Como começar um texto? Com perguntas que vão sendo respondidas ao longo do próprio texto? Apresentando os problemas que vão ser combatidos? Os temas a abordar?
Talvez com uma citação ["A história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem", diria Godard], em que vai basear todo o seu argumento - seja para concordar ou para discordar.
Se o tema é controverso, a citação pode ser, igualmente, de um dicionário.
Melhor ainda se tiver a etimologia.
Ou, abracadabra, com uma palavra ou frase estranha, que não faz muito sentido à primeira vista, parecendo algo estranho, exótico, mas que vai sendo insinuada sua explicação para o grande desenlace final, que surpreende - ou deveria - a expectativa do leitor.
O jornalismo, por exemplo, ainda hoje sugere que se comece com o lead, a informação mais importante. Todo jornalista é treinado para enxergar isso, como o é um funcionário que aperta parafusos para rodar a chave-inglesa. Se não respeitar essa regra, essa entrada recebe um apelido: nariz de cera. É sinônimo de algo inútil, desnecessário, que foi colocado ali. Ou se diz que o lead está no pé [do texto]. Ou seja, a informação mais importante não está logo no início. Se respeitar a regra, o texto fica sem personalidade, completamente igual a qualquer outro do jornal. É uma maneira de, entre outras coisas, acabar com essas dúvidas bobas que podem pairar na cabeça dos jornalistas, como, por exemplo, como começar um texto.
Nos textos de maior fôlego de escritores de ficção, frases - ou parágrafos - de impacto são comuns, basta-nos lembrar de Kafka, Camus, Tolstoi, Nabokov, para ficar em exemplos famosos e recorrentes. Todos têm primeiras frases que ficaram marcadas na História. Mas me parece, hoje, que eles estavam fazendo uma citação, sem que precisassem usar outros autores como referência - eram tão boas suas sentenças que se sustentavam em pé sozinhas, sem apoio externo.
Talvez haja apenas um único pedaço mais difícil do texto que começá-lo. Um momento em que não há muita bengala, nem técnicas que se apoiem. A única necessidade é que se faça jus ao que foi dito durante todo o corpo, que não surpreenda - negativamente -, que deixe com um gosto de quero-mais na boca [e nos olhos], que, se não responda todas as dúvidas levantadas, ou deixe claro que elas não têm uma réplica, assim, tão fácil. Deve parecer natural. Nunca, jamais, deve ser abrupta. Como se pode já imaginar, esse momento, claro, é a conclusão de um texto.
Talvez com uma citação ["A história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem", diria Godard], em que vai basear todo o seu argumento - seja para concordar ou para discordar.
Se o tema é controverso, a citação pode ser, igualmente, de um dicionário.
início [cf. o Houaiss]
substantivo masculino ( a1727)
1 ato ou efeito de iniciar(-se)
2 o que vem em primeiro lugar (num processo); princípio, começo
‹ o difícil i. de uma carreira ›
3 o princípio de alguma coisa, ger. com expectativa de continuidade; inauguração, estreia, fundação
‹ o i. da temporada › ‹ o i. da empresa ›
4 parte preliminar; exórdio, preâmbulo
Melhor ainda se tiver a etimologia.
lat. initĭum,ĭi 'começo, princípio, estreia, (pl.) nascimento, princípios (de uma ciência), mistérios, objetos usados nos mistérios, sacrifícios, cultos religiosos, auspícios', der. do v.lat. inĕo,is,īvi ou ĭi,ītum,īre 'ir para, entrar em, começar, adotar, travar, arremeter contra, ter cópula'; ver 2i-Pode-se ainda usar, logo na abertura, sinônimos de uma mesma palavra-chave, que indiquem a gênese do texto, que, já no começo, demonstrem o quão plural é a língua e a linguagem e que não será possível fazer uma conclusão absoluta no princípio - talvez nem no fim.
"As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira", já dizia Tolstoi |
O jornalismo, por exemplo, ainda hoje sugere que se comece com o lead, a informação mais importante. Todo jornalista é treinado para enxergar isso, como o é um funcionário que aperta parafusos para rodar a chave-inglesa. Se não respeitar essa regra, essa entrada recebe um apelido: nariz de cera. É sinônimo de algo inútil, desnecessário, que foi colocado ali. Ou se diz que o lead está no pé [do texto]. Ou seja, a informação mais importante não está logo no início. Se respeitar a regra, o texto fica sem personalidade, completamente igual a qualquer outro do jornal. É uma maneira de, entre outras coisas, acabar com essas dúvidas bobas que podem pairar na cabeça dos jornalistas, como, por exemplo, como começar um texto.
Nos textos de maior fôlego de escritores de ficção, frases - ou parágrafos - de impacto são comuns, basta-nos lembrar de Kafka, Camus, Tolstoi, Nabokov, para ficar em exemplos famosos e recorrentes. Todos têm primeiras frases que ficaram marcadas na História. Mas me parece, hoje, que eles estavam fazendo uma citação, sem que precisassem usar outros autores como referência - eram tão boas suas sentenças que se sustentavam em pé sozinhas, sem apoio externo.
Talvez haja apenas um único pedaço mais difícil do texto que começá-lo. Um momento em que não há muita bengala, nem técnicas que se apoiem. A única necessidade é que se faça jus ao que foi dito durante todo o corpo, que não surpreenda - negativamente -, que deixe com um gosto de quero-mais na boca [e nos olhos], que, se não responda todas as dúvidas levantadas, ou deixe claro que elas não têm uma réplica, assim, tão fácil. Deve parecer natural. Nunca, jamais, deve ser abrupta. Como se pode já imaginar, esse momento, claro, é a conclusão de um texto.
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