Há aquela piada agridoce que diz: com o crescimento da China, ainda sentiremos falta dos EUA. O mesmo, eu suspeito, pode ser dito para a Igreja Católica e a Globo, com o crescimento, respectivamente, das igrejas evangélicas [principalmente da Igreja Universal do Reino de deus, doravante Iurd] e da Record.
O caso Russomanno é bastante exemplar sobre isso. Praticamente o pior candidato da história de São Paulo [e olha que eles já tiveram Jânio Quadros - após renunciar à presidência -, Maluf - quantas vezes? - Pitta, "que pelo menos teve a decência de cair", e Kassab, que já foi citado como o pior prefeito de São Paulo], seu crescimento estonteante foi colocado na conta da ligação [nebulosa] entre o seu partido [o tradicionalíssimo PRB], com a Iurd e, por consequência, com a Record.
O mecanismo gerencial que seria usado pelos pastores para aumentar suas arrecadações teria sido aplicado também para angariar votos. [Reparem que todas as informações aqui estão no condicional porque: 1/ eu nunca frequentei uma Iurd; 2/ eu não vou a São Paulo há mais de dois anos.] Também devemos levar em consideração que ele já era um rostinho conhecido por sua ligação com o próprio dem... Maluf, e ter sido jornalista na época em que qualquer um poderia ser jornalista [atenção, essa última frase tem altos teores de ironia]. E não podemos esquecer que, aparentemente, a principal diversão do PT e do PSDB em São Paulo não é ganhar a eleição, mas fazer com que o outro perca. No meio dos dois, ocupando os espaços vazios, Russomanno cresceu tranquilamente.
Aí, a luz amarela-alaranjada se acendeu. Os dois candidatos dos principais partidos começaram a bater no Russomanno [que já foi chamado de Russo-desumano, tá-Russo-mano, entre outros nomes engraçadinhos-sem-graça], e os vídeos mais constrangedores da sua versão jornalista começaram a pipocar. Além disso, houve uma declaração [infeliz] que defendia a tarifa proporcional para os ônibus, que descontentou exatamente os seus eleitores, a galera que mora na periferia, que usa mais o transporte coletivo e, certamente, pagaria mais por ele que os que moram no centro. Tiro no pé total.
Por fim, houve o poder das antigas tradições, mostrando que ainda não estão totalmente mortas e esquecidas. Como bem observou o sempre atento Alberto Dines, a Igreja Católica teve papel preponderante nessa mudança de posição dos eleitores. O que nos leva à pergunta: por que a Igreja Católica seria melhor que a Iurd? Sentir "saudade" dela no futuro seria, portanto, apenas uma atitude conservadora, de conservar?
Recentemente, vimos o crescimento de outras agremiações evangélicas - aliás a Iurd não é nem próximo do maior grupo nesse segmento, em números de fiéis, segundo o último censo - e uma disputa pelo discurso hegemônico entre os evangélicos, pulverizando o poder deles [mal sabem eles que isso pode ser uma vantagem; mas isso é papo para "outro pôr de sol"].
Também vimos nos últimos dias que, mesmo nos EUA, quando o voto religioso é mais antigo, mais famoso, e de onde nós copiamos a grande maioria das atitudes e ações, uma pesquisa afirma que, pela primeira vez na história, menos da metade dos norte-americanos se dizem "protestantes". Noves fora as complicações metodológicas da pesquisa, e a influência que isso tem diretamente na política, principalmente num país que o primeiro esforço é levar o povo às urnas, é um dado que deveria ser levado em conta, principalmente considerando o candidato republicano à presidência, o mórmon Mitt Romney.
Na verdade, as previsões, assim como os romances distópicos, servem para nos alertarmos que o nosso passo está saindo dos trilhos e, se continuarmos assim, é possível que o futuro seja bem mais complicado que o nosso presente. Por exemplo, suspeito fortemente que, mostrando que a polarização é mais importante o bem-estar dos cidadãos, o PT tenderia a apoiar Russomanno num eventual segundo-turno contra o PSDB. Ignoraria aquele gesto mais que humilde, um gesto grandioso do Mário Covas, que apoiou Marta quando ela chegou à prorrogação eleitoral contra o Maluf.
Felizmente o passar do tempo não é linear e qualquer previsão futurística tem uma probabilidade muito grande de fracassar - vide os diagnósticos médicos e a meteorologia. Mas elas não são de todo inúteis. As previsões servem para nos prepararmos, para evitarmos o pior, para trabalharmos contra - ou a favor - delas. Para impedir que sujeitos como o Russomanno assumam o poder da maior cidade brasileira.
O caso Russomanno é bastante exemplar sobre isso. Praticamente o pior candidato da história de São Paulo [e olha que eles já tiveram Jânio Quadros - após renunciar à presidência -, Maluf - quantas vezes? - Pitta, "que pelo menos teve a decência de cair", e Kassab, que já foi citado como o pior prefeito de São Paulo], seu crescimento estonteante foi colocado na conta da ligação [nebulosa] entre o seu partido [o tradicionalíssimo PRB], com a Iurd e, por consequência, com a Record.
O mecanismo gerencial que seria usado pelos pastores para aumentar suas arrecadações teria sido aplicado também para angariar votos. [Reparem que todas as informações aqui estão no condicional porque: 1/ eu nunca frequentei uma Iurd; 2/ eu não vou a São Paulo há mais de dois anos.] Também devemos levar em consideração que ele já era um rostinho conhecido por sua ligação com o próprio dem... Maluf, e ter sido jornalista na época em que qualquer um poderia ser jornalista [atenção, essa última frase tem altos teores de ironia]. E não podemos esquecer que, aparentemente, a principal diversão do PT e do PSDB em São Paulo não é ganhar a eleição, mas fazer com que o outro perca. No meio dos dois, ocupando os espaços vazios, Russomanno cresceu tranquilamente.
Aí, a luz amarela-alaranjada se acendeu. Os dois candidatos dos principais partidos começaram a bater no Russomanno [que já foi chamado de Russo-desumano, tá-Russo-mano, entre outros nomes engraçadinhos-sem-graça], e os vídeos mais constrangedores da sua versão jornalista começaram a pipocar. Além disso, houve uma declaração [infeliz] que defendia a tarifa proporcional para os ônibus, que descontentou exatamente os seus eleitores, a galera que mora na periferia, que usa mais o transporte coletivo e, certamente, pagaria mais por ele que os que moram no centro. Tiro no pé total.
Por fim, houve o poder das antigas tradições, mostrando que ainda não estão totalmente mortas e esquecidas. Como bem observou o sempre atento Alberto Dines, a Igreja Católica teve papel preponderante nessa mudança de posição dos eleitores. O que nos leva à pergunta: por que a Igreja Católica seria melhor que a Iurd? Sentir "saudade" dela no futuro seria, portanto, apenas uma atitude conservadora, de conservar?
Recentemente, vimos o crescimento de outras agremiações evangélicas - aliás a Iurd não é nem próximo do maior grupo nesse segmento, em números de fiéis, segundo o último censo - e uma disputa pelo discurso hegemônico entre os evangélicos, pulverizando o poder deles [mal sabem eles que isso pode ser uma vantagem; mas isso é papo para "outro pôr de sol"].
Também vimos nos últimos dias que, mesmo nos EUA, quando o voto religioso é mais antigo, mais famoso, e de onde nós copiamos a grande maioria das atitudes e ações, uma pesquisa afirma que, pela primeira vez na história, menos da metade dos norte-americanos se dizem "protestantes". Noves fora as complicações metodológicas da pesquisa, e a influência que isso tem diretamente na política, principalmente num país que o primeiro esforço é levar o povo às urnas, é um dado que deveria ser levado em conta, principalmente considerando o candidato republicano à presidência, o mórmon Mitt Romney.
Na verdade, as previsões, assim como os romances distópicos, servem para nos alertarmos que o nosso passo está saindo dos trilhos e, se continuarmos assim, é possível que o futuro seja bem mais complicado que o nosso presente. Por exemplo, suspeito fortemente que, mostrando que a polarização é mais importante o bem-estar dos cidadãos, o PT tenderia a apoiar Russomanno num eventual segundo-turno contra o PSDB. Ignoraria aquele gesto mais que humilde, um gesto grandioso do Mário Covas, que apoiou Marta quando ela chegou à prorrogação eleitoral contra o Maluf.
Felizmente o passar do tempo não é linear e qualquer previsão futurística tem uma probabilidade muito grande de fracassar - vide os diagnósticos médicos e a meteorologia. Mas elas não são de todo inúteis. As previsões servem para nos prepararmos, para evitarmos o pior, para trabalharmos contra - ou a favor - delas. Para impedir que sujeitos como o Russomanno assumam o poder da maior cidade brasileira.
3 comentários:
Grato pela citação, pena que em referência ao Pitta. Abraço
citamos bem para citarmos sempre.
e era uma belíssima frase, convenhamos.
Obrigado, novamente.
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