Continuando a maratona de cabines, hoje foi a vez de “O amor em cinco tempos”, do francês François Ozon, queridinho de alguns comparsas. Admito que vi quase nada dele, só “Oito mulheres” e achei divertido – nada além. Não conferi “Swimming Pool” nem “Sob Areia”, os mais famosos.
A história, como sugere o nome, é sobre os diferentes momentos do relacionamento de um casal, indo da ruptura até o momento que eles se conhecem – nesta direção, ou seja, do fim ao início. A montagem invertida, que poderia ser um artificialismo gratuito, funciona muito bem sob dois aspectos:
1) a mudança da maneira como encaramos as personagens. Inicialmente detestamos Gilles, por suas atitudes machistas e chauvinistas. Depois, os nossos sentimentos mudam, não porque as ações de Gilles se justificam, mas porque Marion age de maneira mais, digamos, egoísta;
2) a diversidade do humor do espectador durante a projeção. Por começar logo com o fim do relacionamento, sentimos a acidez entre os dois. As imagens são claustrofóbicas, frias, nervosas. Com o passar do tempo (inverso), voltamos a uma festa em casa, ao parto do filho do casal, ao casamento, ao primeiro encontro. As cenas ganham cores a cada fim de seqüência. O fim-início é quase bucólico. Tal sentimento, aliás, não é novidade nem no cinema francês. Lembrai de “Irreversível”, que lida exatamente com o mote de “o tempo apaga tudo”.
Mas Ozon faz bem o jogo de inversão. No início-fim, temos aversão física por Marion, porque ela está acima do peso. Percebemos também como Gilles está acabado físico-emocionalmente. Depois acompanhamos a melhoria das formas de ambos e, ao fim-início, vemos como os dois eram jovens e bonitos. Mesmo detalhes como o uso de músicas italianas ficam inexplicados até quase o fim. Mas tudo se encaixa como um jogo de quebra-cabeça. Só que emotivo. Talvez, quem sabe?, romântico. Definitivamente um bom filme.
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