Agora que a exposição de Luiz Zerbini, "Amor", chegou ao fim no MAM-RJ, vou repassar as anotações que eu fiz enquanto passeava pelo saguão do museu "assistindo" às obras dele, e enquanto as pessoas tiravam fotos das fotos que não eram mais fotos [deve haver uma ironia escondida por aí].
Read made.
Como fazer telas com negativos / positivos de fotografias? O material, nesse caso, realmente importa? Provavelmente sim. Há uma clara preocupação estética na arrumação dos positivos. Há intervenções, colorações, representações - em certo momento é como se olhássemos do alto de uma cidade organizada. Há perspectiva. E há ângulos diferentes: ao se aproximar é possível ver os positivos. No geral, não conseguem captar muito a minha atenção.
Há citações de arte abstrata: Pollock [?]. Uma bandeira [do Brasil?]. O mar [azul!].
O retrato de uma cidade. Um cidade que valoriza artistas. Clara, aberta, com poucos prédios, muitos espaços em branco. Um labirinto. Jogo da velha. Labirintos. Mondrian?
Os títulos são esquecidos num canto. São importantes?
Read made or not. A transfiguração do objeto comum, mas não tão comum, em outro, incomum.
Telas.
[A parede do MAM sofre com vazamentos que chamam a atenção principalmente porque as telas são vazadas.]
"Suicida alto astral". "Crédulo na vida porém suicida", está escrito na tela. Suicida é um estado de espírito ou uma ação? Exuberância, luxúria, verde, plantas e, no alto, uma caveira. Tentou o humor?
O mar retratado como se aprisionado em uma TV, com várias linhas horizontais. É interessante?
Gostei de uma figurativa, chamada "Mamão manilha". Formas bem quadradas, divisão espacial pixelada. Exuberância novamente. A natureza, na sua potência criadora, é reproduzida. Mas ele tenta organizar esse caos. Aclimatá-lo nos quadrados da tela quadrada. É um embate. Ou uma assimilação.
Na parte de cima da parede, da mesma parede, telas abstratas. Os quadrados vencem. As formas se resumem a repetições de pequenos quadrados.
Uma pequena cena surrealista. Uma cena realista de um personagem surreal.
Água. Uma piscina? Um pequeno porto? As águas balançam. Não parece o mar. A cor é escura. É suave o balançar. Ele ainda tenta aprisionar a paisagem. Ou apreender. Aprender. Prender.
Parece que estamos sempre na favela, em um ambiente que em o caos e o mínimo de organização se encontram. Postes, fios, caixas de som, um mico. Transformador, árvores, caramujos, plantas, plantas na lata de tinta. Um chinelo. Ao fundo, quadrados. De novo.
Os quadrados abstratos fazem muito mais sentido nesse contexto. São a depuração da realidade. São o retratos figurativos, sem a figuração.
A praia, novamente, vai perdendo a materialidade. Ela agora é o pano de fundo. As intervenções, os riscos, as cores, enquadramento, estão no primeiro-plano. Mata fechada, folhas de todas as cores.
O ambiente do computador: bits e bytes. Estamos dentro de um disco rígido. Aqui, o ambiente nasceu quadrado. E quem aparece? Insetos. Larvas, demonstrando que a vida aparece mesmo nos ambientes mais inóspitos.
Instalação.
Ele é tão fascinado pela praia que a trouxe para cá. Tentou reproduzir um ambiente, bem estilizado, pobre, brasileiro, que sempre dá um jeito de sobreviver com um pouquinho mais de conforto. Areia em todos os... quadrados.
Como decodificar a vida? Todas as telas têm quadrados - limites. Menos a do surfista - ato falho - "Suicida alto astral". Talvez tenha uma explicação para isso.
Na instalação, encontramos - olha ela aí de novo - uma caixa de som. Um rádio. Um iPod. E um copo de pinga. São pescadores.
Conclusão.
Zerbini se faz algumas perguntas: como fazer arte - como produzir - em um ambiente tropical? Em um lugar que é alegre - alto astral? É necessário ser um suicida? É necessário negar esse ambiente? Ser contra essa inexorabilidade? É necessário tentar enquadrar as paisagens? Dar um sentido a esse caos que nos arrodeia? Como lidar com a exuberância, com o exagero, com o não-se-importar da natureza, que aparece até em ambientes anódinos, em um país tropical? Como controlar a pujança, a força produtora, a "vontade"? Há a necessidade de moldá-la? Como esse país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza lida com esse mundo fragmentado - de bits, bytes, de quadrados, pixels, de positivos de fotografias?
Nós seguimos em frente, como sempre. Nos adaptamos, reciclamos. Onde está a beleza aí? Há beleza nesse ambiente? Será que não devemos apenas treinar nosso olhar para encontrar o belo no mamoeiro - essa quase praga - que brota num vaso no meio da obra? Obra! Uma reforma. Estamos em reforma. Abertos para a obra. Talvez essa seja a resposta para todas as perguntas.
Read made.
Como fazer telas com negativos / positivos de fotografias? O material, nesse caso, realmente importa? Provavelmente sim. Há uma clara preocupação estética na arrumação dos positivos. Há intervenções, colorações, representações - em certo momento é como se olhássemos do alto de uma cidade organizada. Há perspectiva. E há ângulos diferentes: ao se aproximar é possível ver os positivos. No geral, não conseguem captar muito a minha atenção.
Há citações de arte abstrata: Pollock [?]. Uma bandeira [do Brasil?]. O mar [azul!].
O retrato de uma cidade. Um cidade que valoriza artistas. Clara, aberta, com poucos prédios, muitos espaços em branco. Um labirinto. Jogo da velha. Labirintos. Mondrian?
Os títulos são esquecidos num canto. São importantes?
Read made or not. A transfiguração do objeto comum, mas não tão comum, em outro, incomum.
Telas.
[A parede do MAM sofre com vazamentos que chamam a atenção principalmente porque as telas são vazadas.]
"Suicida alto astral", detalhe |
O mar retratado como se aprisionado em uma TV, com várias linhas horizontais. É interessante?
Gostei de uma figurativa, chamada "Mamão manilha". Formas bem quadradas, divisão espacial pixelada. Exuberância novamente. A natureza, na sua potência criadora, é reproduzida. Mas ele tenta organizar esse caos. Aclimatá-lo nos quadrados da tela quadrada. É um embate. Ou uma assimilação.
Na parte de cima da parede, da mesma parede, telas abstratas. Os quadrados vencem. As formas se resumem a repetições de pequenos quadrados.
Uma pequena cena surrealista. Uma cena realista de um personagem surreal.
Água. Uma piscina? Um pequeno porto? As águas balançam. Não parece o mar. A cor é escura. É suave o balançar. Ele ainda tenta aprisionar a paisagem. Ou apreender. Aprender. Prender.
Parece que estamos sempre na favela, em um ambiente que em o caos e o mínimo de organização se encontram. Postes, fios, caixas de som, um mico. Transformador, árvores, caramujos, plantas, plantas na lata de tinta. Um chinelo. Ao fundo, quadrados. De novo.
Os quadrados abstratos fazem muito mais sentido nesse contexto. São a depuração da realidade. São o retratos figurativos, sem a figuração.
A praia, novamente, vai perdendo a materialidade. Ela agora é o pano de fundo. As intervenções, os riscos, as cores, enquadramento, estão no primeiro-plano. Mata fechada, folhas de todas as cores.
O ambiente do computador: bits e bytes. Estamos dentro de um disco rígido. Aqui, o ambiente nasceu quadrado. E quem aparece? Insetos. Larvas, demonstrando que a vida aparece mesmo nos ambientes mais inóspitos.
Instalação.
Ele é tão fascinado pela praia que a trouxe para cá. Tentou reproduzir um ambiente, bem estilizado, pobre, brasileiro, que sempre dá um jeito de sobreviver com um pouquinho mais de conforto. Areia em todos os... quadrados.
Como decodificar a vida? Todas as telas têm quadrados - limites. Menos a do surfista - ato falho - "Suicida alto astral". Talvez tenha uma explicação para isso.
Na instalação, encontramos - olha ela aí de novo - uma caixa de som. Um rádio. Um iPod. E um copo de pinga. São pescadores.
Conclusão.
Zerbini se faz algumas perguntas: como fazer arte - como produzir - em um ambiente tropical? Em um lugar que é alegre - alto astral? É necessário ser um suicida? É necessário negar esse ambiente? Ser contra essa inexorabilidade? É necessário tentar enquadrar as paisagens? Dar um sentido a esse caos que nos arrodeia? Como lidar com a exuberância, com o exagero, com o não-se-importar da natureza, que aparece até em ambientes anódinos, em um país tropical? Como controlar a pujança, a força produtora, a "vontade"? Há a necessidade de moldá-la? Como esse país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza lida com esse mundo fragmentado - de bits, bytes, de quadrados, pixels, de positivos de fotografias?
Nós seguimos em frente, como sempre. Nos adaptamos, reciclamos. Onde está a beleza aí? Há beleza nesse ambiente? Será que não devemos apenas treinar nosso olhar para encontrar o belo no mamoeiro - essa quase praga - que brota num vaso no meio da obra? Obra! Uma reforma. Estamos em reforma. Abertos para a obra. Talvez essa seja a resposta para todas as perguntas.
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