Dizem que Leonardo da Vinci era uma pessoa muito dispersiva.
Começava um trabalho e logo era distraído para fazer outra coisa, e deixava
inacabado o trabalho inicial. De seus quadros, quase todos não estão
finalizados, em diferentes modos de acabamento. Há histórias de que ele teve
que voltar quase uma década depois para acabar o quadro que iniciara e já tinha
sido pago – o caso da segunda versão da “Virgem das rochas”, por exemplo. Em
outros casos, era comum que ele desenvolvesse um material para ser usado na
pintura que se conservasse fresco por um tempo maior, para que ele pudesse
produzir suas obras na velocidade que ele quisesse. Poderia dar uma pincelada
hoje e ir para casa. Passar uma semana fora, voltar, e apenas observar o que já
tinha sido feito, refletindo sobre o próximo passo a dar. Retornar no dia
seguinte e passar quatro dias pintando, sem se alimentar de nada. Afirmam que
esse foi o caso da “Última ceia”, e, inclusive, o motivo da sua ruína: ter
usado uma mistura de tinta a óleo com ovo que pereceu em poucos anos.
Leonardo é ainda hoje um personagem curioso. Se por um lado
é visto como o grande nome do Renascimento, quase uma síntese desse movimento,
um homem que trafegava por áreas de atuação das mais variadas possíveis, por
outro, esquece-se que, até os 30 anos – já uma idade avançada, para a época,
salvo em casos exemplares e exceções, como Michelangelo, que viveu mais de 90
anos – ele não tinha produzido nada realmente relevante no campo da pintura
para ser considerado um gênio. Quando se oferece para o Sforza, o duque de
Milão, se vende – no sentido de mostrar suas qualidades – como um engenheiro [segundo a maioria das versões que eu ouvi],
como alguém que conseguia produzir equipamentos militares, armas que tornariam
a cidade-estado mais poderosa.
Sforza era um homem que não estava na lista da sucessão do
trono, mas que dá um golpe no seu sobrinho, de 7 anos, filho do seu irmão mais
velho que acabara de falecer, e sobe ao poder. Era um homem educado nas artes
militares, o que não era comum entre os príncipes distantes do verdadeiro
comando. Eles geralmente estudavam apenas o clássico: artes, línguas,
matemáticas. Por isso, talvez, ele aproveita o talento artístico de Leonardo
para recriar, ou emular, a academia de Platão, com Da Vinci como chamariz
principal, e principal nome. Foi o primeiro a descobrir a força dessa “marca” –
e a partir de então, o mundo vem venerando.
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