Laurence Sterne e o seu "Tristram Shandy" apareceram novamente na biografia de Schopenhauer - e apenas nessa segunda oportunidade houve uma nota de pé-de-página contextualizando quem era esse tal de Sterne - ou, apenas nessa segunda oportunidade a nota era tão esdrúxula que me chamou a atenção para ela a ponto de não me fazê-la esquecer. Dizia que o cadáver do escritor havia sido roubado e vendido para estudos, quando foi reconhecido, no momento da dissecação, pelo professor de anatomia da Universidade de Cambridge, que seria amigo de Sterne, e que providenciou um segundo enterro para ele. Típico caso que se pode aplicar o epiteto que serve de título para o "Quincas Berro D'Água": a morte e a morte de Sterne.
A questão é: por que o tradutor da obra decidiu que essa seria uma informação interessante para se ressaltar e tentar explicar quem era Sterne? Ele já tinha dito que o escritor também era um pastor, que tinha nascido em uma cidadezinha irlandesa, já tinha dado o ano de nascimento e morte - assim como ele tinha feito com diversos outros nomes aparentemente desconhecidos para mim - e resolveu acrescentar a informação sui generis sobre o destino de seu corpo. Por que ele fez isso?
Já tinha lido - até no "Lonely planet" - que os "body snatchers" eram um problema grave na Inglaterra até o século xix. Há diversos artigos na internet contando sobre esse episódio estranho da história inglesa - de como os mortos eram desenterrados e vendidos para as faculdades de medicina, para serem usados nas aulas de anatomia, e de como isso foi chocante quando se tornou público. Há, aliás, uma insinuação que o fato de terem descoberto Sterne teria motivado essa mudança de comportamento, criando até uma lei que proibia essa prática mórbida. Outros textos tentam - não justificar, mas - contemporizar afirmando que, por conta desses cadáveres roubados, a medicina progrediu bastante [não vamos entrar no mérito dos fins justificando os meios].
A questão de Sterne, apesar de descrita com bastante clareza na nota do livro, não aparece exatamente dessa maneira em seu verbete no "Guardian", que chama o fato de "lenda" e conta teria sido um aluno a reconhecê-lo, não um professor. De qualquer forma, seu "Tristram Shandy" já era um dos livros mais famosos em toda a Europa - não apenas na Inglaterra - no momento do lançamento. Sterne, portanto, não era alguém completamente desconhecido - talvez, não fosse um rosto comum, numa época em que a cultura de celebridade não era, assim, tão avançada, mas, no meio de um público escolarizado, como a faculdade de medicina, era possível que houvesse alguém que soubesse como era o seu rosto.
Uma suspeita para a responder à pergunta do motivo que levou o tradutor da obra de Rüdiger Safranski a comentar o caso em seu espaço: William Lagos achou curioso, curioso a ponto de querer dividir a história com outras pessoas. O nascimento da literatura, propriamente dito, tem essa conotação. O cara que achou que tal história era boa o suficiente para compartilhar com outras pessoas. Ele apenas cumpriu uma função de passar adiante o conto.
A questão é: por que o tradutor da obra decidiu que essa seria uma informação interessante para se ressaltar e tentar explicar quem era Sterne? Ele já tinha dito que o escritor também era um pastor, que tinha nascido em uma cidadezinha irlandesa, já tinha dado o ano de nascimento e morte - assim como ele tinha feito com diversos outros nomes aparentemente desconhecidos para mim - e resolveu acrescentar a informação sui generis sobre o destino de seu corpo. Por que ele fez isso?
Já tinha lido - até no "Lonely planet" - que os "body snatchers" eram um problema grave na Inglaterra até o século xix. Há diversos artigos na internet contando sobre esse episódio estranho da história inglesa - de como os mortos eram desenterrados e vendidos para as faculdades de medicina, para serem usados nas aulas de anatomia, e de como isso foi chocante quando se tornou público. Há, aliás, uma insinuação que o fato de terem descoberto Sterne teria motivado essa mudança de comportamento, criando até uma lei que proibia essa prática mórbida. Outros textos tentam - não justificar, mas - contemporizar afirmando que, por conta desses cadáveres roubados, a medicina progrediu bastante [não vamos entrar no mérito dos fins justificando os meios].
A questão de Sterne, apesar de descrita com bastante clareza na nota do livro, não aparece exatamente dessa maneira em seu verbete no "Guardian", que chama o fato de "lenda" e conta teria sido um aluno a reconhecê-lo, não um professor. De qualquer forma, seu "Tristram Shandy" já era um dos livros mais famosos em toda a Europa - não apenas na Inglaterra - no momento do lançamento. Sterne, portanto, não era alguém completamente desconhecido - talvez, não fosse um rosto comum, numa época em que a cultura de celebridade não era, assim, tão avançada, mas, no meio de um público escolarizado, como a faculdade de medicina, era possível que houvesse alguém que soubesse como era o seu rosto.
Uma suspeita para a responder à pergunta do motivo que levou o tradutor da obra de Rüdiger Safranski a comentar o caso em seu espaço: William Lagos achou curioso, curioso a ponto de querer dividir a história com outras pessoas. O nascimento da literatura, propriamente dito, tem essa conotação. O cara que achou que tal história era boa o suficiente para compartilhar com outras pessoas. Ele apenas cumpriu uma função de passar adiante o conto.
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