Era a segunda vez que íamos ver o
Hypnotic Brass Ensemble - a primeira tinha sido no Canecão, durante um PercPan, em que os oito irmãos dos sopros mais o baterista não fizeram muito sucesso. O motivo: eles tocaram pouco e fizeram muita gracinha para o público. Coisas do nível turma da Xuxa: “quem é o mais animado, o grupo da esquerda ou o da direita?” Ou, “vamos dar uma abaixadinha; agora levanta e toque o céu”. Ou, “acenda o seu celular porque a próxima música é lenta”. Cenas de constrangimento explícito, ou porque os brasileiros não os entendíamos direito, ou porque o público carioca desse tipo de evento / show é blasé demais para se imaginar numa micareta.
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Os irmãos Cohran fazem a sua dança de desenho animado |
Aqui, em Londres, ontem, no meio da principal rua de Camden, o bairro mais boêmio que conhecemos até agora, dentro de uma casa de shows intimista chamada Jazz Café, entretanto, foi completamente diferente. A plateia, que já estava devidamente aquecida pela
Hackney Colliery Band, obedeceu a todos os comandos, para o delírio dos meninos [são todos muito novos] e nossa surpresa.
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Era o último show da Cath Roberts, que toca aqui o saxofone barítono, igual
o da Lisa Simpson, ao lado de seu amigo Tom Ward |
Assim como o Hypnotic, os garotos e o coroa de Hackney são nove músicos, mas com dois na percussão. São todos bem novos – assim como os meninos de Chicago – com a exceção do senhor que toca o sousaphone [um tipo de tuba usado por bandas de sopros, feito para locomoção], Jeff Miller, que era o mais animado de todos. Como eram razoavelmente desconhecidos, fizeram um show curto, de pouco mais de uma hora, optando por diversos covers, em versão sopro, como uma música do Kings of Leon. Fizeram bastante sucesso numa plateia que não estava ali para vê-los, a ponto de pedirem bis.
Logo em seguida, por volta das 21h30, subiram os nove americanos com cara de gangsta rappers. Cumprimentaram as pessoas da turma do gargarejo e, antes de começar a tocar, foram conversar com as pessoas. Nossas esperanças de que eles tocassem mais e falassem menos estavam fadadas ao fracasso. Todas as gracinhas do Brasil se repetiram, além de outras como uma competição de rima, uma discussão com a produção por conta da luz e do retorno, uma piada em relação aos pedidos recorrentes da plateia para tocarem seu principal hit [“Nós somos contra ‘War’, nós somos de paz”], e o pior momento de todos: quando vários irmãos decidiram tirar a camisa e mostrar seus músculos mirrados e suas tatuagens de presidiários americanos.
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'Tira a camisa' [da esquerda para direita: Yoshi, Smoov, Hudah - nos trompetes - e L.T. no sousaphone - vai dizer que você não chamava esse instrumento de tuba?] |
Contudo, talvez por terem mais identificação com o público, suas brincadeiras acabaram na metade da apresentação. Na segunda parte, aí sim, eles mostraram por que são referência de um jazz que não é velho, que não é esnobe, que não é para “apreciar”, que é, como sempre foi no início dos tempos, para se dançar, para se largar, deixar o corpo enlouquecer com a metaleira. Se até o meio, a cada interrupção eu temia que o menino que tocava o sousaphone [L.T.] desplugasse o seu microfone – era a dica de que a falação iria começar –, do meio para o fim, eu me despreocupei: quase não houve parada. E, até as dancinhas que eles insinuaram nesse segundo capítulo foram simpáticas. Aliás, o jeito de eles tocarem, com movimentos sincronizados, de um lado para o outro, é quase uma marca registrada. Lembra aqueles desenhos animados da década de 1970 em que, por falta de frames, se repetiam uns dois, dando um ritmo com relação à música – o que é bem divertido.
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[Acho que...] Rocco, em seu momento rapper |
Uma hipótese que apareceu para explicar esse comportamento deles foi: eles têm uma influência forte do hip hop, em que os MCs são, como o nome em português sugere, mestres de cerimônia. São jazzistas mas queriam ser funqueiros. No fundo, sem saber, são a mesma coisa.
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