Uma das grandes discussões da internet hoje é sobre a falta de diversidade no diálogo. O Facebook tenta "descobrir" quais são os seus interesses e priva você de encontrar aquelas opiniões que divergem das suas próprias. O Google, apesar de ter dificuldade em admitir, faz parecido: suas buscas são de acordo com o seu perfil. Eles até concedem em argumentar que é melhor dar uma resposta baseada, por exemplo, na geografia do internauta, já que não seria interessante você conseguir informações de um serviço que esteja do outro lado do Atlântico [era essa a propaganda do buscador no Tube, ano passado]. Não vou me alongar, já escrevi sobre isso aqui e aqui.
O mesmo acontece, claro, também na vida "offline" [eita expressãozinha estranha]: os jornais, cuja função genérica deveria ser a de informar [seja lá o que isso queira dizer no pormenor] tentam descobrir o que os seus leitores querem ler, e produzem matérias de acordo com essa ideia pré-concebida, com esse perfil imaginado. Isso para não falar nos mercados mais óbvios - os demais. De desodorante, passando por sabão em pó, até o de carro. Todos querem saber o que os seus consumidores precisam - mesmo que eles não precisem de mais nada - e se focam diretamente em suprir essas necessidades o mais diretamente possível. Fazem pesquisas e mais pesquisas de opinião para diminuir o ruído nas suas comunicações, atender as demandas reprimidas, descobrir potenciais novos nichos e até mesmo mercados.
O resultado, como não poderia deixar de ser, reflete no comportamento das pessoas. Cada vez menos abertas a experiências que, a priori, não os agradaria. Cada vez mais se fechando em programas iguais, que se repetem e que, com o tempo, tendem a se tornar iguais, tediosos, anódinos. Cada vez mais seguindo rotinas e obrigações, mesmo em situações que deveriam priorizar apenas o seu prazer. E tome veneno anti-monotonia, com doses cada vez mais altas, com diferentes cores e sabores, para compensar a falta de serotonina que adviria das descobertas, das surpresas, de todo o mundo lá fora do seu cotidiano comum, constante.
Isso me lembra um dos fatores que eu menos gostava em Nova Iguaçu, onde nasci e cresci. A grande diversão da cidade era beber. Então, bebia-se todo o fim de semana, repetida e inocuamente. Quando me mudei para o Rio, percebi que havia mais. Hoje, estou em dúvida. Hoje, o Rio me parece uma grande Nova Iguaçu.
Isso também me lembra um verso de uma música que aparentemente não tem qualquer ligação com o assunto, além de uma famosa frase dita pelo padre na hora do casamento. O verso é de Vinícius de Moraes do "Canto de Ossanha", em que o poeta sugere que se "pergunte pr'o seu Orixá / O amor só é bom se doer." A frase do casamento é aquela do "Na alegria e na tristeza / na saúde e na doença". Entre as milhares de interpretações que essas passagens podem ter, eu escolhi uma que as une: as partes ruins, as decepções - e voltando para o assunto inicial - os programas furados, de índio, fazem parte do processo de se experimentar a vida. O erro é parte do acerto - não dá para isolá-lo. Ou dá, mas aí, você também isola o acerto. Por isso o amor é bom só se doer - porque a dor é parte do amor, não algo à parte. Assim como o padre diz que o casal deve estar junto na "alegria e na tristeza", porque os dois sentimentos se autoalimentam, compõem o balanço de que é feito o casamento, e, consequentemente, a vida.
E claro que não é só no amor carnal que isso acontece. Quantas vezes você se pegou mais próximo de seus amigos após passar junto por uma situação de "perrengue"? Ou ainda, para ser "literário-histórico": quantas histórias de união nascem nos relatos de guerra? Ao se unir e lutar por um objetivo em comum, as pessoas relevam as diferenças por um bem único.
Voltando ao assunto inicial, não estou defendendo que as pessoas façam aquilo que já se sabe de antemão de que não se gosta, mas que se abram para experiências do desconhecido, que tentem optar por algo que seja uma surpresa, que se movimentem para não ficarem paradas, esperando que a grande novidade venha, como na música do Gil e dos Paralamas, dar na praia. Essa atitude é certeza de encarar programas dos piores do mundo. Certeza. Furadas existem aos montes. Mas, igualmente, de grandes descobertas, de grandes surpresas. De uma vida menos entediada.
O mesmo acontece, claro, também na vida "offline" [eita expressãozinha estranha]: os jornais, cuja função genérica deveria ser a de informar [seja lá o que isso queira dizer no pormenor] tentam descobrir o que os seus leitores querem ler, e produzem matérias de acordo com essa ideia pré-concebida, com esse perfil imaginado. Isso para não falar nos mercados mais óbvios - os demais. De desodorante, passando por sabão em pó, até o de carro. Todos querem saber o que os seus consumidores precisam - mesmo que eles não precisem de mais nada - e se focam diretamente em suprir essas necessidades o mais diretamente possível. Fazem pesquisas e mais pesquisas de opinião para diminuir o ruído nas suas comunicações, atender as demandas reprimidas, descobrir potenciais novos nichos e até mesmo mercados.
O resultado, como não poderia deixar de ser, reflete no comportamento das pessoas. Cada vez menos abertas a experiências que, a priori, não os agradaria. Cada vez mais se fechando em programas iguais, que se repetem e que, com o tempo, tendem a se tornar iguais, tediosos, anódinos. Cada vez mais seguindo rotinas e obrigações, mesmo em situações que deveriam priorizar apenas o seu prazer. E tome veneno anti-monotonia, com doses cada vez mais altas, com diferentes cores e sabores, para compensar a falta de serotonina que adviria das descobertas, das surpresas, de todo o mundo lá fora do seu cotidiano comum, constante.
Isso me lembra um dos fatores que eu menos gostava em Nova Iguaçu, onde nasci e cresci. A grande diversão da cidade era beber. Então, bebia-se todo o fim de semana, repetida e inocuamente. Quando me mudei para o Rio, percebi que havia mais. Hoje, estou em dúvida. Hoje, o Rio me parece uma grande Nova Iguaçu.
Baden Powell e Vinicius, autores dos "Afro Sambas" |
E claro que não é só no amor carnal que isso acontece. Quantas vezes você se pegou mais próximo de seus amigos após passar junto por uma situação de "perrengue"? Ou ainda, para ser "literário-histórico": quantas histórias de união nascem nos relatos de guerra? Ao se unir e lutar por um objetivo em comum, as pessoas relevam as diferenças por um bem único.
Voltando ao assunto inicial, não estou defendendo que as pessoas façam aquilo que já se sabe de antemão de que não se gosta, mas que se abram para experiências do desconhecido, que tentem optar por algo que seja uma surpresa, que se movimentem para não ficarem paradas, esperando que a grande novidade venha, como na música do Gil e dos Paralamas, dar na praia. Essa atitude é certeza de encarar programas dos piores do mundo. Certeza. Furadas existem aos montes. Mas, igualmente, de grandes descobertas, de grandes surpresas. De uma vida menos entediada.
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