quinta-feira, 20 de julho de 2006

Clímax

Mandei o conto abaixo para duas amigas minhas lerem. Uma disse que ficou esperando algo acontecer, não que o texto em si fosse previsível. Apenas tudo estava dando certo demais para o protagonista. Percebi, então, que sou "clássico", quando se trata de escrever.

Ricardo Piglia teceu uma espécie de teoria para os contos em seu "Breves relatos". Segundo o argentino, nas histórias curtas, há sempre duas tramas: uma óbvia e outra, subterrânea, que só se revela ao fim. Tal paradigma teria sido criado por Edgar Allan Poe. A estrutura é óbvia: narra-se uma situação, aparentemente comum, ou que leva a crer numa normalidade e, antes do fim, há a reviravolta/ clímax, e é revelado a verdadeira história, que estava escondida.

Segundo ainda o autor de "Respiración Artificial", tal estrutura imperou até o século XX quando Joyce, Cortázar e outros trataram de ignorá-la. Em "Dublinenses", por exemplo, há recortes da vida das personagens, uma sucessão de acontecimentos incomuns de suas trajetórias. Não há história escondida, como também não há clímax. O fim chega quando o autor decide que aquela trama deve ser interrompida. Se deixassem, ela - a história - se transformaria em algo maior (em quantidade). Cortázar, por sua vez, fez narrativas completamente surreais - literalmente. Não há início-meio-fim, em (se eu não me engano) "Las puertas del cielo", do "Bestiário", mas uma espécie de história circular, sem muita razão, nem porquê.

Já eu... Eu gosto de clímax. Acho que a leitura deve levar para uma espécie de epifania. Mesmo que perca na imprevisibilidade. Não era Borges que dizia que sempre líamos os mesmos livros? Pois então.

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