domingo, 3 de fevereiro de 2013

O individual, o coletivo e o conservador

O grande problema da tradicional esquerda é ignorar a vontade de cada um ser um indivíduo. Já o grande problema da tradicional direita é, como se pode imaginar, o inverso: desconsiderar que em uma sociedade há uma necessidade de se pensar o todo, abrindo mão de alguns de seus quereres. O problema de ambos, quando muito tradicionais, é exatamente esse: ser conservador. Tentar parar o tempo num lugar imaginário que se chama passado, mas que nunca exatamente existiu.

Na verdade, ser individualista até poderia funcionar sempre, como regra. Desde que, é claro, o sujeito que opta por essa proposta de vida viva exatamente como prega: sozinho, longe de todas as outras pessoas. Se respeitar um pouco que seja a característica gregária dos seres humanos, já vai ter que deixar de fazer alguma coisa que ele acha importante. Viver com o outro é saber que há limites para as suas vontades.

Não pensem que eu opto pelo centro, por favor, não. Nem mesmo que eu virei um liberal inconsequente. O que sugiro é ser mais maleável e tentar se adaptar às situações à medida que elas apareçam. Ser individual quando puder ser, optar pelo coletivo, quando for o melhor para mim, e para todos. Ser individualista sempre, talvez, mas pensar no médio e longo prazo também. Considerar que não preciso fazer tudo de imediato, que ganharei, e ganharemos todos, se pensar em todos, agora, e sempre.

Além disso, que eu não preciso decidir todos os meus passos, deixar que a "ventura", a "fortuna", a "sorte", ou o "devir" cuidem do meu caminho, do que vem à frente, do meu destino, que não precisa ser sempre tão baseado nas minhas ambições. Que eu saiba entender os meus limites e os "nãos".

Ficar no meio do caminho, ou no caminho do meio, como diriam os budistas, é também se isolar, é não respeitar as características de cada uma das situações. É não perceber que a nossa grande vantagem, o que torna os homens [no sentido de humanidade] mais aptos é exatamente essa capacidade de se adaptar. Temos que pensar que a vida vem em ondas [isso, Lulu Santos], e que há dias sim, e dias não [arrã, Cazuza]. E temos que viver em ambas as situações. Afirmativamente. Não é positivamente, repare, nem otimisticamente. É afirmativamente.

O conservador, tanto o de esquerda quanto o de direita [não há muita diferença], então, erra em princípio. Quer um mundo idealizado. Costuma dizer que o passado era melhor que o presente - mas esse passado é apenas imaginação e fantasia. Se houvesse uma máquina do tempo para revisitar a data pelo conservador mencionada, ele mesmo não reconheceria o que era melhor. O conservador não aceita a realidade. É um nostálgico. Nega o presente porque o seu ideal [penso agora em Platão e no que Nietzsche chamou de neo-platonismo: o cristianismo] é sempre superior. É sempre passivo, vive em função do outro. Remissivo. Ressentimento. O alemão bigodudo dizia que o cristão é o um ressentido porque precisa do seu oposto, o pecador, para ter algum sentido. Precisa de um inimigo.

O conservador, no meu entender [e eu posso estar enganado] pensa sempre que ele é o centro do mundo, e que quem não concorda com ele está, em princípio, errado. O seu passado, o seu tempo, aquela época citada era melhor. Hoje, com todas as vontades de várias pessoas envolvidas, o resultado de tantas forças, que não envolve apenas o que eu penso, é pior. Sempre.

A minha proposta é simples e novamente cita o alemão do bigode. Você descobre o que quer [já é difícil bagarai]. Depois, descobre se isso é possível [outra dificuldade]. Se não afeta em demasia o outro, se não está sobrepondo a sua vontade sobre o outro. Se não está agindo apenas e unicamente individualmente em detrimento do coletivo. Por fim, se tiver ao seu alcance, se for ok, simplesmente faça. Faça, faça e faça, com vontade. E bastante.

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