quinta-feira, 20 de junho de 2013

Especulações sobre as manifestações - parte 2

Ops
Não sei exatamente por que, mas estou me lembrando com essas manifestações e protestos de uma declaração do professor Francisco Carlos Teixeira. A todo momento que falam "o gigante acordou", que citam "os protestos violentos", que pedem uma "pauta clara", que demonstram ceticismo, me recordo de uma explicação bem metafórica de Teixeira sobre a guerra do Paraguai.

Era um evento sobre a Primavera Árabe e ele falava - não sei por que - sobre como o Brasil demorou a dar uma resposta aos ataques cometidos pelo nosso país vizinho [isso, gente, o que se fala sobre termos brigado com eles por pressão da Inglaterra é mentira. Eles nos atacaram.]. Porém, quando finalmente o Brasil tomou partido, foi muito difícil parar. O resultado foi quase dizimar por completo a população paraguaia. Ele dizia que o Brasil era um país paquiderme, e usava como comparação a Rússia - talvez pelos nossos tamanhos, talvez por uma certa mentalidade em comum de dividir o mundo entre senhores e escravos, nobres e vassalos - e que, por isso, sair da inércia era complicado - tanto para se movimentar, como para parar [em relação a um observador estático, ok amigos físicos?].

É uma associação completamente sem pé nem cabeça, aparentemente. Como vimos ontem, "o gigante acordou" seria mais bem utilizado, como disseram ontem, em uma cena de "O homem de Itu", por exemplo. Pedir uma "pauta clara" é ótimo - eu também faço - mas é como pedir para as pessoas pararem de protestar e pensar no que realmente eles querem. Eles querem é que seja diferente. Tudo diferente. Já o protesto "violento", bem, o "protesto violento" é uma consequência. Um efeito colateral de um remédio amargo.

Eu também preferiria que ninguém tivesse que invadir a Alerj, o Congresso, tacasse fogo no carro de um pobre radialista pobre [que já recebeu um melhor de um parlamentar], que ninguém destruísse restaurantes que não têm nada a ver com o pato, e nenhuma loja fosse saqueada. Enfim, que fôssemos a Suécia - mas sem a xenofobia e sem o inverno [por que aí é demais, né?]. Claro que, em vez da passeata, eu preferiria estar em outro lugar, fazendo outras coisas, mas os protestos, me parecem, são mais que necessários. E, para algumas pessoas, criar essa desordem também é.

Some a isso que a reação policial é sempre desproporcional, o que só alimenta a espiral de violência. Se a Alerj é importante, por que o Choque - esse batalhão que é o da galera Bope-wanna-be - não a cercou antes da invasão? Aliás, por que o Choque nem estava lá desde o início da passeata? Por que eram policiais do 5o BPM que estavam lá? Por que um sujeito à paisana estava portando uma AR-15 e atirando a esmo?

Mais: noves fora as depredações no entorno da Alerj, podemos perceber que o alvo era claro: o poder. Não houve qualquer dano ao Theatro Municipal, à Biblioteca Nacional, ao Museu de Belas Artes, todos na Cinelândia, no epicentro da passeata [curiosamente, a Câmera dos vereadores, também na Cinelândia, passou incólume - será que é por ignorância? Será que as pessoas sabem qual é a função daquele palácio bonito?]. Já a Alerj foi atacada. O Congresso foi invadido. Um carro de uma TV foi queimado. Um ônibus foi virado. Alguma conclusão devemos tirar disso. Não são alvos aleatórios. São símbolos de uma insatisfação grande.

Não estou justificando a violência, mas dizendo que sou a favor dos protestos. E, com protestos, sempre haverá resultados inesperados, consequências amargas, passagens abruptas, momentos de desordem, tristeza, destruição e, enfim, reconstrução. Não dá - nem seria bom - para controlar 100 mil pessoas, ao mesmo tempo. Esse movimento não tem líderes claros e se repete que é um movimento horizontal - ou seja, não há ordens, não há diretrizes a que se obedece. Cada um é autônomo. A política agora, mais do que nunca, é individual. Devemos nos acostumar.

Neste momento, estamos - nós, povo - no dilema do médico. Se o remédio for em grande quantidade, podemos ser envenenados. Se for de menos, não surtirá o efeito necessário para uma mudança profunda, radical [no sentido de raiz]. Temos que encontrar a dosagem certa. E isso, claro, sem qualquer bula para nos guiar. A única forma de se descobrir é fazendo.

Em tempo: Para quem não leu, aqui está uma breve história da baderna. Sempre dá certo - seja lá o que certo é.

ps: Uma proposta que eu li ontem no FB e que compartilho: Devemos perseguir os políticos-chave diretamente. Perseguir é a palavra. Os secretários de transporte estadual, Júlio Lopes, e municipal, Carlos Osório, não podem mais ter um segundo de paz. Repito: não devem ter um segundo de paz. Não vão poder almoçar, dormir, levar as crianças no colégio. O mesmo deve acontecer com os parlamentares municipais e estaduais. O mesmo com o prefeito e o governador. Eles que são os culpados por se queimar, por se saquear, por se vandalizar. Eles.

pps: A pauta era sobre R$ 0,20? Era promessa de campanha! Bem, agora não é mais: agora eu quero uma CPI dos Transportes entre os vereadores e os deputados.

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