutas ou que seja qualquer fato onde as pessoas estão tentando apenas buscar seu lugar ao sol e buscarem dentro de seus conceitos a felicidade. O que me agride é a mentira, a manipulação para interesses dessa minoria.É a violência contra os indefesos, contra as mulheres contra os animais. Esse limite da liberdade continuara restrito enquanto essa minoria determinar o que deve ou não deve ser.
Bem, então se levanta uma outra questão, que se desdobra em outras mais: como a maioria vai ter o poder de determinar os rumos das decisões políticas? Em tese, a democracia é representativa - e majoritária.
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