quarta-feira, 31 de maio de 2006

Resenhas, palpites e pitacos

Há meses, uma amiga me disse que eu deveria ler "Pena de Aluguel", de uma de suas chefas, Cristiane Costa. Comecei a ler, fiquei empolgado, resolvi que escreveria sobre ele antes de terminar, porque tenho uma teoria que devemos resenhar uma obra antes de completá-la para ainda estarmos no auge da euforia, mas perdi o time. Entretanto, "Pena...", que fala sobre escritores-jornalistas, me levou a Antônio Fernando Borges. Não foi só o livro de Cristiane, mas ele contribuiu bastante, digamos assim.

Borges, como o nome pode sugerir, presta homenagem direta ao outro. Até o momento, AF Borges publicou três ficções, duas com referências explícitas ao argentino. Comprei primeiro o "Memorial de Buenos Aires", que, como se pode intuir pelo título, também tem o Machado como uma de suas personagens principais, mesmo que ele seja uma referência da narrativa. Fiz a mesma promessa: escrever antes de terminar. Dessa vez não deu tempo mesmo. Gostei tanto, fiquei tão fissurado pela leitura que acabei lendo-o em dois dias. É uma obra inteira de piada-interna, por isso, talvez, não funcione para qualquer um. Mas é ótimo quando você entende e ri dessas internal jokes.

Ato reflexo, procurei a primeira incursão ficcional do AF Borges: "Que fim levou Brodie?", também com referências ao Brujo. Mas, na mesma oportunidade, abri outra exceção para os contemporâneos e adquiri "Quem matou o escritor?", do Sérgio Rodrigues. Novamente a saga: escrever antes de terminar. Novamente, não foi possível. Mas, como ainda está recente, posso sugerir umas linhas mestras que me ocorreram durante a leitura. "Quem matou..." me pareceu um animal vivo. Diferentemente das obras a que eu estou mais que acostumado - de escritores já falecidos - parece que estamos falando de uma obra que retrata o dia-a-dia das ruas. Algo ou alguém que você pode encontrar na rua, a qualquer momento. Não chega a ser realista, mas aborda o realismo de uma maneira over, como se utilizasse uma lente para chegar mais perto dos fatos narrados.

Ainda estou lendo "Que fim levou Brodie?", logo estaria dentro da minha teoria. O problema é que o post está imenso e misturando assuntos completamente diferentes, sem aprofundar nenhum. Logo, deixo para outro dia.
Agora vai...

Na Copa de 94, tínhamos Paulo Sérgio (alguém se lembra), Ronaldão (cabelos quadrados), Gilmar (el bigode). Em 1998, Gonçalves (meu deus), Júnior Baiano (uau) e ZÉ CARLOS (!!!). Já no Japão-e-Coréia, em 2002, Anderson Polga (efeito Felipão) e Vampeta (vulgo Cambalhotas). Agora, tínhamos quem? Cris? Não. Gilberto? Talvez. Mas não, não é comparável a um Doriva (98), por exemplo. Não, definitivamente, não tínhamos um completo desconhecido na Seleção.

Pela primeira vez desde sei lá quando, ou desde que eu me entendo por gente, que é a mesma coisa, não há um cabeça-de-bagre completamente anônimo para a grande massa. Bem, o conceito não é exatamente a fama, já que Júnior Baiano e Vampeta não eram, nem são, estranhos para o incauto. Mas um jogador que, sozinho, provocaria polêmica ao ser convocado. Não tínhamos. Vem aí, o gaúcho Mineiro, do São Paulo. Isso mesmo. Mais lembrado como o autor do gol do tricolor paulista na final do campeonato mundial interclubes do ano passado contra o Liverpool. E só por isso mesmo. Na seleção, jogou menos de três partidas.

Eu, que acredito mais em superstição que em lógica quando o assunto é Copa do Mundo, acho que agora e SÓ AGORA temos alguma chance de vencer a competição. Só para que o Mineiro seja lembrado (ou esquecido) como um campeão mundial de seleções.
Isso é matéria para algum lugar?

terça-feira, 30 de maio de 2006

Muito melhor que a versão nacional

"Por ter começado a escrever contos eróticos sem nunca antes ter lido um, achei que era uma boa hora de começar. Depois pensei bem e achei que devia "começar pelo princípio", ou seja, estudando a história da literatura erótica. Esse livro foi muito importante como ponto de partida.

Fala sobre a origem e o aparecimento da literatura erótica até o ano 2000. Quanto às origens, não é possível determinar com precisão quando surgiu, apesar da tendência em acreditar que foi juntamente com a literatura, há quase 5000 anos atrás na Mesopotânia. A grande dificuldade em ter essa precisão é porque não se sabe definir o que era ou não erótico 5000 anos atrás."

Paula Lee, que se auto-define como uma amante profissional.

(Via Pedro Doria)
Posicionamento interessante:

"Mas Rosa dizia que não se pode separar obra e biografia. Para entender melhor sua obra-prima, ajuda muito saber como ele foi, quais experiências testemunhou, quais interesses cultivou"
Caramba. Nunca tinha visto uma filósofa nua.



Simone de Beauvoir na Ilustrada de hoje.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Sempre é bom um Radiohead. Mesmo que antigo.

Ricardo Piglia vem ao Brasil para a Flip. Conheci-o quase que por acaso, já que recebi em um aniversário um de seus livros de ensaios que analisa o formato do conto moderno (que teria em "Dublinenses" de Joyce, o seu maior expoente). Entretanto havia muitas referências ao outro argentino. Fiquei bem interessado. Quando fui à Argentina, resolvi comprar um livro dele ("Respiración artificial") de onde peguei emprestado para uso futuro a expressão "policial existencial". Gostaria de assistir à sua palestra.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Brett Rattner, o sujeito do "luz, câmera, ação" em xm3n, rebatendo críticas de que ele mudou muito o estilo de Synger e/ou colocou mais explosões em detrimento das psicologias:

"The difficulty was keeping the tone of the first two movies which was already established but which is fantastic, which Bryan did a great job doing. And then kind of focusing on the emotionality of the story and the characters. That was my focus"

Toda a entrevista no Cinema Blend.
Cópia da cópia, mas por um bom motivo:

"Ligue 0800-619619. Não digite nada. Espere para falar com uma atendente. Diga que é para votar a favor do cancelamento da taxa de telefone fixo, que custa R$ 37,02. A Lei é a nº 5476. O assunto não está sendo veiculado na TV ou rádio porque as empresas não têm interesse neste tipo de divulgação. O telefone é da Câmara dos Deputados. Mesmo se não for você quem paga o telefone da sua casa, exerça seus direitos. As ligações são aceitas de segunda à sexta-feira, das 08h às 20h.

As ligações são rápidas. É necessário informar apenas seu nome completo, a cidade onde mora e o número do telefone fixo de sua residência. Quando a lei entrar em vigor, quem estiver cadastrado só pagará pelas ligações efetuadas. Este projeto está tramitando na Comissão de Defesa do Consumidor na Câmara. Quanto mais pessoas ligarem, mais fácil será para o projeto ir à votação."
Ah, as editorias de ciência...

"Cientistas criaram em laboratório um pênis novo para coelhos com problemas de ereção. Um mês depois de ter o novo pênis implantado, o coelho conseguiu acasalar e procriar normalmente. A técnica envolve um novo método de engenharia de tecidos que usa as próprias células do animal para reconstruir o tecido e a estrutura peniana. De acordo com os especialistas do Wake Forest Institute for Regenerative Medicine in Winston-Salem, Carolina do Norte, responsáveis pela façanha, a nova técnica poderá, no futuro ajudar no tratamento de homens com disfunção erétil severa"

(não achei o link, mas é do Globon)

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Ô, a falta de assunto

Tutty Vasquez reclama, à sua maneira, da ausência de Roque Júnior na Seleção (aliás, é com "s" maiúsculo ou minúsculo?... Deixo "S". Como substantivo próprio.)
"A seleção que vai à Copa está pessimamente escalada. Os laterais Cafu e Roberto Carlos não correm mais atrás de ninguém, e no meio-campo há um único jogador de marcação, o igualmente ancião Emerson. Os dois zagueiros devem estar em pânico. Dali para frente, só malabaristas. E não será sequer um time forte na armação de jogadas, porque o tal quadrado mágico – Ronaldinho, Kaká, Ronaldo e Adriano – é todo de atacantes corredores, com pouquíssimo expediente no departamento de planejamento e articulação do jogo. Um time visivelmente desequilibrado e vulnerável. Mas quem vai querer desafinar o oba-oba?"

Guilherme Fiuza, sempre polêmico. Mas que estou com medo dessa seleção-favorita, ah, eu estou...
Para os invejosos de plantão...

Na cabine de x-m3n, não nos foi mostrado os créditos da produção. foi até meio estranho, já que o fim, meio chocante, ainda não estava totalmente deglutido. Com um pouco de insistência, ligaram o projetor novamente e podemos ver os nomes subindo. Mas, junto a isso, ligaram as luzes e o clima foi se dispersando. Como eles tinham atrasado uma hora para começar o filme por problemas técnicos (a fita veio rebobinada ao contrário, tiveram que remontá-la na sala de projeção), não tinha tempo para perder vendo os nomes de Hugh Jackman, Halle Berry e cia.

Qual foi a minha surpresa quando, hoje, encontro isso e isso. E, principalmente, isso.

Droga. Quero ver de novo o filme.

terça-feira, 23 de maio de 2006

Língua e (é) identidade

Maria Pankararu, de 42 anos, se doutorou em lingüística na Ufal. Até aí nada. Nem deveria ser, para falarmos a verdade. Maria virou notícia nacional porque foi a primeira índia a atingir esse grau na academia. Não deveria ser, para falarmos a verdade.

Sua entrevista é imprescindível.
Aula de inglês

(clonado do Martelada)

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Novas do Pai Pinto.
Pelo menos uma boa notícia nesta segunda

Copio o meu comentário:

"Sempre é difícil falar que uma música específica é a mais importante do mundo ou a que você mais gosta. Mas, no caso de "Lonely Soul", eu arriscaria esse tipo de alcunha.

Sem contar que foi o Shadow que me "apresentou" a música eletrônica e acabou para sempre com todo e qualquer preconceito que um dia já tive."

quinta-feira, 18 de maio de 2006

A última parada


Confesso que a minha expectativa era baixa - o que pode justificar a minha grata surpresa. Logo se esse é o seu caso, pare por aqui, já que, para usar um eufemismo, elogiarei o longa.

Mesmo que não alimentasse grandes esperanças por essa terceira edição de "X-men" (por causa da substituição de Bryan "Os suspeitos" Singer por Brett "Dragão Vermelho" Ratner), o longa me fez dormir menos que o necessário para estar cedo (não muito) na cabine. Não me arrependi. Pelo contrário.

X-men, ao contrário das outras adaptações de quadrinhos, é algo mais social - no sentido de envolver toda a sociedade. Além do fato óbvio de ser uma equipe, os mutantes foram criados numa época em que serviam de metáfora para as aceitações raciais nos EUA.

Sobre este longa, pode-se dizer que não há fidelidade com as HQs, como, aliás, acontecia nos outros. Mesmo que eu não seja um grande expert no professor Xavier e cia, é possível perceber as nuances. Mas se há infidelidade, esta está na parte estrutural - Wolverine não se envolve tão intimamente com Jean Grey, por exemplo. A alma dos protagonista está lá, intacta.

A terceira incursão nas telonas dos mutantes não muda muito o foco dos anteriores, nem precisava muito. Desta vez a confusão é porque se descobriu uma fórmula que transforma mutantes em seres humanos sem poderes. Magneto, claro, não gostou da história. Junte a isso que eles fazem uma versão da história da Fênix, ou seja, Jean Grey está com problemas para dominar seus próprios poderes e temos "X-Men: the last stand".

Diferente dos anteriores, este é um longa mais ácido. Cruel, até. Como os outros, te prende do início ao fim. Mas, ao fim, você sai mais chocado.

Que venham os filmes sobre Magneto e Wolverine.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Carnificina que ninguém vê

Oficialmente, o número de mortos já ultrapassaram o do Carandiru (111). Extra-oficial, ninguém sabe. Só que o número de policiais parou em menos de 50. O restante é de civis. Se bandido ou inocente, ninguém sabe.
15 minutos de fama. 16, 17.

terça-feira, 16 de maio de 2006

Medo escondido

"Caché" (escondido em francês) é um filme que aborda o medo, em suas mais diferentes vertentes. Seja no filho que tem medo de ser menosprezado pelos pais e inventa mentiras sobre o irmão adotivo; seja na família de classe-média que se sente vigiada e não sabe de onde nem por que as fitas com imagens do seu cotidiano estão sendo feitas; seja nos franceses que pensam que serão atacados a qualquer momento por argelinos.

E, por mais que o filme de Michael Haneke ("A professora de piano") se restrinja a um microcosmo específico, no caso, Paris, ele faz valer a máxima do alcance global. O Francês, substantivo próprio, pode ser substituído a qualquer momento por Americano ou Brasileiro-branco-rico, enquanto o Argelino seria trocado por Latino ou Brasileiro-preto-pobre, sem, por isso, perder nenhuma de sua contundência.

Fora isso, Haneke consegue imprimir um terror psicológico na película sem usar nenhum dos cacoetes/clichês do genero (música de suspense, câmera lenta, etc.) apenas usando a situação inusitada. Só por isso já valeria totalmente o ingresso.

Por mais que sofra da síndrome do "acabou?", que tende a incomodar ao espectador mais (como Eros chamou em sua crítica) cartesiano, acredito que a intenção era desmerecer o fator "sexo, mentiras e videotape" do filme. Como se Haneke (um tradicional intelectual francês, só que austríaco) apontasse: "não prestem atenção nisso, falo de outra coisa". No caso, o medo.
Um dia sem navegar direito e... várias coisas boas.

"As duas principais denominações pentecostais são a Assembléia de Deus e a Universal do Reino de Deus (URD). Entre elas, no entanto, há diferença de comportamento. Enquanto a Assembléia de Deus concentra-se nas áreas mais pobres, principalmente na Baixada Fluminense, a URD está mais presente nos subúrbios de classe média, onde a pregação da teologia da prosperidade faz mais eco entre fiéis ávidos pela terra prometida do emprego e da perspectiva de empreendimentos econômicos que, uma vez bem-sucedidos, reverterão em maior volume de doações."

(daqui a pouco, se der, pitacos sobre "Caché")
Mudando de assunto: enquanto o sétimo disco não vem...

"Thom Yorke se prepara para lançar seu primeiro disco solo,"The Eraser", em julho".
Manda quem pode, obedece quem tem juízo

"A cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) deu ordem ontem para cessar os atentados e rebeliões em São Paulo, após dois dias de negociações com representantes do governo do Estado."

E logo depois:

"O comandante-geral da PM, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, negou nesta terça-feira que o governo tenha feito um acordo com o líder do PCC, Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, para que a série de rebeliões e ataques ocorrida no Estado terminasse. Ele, porém, admitiu que houve uma "conversa" com o preso no domingo (14)."
O Clóvis Rossi de hoje está, simplesmente, imperdível.

Aconselhado por JB Moreno.
Pelo menos, alguém fala dos motivos:

"O monstro do PCC, que domina as penitenciárias paulistas e controla parte do crime do lado de fora, está reagindo porque se sentiu ameaçado. O que provocou o PCC foi uma medida, em princípio positiva da Secretaria de Administração Penitenciária. Os presos reivindicavam alguns benefícios, como expansão dos direitos de receber visitas íntimas e banhos de sol para os que estão em regime disciplinar diferenciado (RDD). O RDD é justamente o sistema mais seguro que a administração penitenciária aplica aos presos mais perigosos ou que cometeram falhas graves dentro do sistema. Na prática, também é o sistema aplicado para tentar reduzir a comunicação de líderes do PCC na cadeia. Como forma de protesto e pressão, o PCC planejava uma onda de rebeliões nas cadeias no Dia das Mães. Mas a administração penitenciária descobriu o plano e tentou desarticular o movimento, antecipando na sexta-feira, dia 12, a transferência de alguns líderes do PCC de diversas cadeias para a penitenciária de Presidente Venceslau. Lá, estariam sob o regime de segurança máxima. Aparentemente, foi esse o estopim para os ataques terroristas do PCC. "
Como se enganar uma mulher por 17 anos?

Pergunte ao "Mr. J".

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Canal Brasil

"Duas novas bandas brasileiras virão os Estados Unidos neste verão em uma turnê que vai explodir os estereótipos da música deste país."

A primeira é o Cansei de Ser Sexy, que nos EUA se chamará apenas CSS, e a segunda é o Bonde do Rolé (ou Rolê, sei lá), que, lá, vai perder apenas o acento, qualquer que seja. O Cansei... é, bem, cansativo. Repetem uma fórmula de electro, chaaaata toda vida. Do Bonde... não posso tecer comentários, já que não tive o prazer de auscutá-los. Mas fazem o tradicional funk carioca paranense. Isso, eles são lá de Curitiba e fazem o sucesso nos States que todo funqueiro gostaria de fazer.

A notícia é velha, mas não deixa de causar espanto encontrá-la em site grande e gringo.

Retifico o que eu disse: acabei de acessar o MySpace no Bonde... e pude conferir uma das suas músicas. Riff de guitarra do Darkness (to com preguiça de procurar o nome da música), bateria eletrônica que já foi chupada por meia dúzia de vinte músicas (idem ao parêntese[1] anterior), letras beirando o escatológico... É, realmente é um funk carioca paranaense.

[1] Vocês sabiam que existe o singular de "parênteses"? Tive que ir ao Orélio...
Família partida

"Filmes sobre famílias disfuncionais podem ser considerados hoje um gênero à parte no cinema independente americano, não apenas pelas repetições temáticas, mas também pelas convenções estéticas (como a tentativa de dar às produções um visual de vídeo caseiro). "

Fico muito surpreso quando alguém, sem querer, concorda com as minhas opiniões.
Curso Madame Natasha de Piano e Português para o Gil, por favor

“O Brasil opera o espírito do tempo. Eu me recuso a desqualificá-lo, em nome da minha humanidade. Precisamos nos livrar da negatividade explícita nos ismos redutores. Os homens vitais não podem mais falar em nome dos reducionismos ou adotá-los. É questão de fé”.

a letra da música saiu aqui.

Via Nonsense.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Momento tiete

Desde os tempos em que era somente "N.O.", o atual Nomínimo se destaca na internet como uma espécie de revista eletrônica, mistura de Salon, Wired e Slate. Ou seja, reuniu quase todas as melhores cabeças do jornalismo contemporâneo brasileiro publicando textos sobre assuntos específicos, ou aceitando colaborações de gente de fora pagando de verdade.

Tudo isso para dizer que eles mudaram e ficaram ainda melhor. Agora, há espaços mais delimitados que abarcam assuntos específicos. Tipo: Ricardo Calil, que já era o meu crítico de cinema preferido da atualidade, tem um blog sobre produtos áudio-visuais. Sérgio Rodrigues acumula as funções do seu "A palavra é..." com o Todoprosa, que aborda literatura, em todos os seus aspectos.

Enfim, os exemplos são vários e seria muita babação de ovo ficar aqui detalhando-os. Não sei se o site continuará no mesmo ritmo, com várias atualizações diárias, mas se se manter assim, pode influenciar - ainda mais - o restante da Internet.
Primeiro uma estocada:

"O 13 de Maio deveria ser comemorado nas ruas como uma festa popular em homenagem aos personagens públicos e aos milhares de heróis anônimos que conduziram a primeira grande luta social de âmbito nacional no Brasil e derrotaram a dinastia e a elite escravista. É uma tragédia que essa data tenha sido praticamente enterrada sob a narrativa revisionista fabricada na linha de montagem da "história dos vencidos"."

Depois o golpe final:

"Zumbi não viveu no Brasil, mas na formação social de um enclave colonial-mercantil português. Na luta gloriosa e desesperada que liderou, não existia a alternativa de mudar o mundo, mas apenas a de segregar os seus num outro mundo, que foi Palmares. Os revisionistas que fingem celebrar a memória de Zumbi praticam um seqüestro intelectual, despindo a narrativa de seu contexto histórico para fazer do quilombo uma metáfora do seu programa atual de separação política e jurídica das "raças". Esse é o motivo pelo qual decidiram abolir a Abolição."

Demétrio Magnoli, na Folha.

Antes de terminar, um adendo. Magnoli já tinha escrito, em sete de setembro de 2002, que "No dia 7 de outubro, o país pode acordar com a notícia de que Lula é o novo presidente. Um evento histórico, sem dúvida. Mas o evento mais importante já aconteceu: o fim do PT. A vitória ou a derrota de Lula não pode modificar isso."

Nota mental: ter mais atenção com esse nome a partir de agora.
Dirty Harry está de volta

É assim que Hollywood Blend anuncia o lançamento do GAME inspirado no famosíssimo personagem de Clint Eastwood. Obviamente me interessei e cliquei para saber mais sobre o assunto. Lembro que devo ter visto todos os filmes da série, era superfã. "Dirty" Harry Callahan era o sujeito que falava para os seus oponentes "vamos, me dá o gostinho", querendo que eles dessem algum motivo para que ele atirasse. Bem, filmes policiais violentos eram os meus preferidos.

A nota linka para outra que aponta a possibilidade de haver um outro longa. O roteirista da série diz que já tem o script pronto e não descarta a possibilidade de vermos "Eastwood reprisando seu papel ícone como Callahan". Só se for como policial aposentando, não?

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Under pression

"A carteira está mais recheada. A alma, mais vazia. E, num momento em que 3.5 milhões de britânicos usam anti-depressivos regularmente, felicidade se transformou em questão de estado. Em pouco tempo, a eficiência de um governo poderá ser medida por como fez o povo mais ou menos feliz e não diretamente por indicadores mais convencionais. Sem falar que um povo mais feliz é também um povo mais produtivo. E saudável." - Fernando Duarte

Um amigo meu ótimo em sintetizar situações em uma única frase diz que "a depressão é a doença do século xxi".

terça-feira, 9 de maio de 2006

Coleguinhas
Rapidinha:

'“Herô genérica”, vide bula
Nova mania entre os malucos de SP: tomar doses e doses de Elixir Paregórico, remédio sedativo e antiespasmódico, para simular o barato da heroína.'

Xico Sá
Pitacos

Missão: Impossível III” (me recuso a escrever o nome oficial que é um exercício de copidesque) não foi a primeira opção na sexta-feira, mas a única que se encaixou no meu esdrúxulo horário. Contudo, não foi de má-vontade que eu aceitei em vê-lo. Já tinha visto o II e gostado. Imaginei que poderia ser algo do mesmo gênero – e não me enganei.

(Hei, o que é que há? Cinema é a maior diversão ou não?)

No geral, o longa é bom, extremamente competente no que se pretende (diversão despretensiosa, facilmente deglutível e esquecível), mas uma mesma sensação me acompanhou durante toda a projeção: acho que já vi esse filme antes. Na verdade, sabia exatamente de onde vinha essa minha impressão. De “24 horas”.

Não sou um grande fã de seriados, nem tenho como ser, pois nunca tive TV a cabo em casa. Porém, recentemente fui acometido pela febre “Jack Bauer”, por más influências. Estou ainda na primeira temporada, mas já dá para que a série é impressionante.

Voltando. Os motivos que me levaram a traçar os parentescos entre os dois produtos áudios-visuais (PAV, como diria Glauber Rocha): Ambos são agentes secretos, têm famílias (esse é, inclusive, o principal plot da trama do “MI:3”), escondem os verdadeiros trabalhos dos mais chegados, se envolvem em armadilhas por causa dos laços amorosos e, enquanto Jack só conta com 24 horas para resolver seus problemas, Ethan Hunt tem 48 horas para completar sua, enfim, missão impossível. A diferença ÓBVIA é que a vida de Bauer é contada em tempo real, enquanto a de Hunt há diversas elipses de tempo – se não houvesse essa supressão, estaria em estado catatônico até agora.

O mais fã (de qualquer um dos PAVs) dirá que TODO o gênero de espionagem possui algumas ou todas essas caracterizações. A diferença estaria nos detalhes. Bauer é o chefe local de uma agência secreta do governo americano, enquanto Hunt quer se aposentar e ensinar novos espiões. Jack está com família constituída e vive um cotidiano comum, apesar de seu trabalho, enquanto Ethan ainda nem se casou. “M:I3” tem a brincadeira com as máscaras perfeitas com outros rostos, os gadgets surreais, “24 horas” é mais realista, mesmo que de vez em quando haja escorregadelas. O filme com Tom Cruise é muito mais violento, mas a série com Kiefer Sutherland não fica muito atrás. Aliás, Cruise é terrível nos momentos um pouco mais dramáticos, enquanto Sutherland É Bauer. Então, por que será que fiquei com a impressão anterior? Sugiro apenas uma resposta: JJ Abrams.

Não é surpresa para ninguém que o diretor da terceira incursão de “Missão: Impossível” é o diretor/roteirista/criador de séries, como a cultuada “Lost”, JJ Abrams. Não quer dizer que ele tenha feito um episódio apenas dobrando o tempo (o que até poderia ser justificável com as “48 horas para salvar a mulher de Hunt”), nem que haja algum tipo de cacoete televisivo visível na telona. Não, lá eles não têm a tradição da telenovela. Entretanto, contudo, todavia, inexplicavelmente, sem razão específica, ficou com gostinho de TV. Não é um juízo de valor, entendam-me bem, por favor, apenas a exposição de um fato. A correlação, para mim, ficou clara, beirando a obviedade. Olha para a tela de alguns metros quadrados e comparava imediatamente com a minha telinha de 24 polegadas. Só que com um porém: “24” é MUITO melhor que “M:I3”.

ps. Também me senti burro por não ter entendido direito – ou achado a explicação boba demais para ser o que eu entendi – aquele final rocambolesco. No mínimo, mal feito.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Ainda antes dos pitacos, outro assunto:

"Na literatura você tem dois caminhos: ou você viveu grandes experiências, como Joseph Conrad ou Herman Melville, e depois vai escrever sobre aventuras - Tufão, do Conrad ou aqueles livros do Melville; ou então você vai ser um escritor formado pelas leituras que você teve, e essa é uma linhagem que eu sempre me identifiquei mais. E vendo a biografia de Machado e Borges eu vi que tinha uma identidade com esses autores. Quando eu comecei a querer produzir minha própria obra, já na maturidade, eu vi que tinha uma influência, um impacto disso, e se eu tentasse disfarçar ia parecer uma influência explícita, quase uma imitação. Então eu resolvi transar isso diretamente: vou explicitar na forma de um tributo. Peguei a obra dos dois e problematizei. Um primeiro livro de contos sobre a obra do Borges (Que Fim Levou Brodie?, 1996), o segundo um romance em cima do trabalho do Machado de Assis (Braz, Quincas & Cia, 2002) e no terceiro, o Memorial, eu juntei. Foi uma coisa que começou meio improvisada e depois, lá pelo terceiro livro, eu fiz o planejamento e vi que podia fazer essa leitura. E a partir de agora eu me sinto "liberado" da minha dívida e vou partir para novos projetos que já estão em gestação, romances que não tenham a ver com essa coisa de "livro sobre livro", metalinguagem e tal. Mas eu achava que tinha que passar por essa trilha, por esse caminho de homenagear esses dois escritores."

Além de um sobrenome de peso, Antônio Fernando Borges tem opiniões bem interessantes. Acho que já sei quais livros vou ler em seguida...
Antes dos pitacos sobre "MI:3", um pouco mais de control c + control v

"O “Dicionário de Política”, organizado por Norberto Bobbio, ressalta mesmo que “O populismo não conta efetivamente com uma elaboração teórica orgânica e sistemática. (...) Como denominação, se amolda facilmente a doutrina e a fórmulas diversamente articuladas e aparentemente divergentes. (...) As dificuldades do populismo se ressentem da ambigüidade conceitual que o próprio termo envolve”.

A socióloga venezuelana Margarita López Maya, por sua vez, assinala que “o populismo não é, estritamente falando, nem um movimento sócio-político, nem um regime, ou um tipo de organização, mas fundamentalmente um discurso que pode estar presente no interior de organizações, movimentos ou regimes muito diferentes entre si”. Uma classificação geral do que seria um líder populista, comumente aceita, dá contas de tratar-se do dirigente que estabelece vínculos e canais diretos com o povo, sem a mediação de instituições, entidades ou instâncias.

O líder populista relaciona-se com multidões, acima dos partidos, parlamentos, sindicatos etc. Há um componente centralizador na figura do chefe populista, em que, à falta de mediações, se torna a própria encarnação do Estado no imaginário das classes populares urbanas. Assim, a figura do “pai dos pobres”, no caso de Getúlio Vargas, no Brasil, ou a de redentor dos “descamisados”, quando se alude à Juán Domingo Perón, na Argentina, representam expressões dessa encarnação e de um projeto de nação numa só pessoa."

Gilberto Maringoni

sábado, 6 de maio de 2006

Depois ainda perguntam por que eu gosto dele

(ou é possível ver alguma utilidade no orkut):

-O dinheiro é melhor do que a pobreza, nem que seja por razões financeiras.
-Não é que eu tenha medo de morrer. Apenas não quero estar vivo quando acontecer.
-Por que Deus não fala comigo ? Se Ele pelo menos tossisse.
-Eu era muito jovem para ter um carro, então transava com as moças no banco de trás de minha bicicleta.
-Sexo alivia as tensões. Amor as causa.
-Meu cérebro é o meu segundo orgão favorito.
-Na Califórnia não se joga o livro fora. Eles o reciclam na forma de programas de TV.
-Minha mulher e eu ficamos na dúvida de tirar férias ou nos divorciarmos. Optamos pela segunda hipótese. Duas semanas no Caribe podem ser divertidas, mas um divórcio dura para sempre.
-Certa vez tomei a atitude política mais firme de minha vida: passei 24 horas sem comer uvas.
-Se Deus existe, por que Ele não me dá um sinal de Sua existência? Como por exemplo, abrir uma bela conta em meu nome num banco suíço?
-A melhor coisa de ser bixessual é q vc tem 100% de chance de sair acompanhado de uma festa
-Entre o ar-condicionado e o papa, eu fico com o ar-condicionado.
- Alguns casamentos terminam bem, outros duram a vida inteira.
-O dinheiro não traz felicidade, mas provoca uma sensação tão parecida que é necessário um especialista para verificar a diferença.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Estou oficialmente impressionado.

(via Walter Valdevino, do Nova Corja)

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âpideiti:

Fontes internas me confidenciaram que não houve nenhuma ligação entre os fatos recentes (Franklin x Mainardi). Franklin Martins já estava sendo esvaziado há tempos. Entretanto, ninguém sabe ao certo a razão pela qual ele foi desligado...
JáBasta

"O JáBasta, Movimento pelo Fim do Jabá convoca os interessados para uma reunião no Circo Voador na próxima terça-feira, nove de maio, às 18 horas. O objetivo é organizar o recolhimento de assinaturas pela aprovação do projeto de lei 1048/03,do deputado Fernando Ferro (PT - PE) que torna crime a prática do jabá nas rádios e TVs, com pena de prisão e cassação da concessão. Para aderir ao abaixo assinado, mande mensagem para movimentopelofimdojaba@gmail com nome completo, profissão e número de algum documento".

Jamari França, no blog Jam Session

E aí, já mandou o e-mail?

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Voto nacionalizarmos a Volks no Brasil

"Volks anuncia demissões em massa menos de um mês depois de obter quase meio bilhão de reais do BNDES

A Volkswagen do Brasil anunciou um plano de reestruturação que prevê cortes de “milhares de empregos”, menos de um mês depois de ter obtido crédito oficial do BNDES de quase meio bilhão de reais. O plano da Volks inclui, além da demissão de milhares de empregados, o corte de benefícios e até o fechamento de uma das quatro fábricas da empresa no Brasil. Motivo alegado: a valorização excessiva do real frente ao dólar, o que teria reduzido os lucros das exportações da montadora.

Em 18 de abril o banco informou que tinha aprovado financiamento de R$ 497,1 milhões para a empresa. Segundo o BNDES, os recursos seriam destinados à expansão da produção de veículos Foz e CrossFox. No texto em que justificou o empréstimo, o BNDES afirmou que ele permitiria ampliar as exportações de veículos da Volks."
Mantendo a tradição política dos últimos dias...

"A América Latina atravessa um mau momento. Vários presidentes dão péssimos exemplos. Néstor Kirchner enfrentou o FMI e até agora não se deu mal. Hugo Chávez insiste em dizer certas verdades e, ditador ou não, já se posiciona como o principal líder da região. Agora, vem esse Evo Morales e, com a maior desfaçatez, nacionaliza as riquezas energéticas do seu país, exatamente como havia prometido. Será que ele não vê o quanto isso poderá ser fatal para a Bolívia, com seus parcos 70% de habitantes em situação miserável? Será que não vê o quanto poderá ficar pior? Com a fuga do capital internacional, o que será dos outros 30% da população? Há sério risco de pobreza."

MORALES SEM ÉTICA
Juremir Machado da Silva (no Correio do Povo)

via: Gabriel Brust, no Nova Corja.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Ainda sobre o Bolinha

Um pouco de humor: aqui, aqui, aqui e, claro, aqui.
JX Braga está implacável:

"No domingo, Anthony Garotinho começou uma greve de fome porque, segundo ele, a grande imprensa não lhe dava direito de resposta. Pois bem, para existir um direito de resposta, antes de qualquer coisa é preciso haver a resposta.

Ontem, o secretário estadual de Comunicação Social, Ricardo Bruno disse ao Globo que o advogado Sérgio Mazillo é quem vai dar respostas à imprensa sobre questionamentos relativos à contratação de ONGs pelo estado por meio da Fesp. Mazillo, por sua vez, disse que a resposta ficaria pronta hoje. E já avisou: "Caso não publiquem, vamos para a Justiça".

Então vamos ver se eu entendi: em 30 de abril, Garotinho entrou em greve de fome porque a imprensa não publica sua resposta; entretanto, essa resposta só será enviada à imprensa quatro dias depois de iniciado o protesto? Garotinho começou a protestar contra a não-publicação de sua resposta quatro dias antes de a resposta ser escrita?! Garotinho recorreu à greve de fome antes mesmo de ir à Justiça contra a suposta não publicação de sua resposta?!?"

terça-feira, 2 de maio de 2006

mais pitacos perdidos em e-mails

1) é claro que sou contra o "confisco" dos dutos da petrobras. mas, entre "confiscar" e deixar um acordo que fosse péssimo (e aqui entra o critério deles, não o nosso) eu ficaria com a primeira opção. com poucas dúvidas. aliás, "confisco", acho eu, nesse caso é um péssimo nome.

2) a bolívia de outros presidentes - que o evo morales tanto criticou e foi eleito por isso - fechou esses acordos. se os presidentes respeitassem exatamente o que o presidente anterior deixou aí, bem, no Brasil não mudaria nada porque continuamos com os mesmos programas econômicos e sociais do governo fh. mas, bem, ainda teríamos confisco de poupança, planos cruzado etc. os presidentes são eleitos exatamente para colocar as suas posições - diferentes ou iguais aos anteriores.

3) não estou imediatista MUITO pelo contrário. imagine a seguinte hipótese: queria que endurescesse com a ford para que ela se instalasse, sim, na bahia - eles queriam instalar no brasil, lembro-me disso, não iriam perder o mercado consumidor e industrial brasileiro - mas com mais vantagem que atualmente. ganharíamos em todos os prazos. o pequeno, o médio e o longo. não sou contra os investimentos externos, mas acho que não devemos ficar dependentes deles. esse é o meu principal ponto. sempre será.

4) não sou a favor do nacionalismo, pelo contrário. não vislumbro as fronteiras, muito por isso não me importo de ter sido "confiscado" por uma empresa de outro país. o que acho é que os países não devem ser opressores a nenhum outro país. se o presidente da bolívia, representante legal daquele país, eleito democraticamente pela população, acha que a petrobras está oprimindo a população, e a saída que ele acha que tem é "confiscar" os dutos para forçar uma nacionalização da empresa, eu tenho que, apenas, negociar pelo menor preço possível do gás. que eu pague mais para que a população da bolívia tenha mais recursos. se isso vai ser bem, mal ou não aplicado corretamente, já é OUTRO departamento...
Junção de sentenças perdidas em trocas de e-mail:

- "Agora, do ponto de vista deles, ele, Evo Morales, está cumprindo o que prometeu. Esta é, como disse Clovis Rossi na Folha, a primeira medida de um governo de esquerda desde que o Muro de Berlim caiu. Os demais, eleitos com discurso de esquerda, fizeram governos liberais."
Tereza Cruvinel, no blog dela.

- "Não é o caso de declarar guerra e muito menos de impor sanções econômicas. Afinal de contas, o Brasil precisa do gás boliviano para sustentar o crescimento de sua economia. Foi por isso que o presidente Fernando Henrique Cardoso construiu o gasoduto e fez a Petrobras investir no país vizinho. E é por isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa negociar com os bolivianos. Até porque os bolivianos também precisam vender o seu gás. É mais barato vender para o Brasil para onde já existe um gasoduto e demanda. Construir outro custaria caro. Por isso, passada a forte comoção do primeiro momento, tudo indica que haverá um entendimento."
Ilimar Franco, no blog dele.

- "Petrobras não deve sair da Bolívia na opinião de Lula e seus ministros"

(...)

"a presença da estatal na Bolívia é estratégica para o Brasil e TAMBÉM MUITO IMPORTANTE PARA O PAÍS ANDINO (grifo meu)".

- em tese, ele não é ditador. foi eleito democraticamente - inclusive promentendo que iria nacionalizar a empresa - para governar a bolívia.

acho, sim, que a petrobras vai comprar gás e petróleo e não vai reclamar quase nada. sou contra o confisco da empresa física, mas, se não houver outra oportunidade, não sei não...

o meu paralelo com a reforma agrária é o seguinte: se o mst invadisse milhares de fazendas de soja PRODUTIVAS pedindo para fazer a reforma agrária a força, seria parecido.

sou contra as atitudes unilaterais, como esta. como disse, prefiro sempre o diálogo. mas gosto quando as atitudes fogem do padrão para EM TESE beneficiar o povo.

não disse que era original. eu mesmo disse que o jango caiu muito por causa de declarações deste tipo no comício da central (18 dias antes do golpe).

só disse que esse tipo de atitude me parece interessante. sou a favor de posicionamentos mais duros em relação aos capitais estrangeiros...

pode parecer antiquado, mas ainda acredito nisso:

"O presidente Evo Morales praticou ontem a primeira iniciativa genuinamente de esquerda na América Latina (talvez no mundo) desde que o Muro de Berlim desabou em 1989.Nem seu amigo Hugo Chávez, da Venezuela, chegou até agora tão longe quanto o primeiro presidente de origem indígena da Bolívia, ao nacionalizar os hidrocarbonetos. Até porque Chávez sabe perfeitamente que o grande mercado para o petróleo da Venezuela sempre foram os Estados Unidos. Continua sendo apesar de toda a incendiária retórica antinorte-americana.Como se já não bastasse a ousadia de tomar uma medida de esquerda, em vez de apenas dizer que é de esquerda, Evo cercou seu gesto de toda uma carga de simbolismo: seu "decreto supremo" sobre a nacionalização (que significa estatização) do gás foi assinado depois de uma viagem ao único centro revolucionário restante no planeta, a pequena ilha de Cuba, para uma reunião com os dois outros mandatários que ainda falam uma linguagem de esquerda (o já citado Chávez e Fidel Castro).A linguagem usada é, de resto, típica dos anos 70: "Acabou o saque de nossos recursos naturais por empresas estrangeiras", "

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

- por último, apenas a estatização de uma empresa não quer dizer nada, claro. principalmente quando o país, logo em seguida, é saqueado por outros governos. não conheço a história da bolívia para dizer nem que sim, nem que não. mas, dizer que a nacionalização de qualquer empresa internacional possa minorar os problemas é no mínimo exagerado. mas não deixa de dar mais recursos para o país. o que já é bom.

- Gás boliviano preocupa governo até por causa da eleição

- não sou a favor de tomarmos sem nenhum tipo de compensação a empresa alheia. só se isso for a última situação do mundo. sou sempre a favor do diálogo.

bem, sobre o que deveria ter sido feito, aconselho, novamente, o ilimar franco, no blog dele... ou seja, ele sugere que TODO MUNDO sabia disso. copio aqui:

"Existiam maneiras do Brasil evitar o que ocorreu. Por exemplo, não ter construído o gasoduto ou a Petrobras não ter feito investimentos naquele país. Essa alternativa está superada pelos fatos. O Brasil deveria ter intervido no processo eleitoral boliviano para impedir a eleição de Evo Morales, como os americanos fizeram no Brasil no início da década de 60. Isso seria inapropriado. O Brasil ainda poderia corromper o governo boliviano para que ele não cumprisse sua plataforma eleitoral. Mas isso não seria politicamente correto. Ou então, tão logo Morales foi eleito, será que não teria sido o caso da Petrobras iniciar o desmonte das duas refinarias e transportá-las para o Brasil? Ou ainda, vender os negócios na Bolívia para algum desavisado, como se faz quando se vende carros usados no Brasil. Mas será que alguém compraria? Por fim, restou uma única maneira objetiva de tentar impedir o que ocorreu: negociar e buscar um entendimento com a Bolívia. O que depende das duas partes envolvidas. Isso é o que fez o governo brasileiro antes e o que continuará fazendo agora. Essa tem sido a postura do Brasil ao longo de sua histórica relação com os hermanos"

logo, mais uma posição de que a petrobras não vai fazer nada além de comprar o gás dos bolivianos...

- eu, pelo contrário, sou contra o socialismo. não acho que o povo deva ser nivelado. temos diferentes determinações e anseios.

mas ainda não estou muito a vontade com a palavra "populismo". o que seria isso? demagogia com o dinheiro público? se for isso, ele ainda não pode ser chamado de populista, pois, até agora, não agiu dessa maneira.

outra coisa: TODA a evolução americana para o oeste (a famosa corrida pelo ouro) foi feita através de roubo. Não sou a favor, mas foi assim. houve roubo nas reformas agrárias de grande parte dos países da europa também

de acordo com o seu raciocínio, a reforma agrária seria, então, roubo, não justiça social. porque, provavelmente, não haveria dinheiro para pagar todas as terras desapropriadas. ou se pagaria menos que os proprietários pediriam. Em algum momento alguém seria chamado de ladrão, tenho certeza. ainda bem que não somos mais essencialmente rurais.

novamente, sou contra a falta de diálogo. mas, ficaria MAIS feliz com atitudes como essa (nacionalização) que com posicionamentos de completa dependência externa - como acontece com o Brasil em relação ao capital externo (nossa, daqui a pouco estou falando que nem o pstu).

o que eu entendo por nacionalização teria um sentido de desapropriação das empresas. pagar-se-ia por elas um preço se, de acordo com o soberania nacional, se achasse necessário estatizar uma empresa multinacional. acho que deve sempre haver diálogo. nunca, por exemplo, recorrer à greve de fome, por exemplo...

:-)

- "Evo Morales é um presidente de palavra: fez o que disse que ia fazer. E mais: fez o que tinha de fazer e o que devia fazer. Não está apenas nacionalizando (estatizando) o petróleo: está reconstruindo a auto-estima coletiva dos bolivianos.

Evo Morales não merece críticas nem ataques. Está entrando para a história como um presidente que honra as promessas que fez.

E dá uma certa náusea ouvir o vozerio na mídia dos que pedem medidas drásticas contra o governo (e o povo) da Bolívia, a grita para que o governo brasileiro aja "com frieza empresarial", para que defenda "os interesses nacionais". São as mesmas vozes que clamaram pela privatização de tudo neste país, inclusive da Petrobrás. As mesmas que exigem uma integração subalterna à pauta da globalização conservadora, ao império dos mercados dominados por interesses norte-americanos e europeus. Quer dizer: contra índio pobre a gente tem mesmo é que endurecer. Agora, quando se trata dos ricos do andar de cima, a conversa muda de tom e amacia."

- acho que ele vai ser lembrado como o presidente que agiu pensando na nacionalização dos recursos naturais para a Bolívia. Bem, depende. depende de como será retratado. Se for retratado como um sujeito apegado a valores do passado, claro, é isso que vai pegar nele.

bem, não tenho a MENOR idéia se isso vai melhorar a vida dos bolivianos. mas só pelo fato, simples, de que ele está cumprindo uma promessa de campanha de cunho nacionalista já me deixa com um pouco de inveja. volto a falar: não acho que ele é o melhor presidente do mundo - mesmo porque isso não há. mas queria um pouco mais de coragem deste tipo em políticos brasileiros. ele pode, depois disso, se comportar como o pior dos presidentes. pode ser um corrupto, governar através de bravatas, pode claro. mas o que acho de diferente na atitude é o que comentei que poderia ter sido diferente na implantação da ford lá na bahia. ou seja, ter endurecido o discurso. acho que a melhor saída, sempre, é a negociação. e acho que temos muito mais a ganhar sendo duros do que amolecendo. nunca, claro, tomando atitudes unilaterais. se fizéssemos à época menos concessões a ford talvez tivéssemos ganho mais com a implantação da empresa. sei lá quais foram os acordos da empresa. só acho que viver para sempre sobre o jugo do capital estrangeiro é ruim, tendendo ao péssimo.

não posso apostar minhas economias na melhoria das condições da população boliviana (porque elas pertencem a minha irmã), mas tenho certeza que, hoje, os bolivianos, na sua maioria, pensam que o presidente deles agiu de acordo com o esperado. diferentemente do que acontece com os brasileiros.
Mais sobre a relação escritores/leitores:

"Deve ser desesperador ler ficção como se estivesse tomando colheradas de óleo de fígado de bacalhau, recusando-se a aceitar que não há relação relevante de causa e efeito entre o que o autor escreveu e o que vive(u). Bem, às vezes há, mas o grande barato da literatura de ficção não é o de ler como se não houvesse? Não há razão para tratar um alter ego do Phillip Roth ou um moleque que anda de Monark nas curvas de rio sujo de Joca Reiners Terron de maneira diferente que a menina dentuça que bate nos outros com um coelho azul. Para o bem do personagem e para o bem do próprio leitor. "