Enquanto estivermos em sociedade, devemos ouvir os outros. Quando for possível viver longe, não mais será preciso. Por motivos óbvios.
Isso pode parecer complicado. Além de ser o pior regime [com a exceção dos outros], a democracia - e o ato de ouvir os outros nada mais é que colocar em prática, cotidiana, a democracia no seu sentido mais simples - é também uma chatice. É lenta. É dar chance, espaço e oportunidade para até quem não presta. Quem não tem nada a dizer. Quem é mau-caráter. Quem só quer atrapalhar. Quem é culpado.
Porque, sob nenhum viés concreto, não há nenhuma forma de nos diferenciarmos por completo. Então quer dizer que nós, os cultos, letrados, estudados, que pagamos impostos, cidadãos-de-bem, nunca fizemos mal a ninguém, que gostamos dos pais acima de tudo, queremos ter filhos, somos iguais a eles, vagabundos, imbecis, idiotas, que não fizeram nem a quarta-série, trambiqueiros, sonegadores, alcoólatras e que ainda roubam o pirulito das crianças pequenas? O que nos torna corretos, e eles, errados? Se eu seguir essa sucessão de exemplos, estarei automaticamente no lugar certo? Vou ao paraíso? Serei um dos escolhidos?
Qualquer autovangloriação não vale. E não estou falando de contar seu cotidiano, que tem altos, mas também baixos, ao seu amigo. A propaganda sobre si mesmo é sempre tendenciosa. Nem preciso dizer contaminada, porque toda a opinião já o é. Mas que não é possível a autodenominação. Qualquer posição deve ser, não imposta, mas conquistada.
De toda forma, o posto não te torna essencialmente diferente dos demais seres humanos. Desmerecer a opinião do outro - sem nem ouvi-la - é se colocar num pedestal de superioridade. É defender sua vaga, atacando o outro, com medo da extinção. É um procedimento aceitável, mas covarde.
[É melhor deixar escrito para poder conferir no futuro.]
Isso pode parecer complicado. Além de ser o pior regime [com a exceção dos outros], a democracia - e o ato de ouvir os outros nada mais é que colocar em prática, cotidiana, a democracia no seu sentido mais simples - é também uma chatice. É lenta. É dar chance, espaço e oportunidade para até quem não presta. Quem não tem nada a dizer. Quem é mau-caráter. Quem só quer atrapalhar. Quem é culpado.
Porque, sob nenhum viés concreto, não há nenhuma forma de nos diferenciarmos por completo. Então quer dizer que nós, os cultos, letrados, estudados, que pagamos impostos, cidadãos-de-bem, nunca fizemos mal a ninguém, que gostamos dos pais acima de tudo, queremos ter filhos, somos iguais a eles, vagabundos, imbecis, idiotas, que não fizeram nem a quarta-série, trambiqueiros, sonegadores, alcoólatras e que ainda roubam o pirulito das crianças pequenas? O que nos torna corretos, e eles, errados? Se eu seguir essa sucessão de exemplos, estarei automaticamente no lugar certo? Vou ao paraíso? Serei um dos escolhidos?
Qualquer autovangloriação não vale. E não estou falando de contar seu cotidiano, que tem altos, mas também baixos, ao seu amigo. A propaganda sobre si mesmo é sempre tendenciosa. Nem preciso dizer contaminada, porque toda a opinião já o é. Mas que não é possível a autodenominação. Qualquer posição deve ser, não imposta, mas conquistada.
De toda forma, o posto não te torna essencialmente diferente dos demais seres humanos. Desmerecer a opinião do outro - sem nem ouvi-la - é se colocar num pedestal de superioridade. É defender sua vaga, atacando o outro, com medo da extinção. É um procedimento aceitável, mas covarde.
[É melhor deixar escrito para poder conferir no futuro.]
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