Não sou um espectador exigente. Basta que me apresente um filme com início-meio-fim, não necessariamente nesta ordem, como dito por Godard, que me dou por satisfeito. Por isso, não achei "O Buda", filme de estréia em longas de Diego Rafecas, ruim. Digamos que ele tem problemas, mas conta sua história direitinho.
História esta que pode ser resumida em poucas linhas: os filhos de um casal que morto pela ditadura argentina se separam quando adultos. O mais velho vira professor de filosofia na universidade, o outro se torna budista. Ou em outras palavras, um é a razão, outro a emoção. Um é a ciência, outro o empirismo. Um se inspira na mãe, o outro, no pai. Enfim, dicotomia bem nítidas é o que não falta.
Já os problemas são decorrentes claramente de uma falta de experiência em grandes histórias (no sentido de duração). Primeiro, a óbvia: o filme tem 110 minutos, mas poderia ter uma meia hora a menos. Toda a parte final, num retiro budista em Córdoba, é meio boba, quase desnecessária. Há também o tratamento moralista sobre música eletrônica e drogas, nitidamente para fazer mais sentido na história. Outra coisa que incomoda é a trilha sonora. Presença constate e enfadonha.
Mas falemos dos prós: há uma tomada de helicóptero de BsAs muito bonita logo no início do longa. E só. Não consigo lembrar de mais nada.
Entretanto, me recordo de mais um detalhe que achei péssimo. A personagem de Diego Rafecas (isso mesmo: além de dirigir, ele escreveu e interpretou o irmão-razão) é, como dito, professor de filosofia, mas parece desconhecer Schopenhauer, o sujeito que propôs a junção do Oriente com o Ocidente, em seu "O mundo como representação". Ataca a religião com argumentos-clichês, mas nem suspeita o que é fé. Uma caricatura, como a maior parte do filme.
ps. de três dias depois: lembrei de outro pró do filme: Julieta Cardinali.
2 comentários:
Me parece que você não entendeu a essência do filme. Concordo quando você fala das caricaturas, mas discordo que a história tenha se perdido no final, já parecia que terminaria assim.O "buda" foi meio que descascado no fim do filme, achei isso muito interessante.
Outra coisa é a trilha sonora, achei perfeita, diferente, estou até procurando essa trilha para ouvir.
Em relação a música eletrônica e drogas, acho que a intenção foi demonstrar que o personagem principal está desligado daqueles estímulos, achei bem pertinente, apesar de achar exagero ele meditar ali (se bem que ele meditava em qualquer situação). Interessante também a presença da monja Laila na boate, polêmica mas explicável.
Em relação a fotografia, imagens belas, belas tomadas... é... não me lembro de nada muito marcante também. Ele poderia ter aproveitado muito mais.
Para mim, foi um dos melhores filmes que já vi. Não é perfeito, com certeza, mas foi um belíssimo esforço. Acho que é preciso fazer diferente, tirar a nossa cabeça do que já estamos acostumados a ver, não é mesmo?
O filme não deve ser tão ruim, já que lembro de diversos momentos dele. Claro que não tenho a menor noção dos detalhes, mas acho que é perdoável, depois de dois anos.
Sobre eu não ter entendido a essência: deve ser isso mesmo. Geralmente acontece comigo, sou meio limitado.
Espero que isso não o impeça de voltar sempre aqui.
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