sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O obsessivo

Como controlar tudo ao meu redor? Como programar cada ato, cada ação, cada detalhe do meu entorno? Como prever o que vai acontecer? Bem, como todas as pessoas que conferem diariamente o horóscopo, ou gostam de ler as previsões para o próximo ano, isso é impossível. Converse com economistas, por exemplo. Pode-se sugerir uma tendência do que virá por aí. Mas ter um ambiente completamente controlado, é impossível. Nem a CNTP realmente existe fora dos laboratórios. Mesmo assim, o obsessivo acha que consegue dar conta.


O ápice do obsessividade é quando ela se junta à compulsão. "The aviator" - trailer acima, filme inteiro aqui - mostra bem qual é o resultado dessa combinação.

Ele - e eu me incluo totalmente no grupo - tenta antever tudo o que vai acontecer, imaginar os desenlaces, e agir de acordo com eles. Como se fosse um teatro, em que ele já tenha ensaiado antes. Quanto mais obsessivo, mais detalhista. No extremo, até admite para si sua incapacidade de ser deus e prever o futuro por completo, e, por conta disso, começa a treinar outras possíveis saídas. Se "x" acontecer, eu faço "y". Mas se for "w", eu ajo "z". Já se o caso é de "a", eu tenho como alternativa "b" ou "c" - depende se esse "a" é "+" ou "-". Tudo é programado, tudo é premeditado, e, claro, falta, em tudo, espontaneidade.

Se uma determinada situação foge do controle, como acontece diariamente, entra num desespero. Cobra-se porque não previu esse cenário. Tenta retrabalhar as saídas, treina outras possibilidades de respostas, busca outros caminhos. Não relaxa, não aproveita o devir. Não gosta de surpresas, não aceita o inesperado como parte integrante da vida. Não vê o mundo como aleatório, como algo sem uma explicação possível [Fruto de um racionalismo científico muito influenciado pela doutrina platônico-cristã?].

Se vive num mundo em que depende dos outros, como no jornalismo - ou como em todas as atividades dentro de uma sociedade complexa, repara só - fica inseguro. Porque ele acha que pode se controlar, mas não pode depender dos outros. Os outros não são confiáveis. Ou não são tão confiáveis. Ou são tão obsessivos como ele, e aí são muito confiáveis. Obsessivo acha que quem não é obsessivo é menos produtivo.

Geralmente o obsessivo é um racional. Um desses seres que acreditam que o mundo pode ser dividido em pequenas células. Além disso, o mundo atual, baseado quase que unicamente no conceito de utilidade, adora o obsessivo. O obsessivo é o mais útil. É responsável. Nunca esquece. É, à sua maneira, organizado. Não faz nada que não seja o programado. Pode ser lido com antecedência - o que é ótimo para engrenagem industrial. Às vezes, em casos extremos, se transforma em um óbvio.

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