terça-feira, 12 de março de 2013

Que país é este?

Ler-o-jornal, hoje, em 2013, é uma experiência curiosa. ["Ler-o-jornal" é uma expressão, não necessariamente tem a ver com o ato de abrir, passar os olhos, reter informações e virar as páginas de um diário em papel, mas o costume de se informar, por qualquer meio que se queira, das redes sociais a esse objeto arcaico que chega na casa das pessoas todos os dias, bem cedinho.]

Por quê? Porque dependendo da página em que você está, estamos diante de um Brasil corrupto, com dificuldade de crescer, atrasado, conservador, que elegeu um bispo homofóbico e racista para a comissão dos direitos humanos, e um vencedor do prêmio motosserra de ouro para a comissão do meio ambiente, ambas da Câmara [para ficar apenas nos exemplos mais famosos.]

Por outro, somos a bola da vez internacional, que conseguiu passar quase incólume pela crise norte-americana-europeia, palco de eventos internacionais cada vez mais importantes, cuja imagem vem se modificando, tendo até um cardeal forte candidato a papa [segurem os ufanistas!]. Um país cuja periferia começa a ser vista como uma fonte cultural importante - seja localmente, como as favelas, como nacionalmente, no caso de Belém do Pará, para lembrar do caso do tecnobrega.

Em que país vivemos?

Se há algo que o Brasil nunca gostou foi de sutileza. Ou melhor, sutileza, tradicionalmente é o nosso traço mais característico - vide a ideia de homem cordial do Sérgio Buarque de Holanda -, mas uma sutileza da porta para dentro, na "casa" do Roberto DaMatta. Do lado de fora, na rua, ou no trabalho, já fomos os campeões mundiais de desigualdade social, palco de duas ditaduras sangrentas só no século XX, e um dos últimos países a abolir a escravidão de negros. Será que falta autocrítica? Ou sobra?

Somos o rico, chamada eufemisticamente por aqui de "classe-média", ou o pobre. Somos de direita ou de esquerda, mesmo que ninguém no Brasil seja verdadeiramente de direita, apenas querem que as coisas mudem para continuar como estão. Somos o preto ou o branco - mesmo que pudéssemos ser o mulato inzoneiro.

Parecemos a menina do poema de Cecília Meireles que fica se perguntando "Ou isto ou aquilo":
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

A menina, que no caso retrata um drama infantil de descobrir que a vida adulta é feita de escolhas que tendem a negar o seu inverso, ficaria muito feliz ao saber que, no caso do Brasil, não precisaria optar. Ao escolher isto ou aquilo, estamos excluindo a nossa diversidade. Limitando o outro. Ignorando opiniões diversas. Não escutando o diferente. Diminuindo o nosso problema. Simplificando a nossa questão. Talvez fosse melhor trocar os "ou", que requer uma escolha, na minha visão, desnecessária, por outro termo, mais simpático aos nossos ouvidos: "e".

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