Há uma expressão da informática que é, provavelmente, uma das melhores formas de se entender um dos mais assustadores aspectos do cotidiano no momento atual: big data. Se você não souber o que ela quer dizer, tudo bem, provavelmente só está sofrendo as consequências da própria expressão. Está soterrado com trocentas outras informações de algum outro assunto que, para você, é mais relevante. Mas qual assunto é o mais relevante para nos tomar a atenção?
Nos últimos dias, fomos informados, se a pesquisa está correta, que 65% dos brasileiros concordam ao menos parcialmente que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Quase ninguém reparou, entretanto, que a maioria das vítimas desse crime vive próximo dos criminosos, e 70% são crianças ou adolescentes. Nem que o número de estupros supera o de homicídios dolosos no Brasil. Só ficou discutindo o tamanho da saia da mulher, como se isso fosse o primordial.
Na semana anterior, tivemos nossa discussão sobre a votação na Câmara dos Deputados sobre o marco civil da internet, em que foram decididas, em primeira instância, as regras da rede. Nos últimos meses, o debate sobre os 50 anos do golpe militar foi pauta em todos os cantos. Coincidência, ou não, nesse fim de semana, militares voltaram a ocupar um espaço civil no Rio, com o argumento da segurança pública. Hoje, saiu o segundo capítulo do novo relatório do IPCC, sobre o aquecimento global, e as conclusões são - ainda mais - assustadoras.
Isso sem falar nos acidentes de carro, ônibus etc, que colocam o trânsito numa das principais causas de morte do Brasil. No problema de transportes públicos, em geral - sucateados e caros. No atraso das obras para a Copa. Na própria Copa. Na poluição das praias. Nos preços exorbitantes para a vida nas grandes cidades. No baixo crescimento da economia. No escândalo da compra da refinaria pela Petrobras. Nas próximas eleições. Na falta de bons candidatos... Na... Aaaaaaah.
Como sobreviver diante de tanta informação? Como saber quais são os assuntos realmente essenciais para que possamos prestar a atenção? Em que devemos nos aprofundar, para evitar tecer apenas platitudes? Como fazer uma hierarquia da coleção de desgraças que nos assolam?
Uma vez ouvi dizer que o Brasil vive pulando de crise em crise. Que não chegamos a resolver nenhum problema, apenas vamos mudando de preocupação, num exercício de ansiedade constante, que não deixa que passemos da superfície das questões. Não sei se é um problema nacional - mais um para a lista - ou do nosso tempo histórico. Certo é que nossa baixa confiança na representatividade oficial, que foi totalmente exposta nas jornadas de junho, piora nossa situação. Em quem confiar para resolver nossos problemas?
Também é certo que se eximir do debate público sobre esses e muitos outros assuntos só agrava a depressão em que nos metemos. Escondemos a realidade debaixo de uma fantasia de que não precisamos pensar sobre nada desses casos, até que a tsunami invade nosso condomínio fechado. Não vivemos fora do mundo. E é esse o mundo, cada vez mais complexo, que temos. Como lidar?
Nos últimos dias, fomos informados, se a pesquisa está correta, que 65% dos brasileiros concordam ao menos parcialmente que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Quase ninguém reparou, entretanto, que a maioria das vítimas desse crime vive próximo dos criminosos, e 70% são crianças ou adolescentes. Nem que o número de estupros supera o de homicídios dolosos no Brasil. Só ficou discutindo o tamanho da saia da mulher, como se isso fosse o primordial.
Na semana anterior, tivemos nossa discussão sobre a votação na Câmara dos Deputados sobre o marco civil da internet, em que foram decididas, em primeira instância, as regras da rede. Nos últimos meses, o debate sobre os 50 anos do golpe militar foi pauta em todos os cantos. Coincidência, ou não, nesse fim de semana, militares voltaram a ocupar um espaço civil no Rio, com o argumento da segurança pública. Hoje, saiu o segundo capítulo do novo relatório do IPCC, sobre o aquecimento global, e as conclusões são - ainda mais - assustadoras.
Isso sem falar nos acidentes de carro, ônibus etc, que colocam o trânsito numa das principais causas de morte do Brasil. No problema de transportes públicos, em geral - sucateados e caros. No atraso das obras para a Copa. Na própria Copa. Na poluição das praias. Nos preços exorbitantes para a vida nas grandes cidades. No baixo crescimento da economia. No escândalo da compra da refinaria pela Petrobras. Nas próximas eleições. Na falta de bons candidatos... Na... Aaaaaaah.
Como sobreviver diante de tanta informação? Como saber quais são os assuntos realmente essenciais para que possamos prestar a atenção? Em que devemos nos aprofundar, para evitar tecer apenas platitudes? Como fazer uma hierarquia da coleção de desgraças que nos assolam?
Uma vez ouvi dizer que o Brasil vive pulando de crise em crise. Que não chegamos a resolver nenhum problema, apenas vamos mudando de preocupação, num exercício de ansiedade constante, que não deixa que passemos da superfície das questões. Não sei se é um problema nacional - mais um para a lista - ou do nosso tempo histórico. Certo é que nossa baixa confiança na representatividade oficial, que foi totalmente exposta nas jornadas de junho, piora nossa situação. Em quem confiar para resolver nossos problemas?
Também é certo que se eximir do debate público sobre esses e muitos outros assuntos só agrava a depressão em que nos metemos. Escondemos a realidade debaixo de uma fantasia de que não precisamos pensar sobre nada desses casos, até que a tsunami invade nosso condomínio fechado. Não vivemos fora do mundo. E é esse o mundo, cada vez mais complexo, que temos. Como lidar?