O que faz você ter afinidades com um certo tipo de música, literatura, filme, artes em geral, e não outro? Por que, aliás, você se identifica com as artes em geral e não com carros, cerveja, mergulho submarino? Como preferimos uma coisa a outra? Há forma de modificar esse nosso gosto? Ou há algo muito íntimo, inicial, que marca a nossa alma que nos define assim que somos concebidos? Se for possível, o que fazer? Por que fazer? Quando fazer? Como fazer?
Igual a outras situações, suspeito que não haverá uma resposta simples nem única para todas essas indagações. Cada um vai tentar responder a essas dúvidas - se quiser, claro - da melhor maneira possível. Eu, pelo meu lado, sigo a sugestão deixada por Borges, quando ele dizia que gostar é se reconhecer [ou algo do gênero]. Para os críticos dessa ideia, o argumento contrário é que isso demonstraria como somos narcisistas - o que não é necessariamente verdadeiro.
Não acho que seja o caso de só achar bonito aquilo que é espelho, mas de, quando precisamos / podemos escutar os nossos quereres, sem precisar nos guiar por imposições externas, mergulhamos dentro de nós até encontrar algo que reverbere o que presenciamos. Ou, para ser bastante psicanalítico - já que estamos falando de Narciso - tentamos nos lembrar, e repetir [reverberar, ecoar, revisitar] as nossas alegrias primárias. Talvez seja impossível. Talvez nunca nos banhemos no mesmo rio, talvez tenhamos caído já do nosso paraíso pessoal e jamais provaremos o gosto daquela fruta novamente. Mas isso não nos impede, até mesmo inconscientemente, de tentar refazer o gesto.
Mas esse raciocínio nos leva a outro, um tantinho mais estranho. Se admitirmos que gostar é se reconhecer, o processo seguinte é, então: como sabermos que estamos vendo um espelho ou estamos sendo enganados por um vidro transparente que mostra "apenas" o mundo lá fora? Ou ainda: de onde brotam esses fundamentos, essas primeiras alegrias que são os motivos de gostarmos ou não de alguma coisa?
À primeira pergunta, a resposta é igualmente translúcida. Não sabemos. Apenas suspeitamos quem somos, ou nos descobrimos a cada momento e cabe a cada um de nós afiar os ouvidos para tentar escutar os nossos gritos internos e, à medida do possível, tentar tocar o barco nessa ou naquela direção. Não é certeza de tiro certeiro, mas é o melhor que podemos fazer. É suficientemente certo, digamos assim.
À segunda questão, me parece que já tinha insinuado a réplica. Aprendemos a gostar ou desgostar de cada um dos elementos da vida. Por mais que esse raciocínio possa parecer que somos uma espécie de barro que é moldado aos poucos. Quando nascemos, não somos programados, mas a partir das nossas experiências, vamos escolhendo, inconscientemente, automaticamente, individualmente, o que queremos, o que gostamos. Como eu ouvi recentemente, quando nascemos, somos apenas um filhote do bicho homem, é com o convívio que nos tornamos gente [alguns mais que outros, claro].
Isso quer dizer que podemos mudar os nossos gostos futuramente? Em tese, teoria, até poderia se dizer que sim. Isso pode acontecer, por exemplo, com o gosto musical. Com o tempo, aprendemos - ou desaprendemos - a gostar de determinadas bandas, gêneros, estilos, cantores, etc. Em outros casos, há uma trava, que remete a algum pedaço quase esquecido lá de dentro do nosso ser.
A prática demonstra que há algumas verdades que já foram tão assentadas em nosso solo interno, que já não conseguem se desgrudar do nosso corpo sem a perda de um ou de outro. Seria como tirar um pedaço nosso. Seria como arrancar o Pão de Açúcar de lugar - dá até para imaginar, mas é verdadeiramente impossível.
Eu gosto do Pão de Açúcar |
Não acho que seja o caso de só achar bonito aquilo que é espelho, mas de, quando precisamos / podemos escutar os nossos quereres, sem precisar nos guiar por imposições externas, mergulhamos dentro de nós até encontrar algo que reverbere o que presenciamos. Ou, para ser bastante psicanalítico - já que estamos falando de Narciso - tentamos nos lembrar, e repetir [reverberar, ecoar, revisitar] as nossas alegrias primárias. Talvez seja impossível. Talvez nunca nos banhemos no mesmo rio, talvez tenhamos caído já do nosso paraíso pessoal e jamais provaremos o gosto daquela fruta novamente. Mas isso não nos impede, até mesmo inconscientemente, de tentar refazer o gesto.
Mas esse raciocínio nos leva a outro, um tantinho mais estranho. Se admitirmos que gostar é se reconhecer, o processo seguinte é, então: como sabermos que estamos vendo um espelho ou estamos sendo enganados por um vidro transparente que mostra "apenas" o mundo lá fora? Ou ainda: de onde brotam esses fundamentos, essas primeiras alegrias que são os motivos de gostarmos ou não de alguma coisa?
À primeira pergunta, a resposta é igualmente translúcida. Não sabemos. Apenas suspeitamos quem somos, ou nos descobrimos a cada momento e cabe a cada um de nós afiar os ouvidos para tentar escutar os nossos gritos internos e, à medida do possível, tentar tocar o barco nessa ou naquela direção. Não é certeza de tiro certeiro, mas é o melhor que podemos fazer. É suficientemente certo, digamos assim.
À segunda questão, me parece que já tinha insinuado a réplica. Aprendemos a gostar ou desgostar de cada um dos elementos da vida. Por mais que esse raciocínio possa parecer que somos uma espécie de barro que é moldado aos poucos. Quando nascemos, não somos programados, mas a partir das nossas experiências, vamos escolhendo, inconscientemente, automaticamente, individualmente, o que queremos, o que gostamos. Como eu ouvi recentemente, quando nascemos, somos apenas um filhote do bicho homem, é com o convívio que nos tornamos gente [alguns mais que outros, claro].
Isso quer dizer que podemos mudar os nossos gostos futuramente? Em tese, teoria, até poderia se dizer que sim. Isso pode acontecer, por exemplo, com o gosto musical. Com o tempo, aprendemos - ou desaprendemos - a gostar de determinadas bandas, gêneros, estilos, cantores, etc. Em outros casos, há uma trava, que remete a algum pedaço quase esquecido lá de dentro do nosso ser.
A prática demonstra que há algumas verdades que já foram tão assentadas em nosso solo interno, que já não conseguem se desgrudar do nosso corpo sem a perda de um ou de outro. Seria como tirar um pedaço nosso. Seria como arrancar o Pão de Açúcar de lugar - dá até para imaginar, mas é verdadeiramente impossível.
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