terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A música de Bokel

Ao entrar na primeira das duas salas da exposição de Antonio Bokel, no Centro Cultural Hélio Oiticica, no Centro, a primeira impressão é: Basquiat passou por aqui [aliás: ótima página dele na Artsy]. Há nitidamente uma valorização da cultura do grafite, do skate, uma filiação ao hip hop [que as carrapetas do lado de fora do centro nas mãos do Nepal, entre outros, confirmavam], da aura das ruas.

Telas podem ser uma tábua, apoiadas no skate, representando paredes. Estamos nitidamente na rua, à rua. Lá fora, a festa continua. Transeuntes aproveitam a cerveja barata de graça.

Me pergunto: para que trazer a rua para a galeria? E não sei responder. Talvez para entrar no sistema. Capitalizar. Finalmente ter um emprego. Um trabalho.

Uma das obras [quase escrevi "telas"], "Globeleza", emula a mulata sambando. No rosto uma máscara. Seria Jason, de "Sexta-feira 13"? Há um violência, uma urgência, uma sensação de DIY quase punk, quase juvenil, com energia. A urbe aparece atrás com prédios. Há intervenções, palavras desconexas. Uma se salva: "insólido" - mas que está riscada. Seria a mistura de insólito com sólido? Ou só o inverso de sólido? E estaria riscado para dizer que é o inverso da ideia, portanto, sólido, ou ainda que já foi "insólido", mas que isso não representa mais a verdade?

"Mulata globeleza", de 2005

Em "Siamês", ao lado, há a figura central do homem de duas faces, com asas em que se lê "Anjo siamês". São opostas as caras? E o dado à sua frente: mostra como o acaso - a chance - lida nas nossas vidas? Suspeito que seja o autor. Em dúvida. Ou era, numa fase de tentativa de se afirmar. Ou é a representação da sua obra, bifacetada.

"Siamês" também é 2005


Em um conjunto de desenhos, o título: "Cuba x New York". Dicotomia, novamente. Tudo é dicotômico nesse primeiro momento. São obras mais antigas, carregadas, cheias de cores.

No segundo momento, na outra sala, nas obras mais recentes, as cores somem. A raiva sai. Entra uma melancolia, uma ironia triste quase cansada, uma quase tranquilidade de saber-se incapaz.

Na escultura "Balanço", o título da obra dialoga com a frase "Sua verdade", que estampa a parede da exposição e das ruas, numa série, como se fosse um do seus memes pessoais. A metáfora é fraca, mas bem intencionada - é um candidato claro a hit.

Aqui o texto aparece mais vezes, em alguns casos, como apenas elemento gráfico, em outros, como representação.

As cores, quando as há, são mais básicas, dourado, preto, vermelho.

Uma peça foge desse "padrão": "(x)", mas não muito. Aqui o dourado é o fundo, em vez do branco básico, clean.

Algumas obras nessa fase mais recente têm pouca personalidade, individualidade. Ao se transformarem em minimalistas, deixa de lado o punch, a força. Como se o hip hop, aquele lá do início, tivesse perdido o seu groove, para quase virar música para modelos anoréxicas.

"Pintura vermelha 1 e 2" são de 2011
Talvez seja meu o problema, de não gostar de nada com pouco gosto. Prefiro sempre o equilíbrio, mas entre o exagero e a falta, fico com o primeiro.

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