Uma das grandes bolas-dentro do "Fim", Fim de Semana do Livro no Porto [os outros posts sobre o evento aqui e aqui], foi tentar conversar, debater, discutir o que é ser carioca hoje em dia. Houve mesa sobre futebol, samba e boteco, cenários que são bastante associados ao Rio, mas que muitas vezes são ignorados pelos próprios cariocas por repetir um lugar-comum sobre o morador da cidade. Qual é o limite entre o clichê e a identidade?
De toda forma, talvez por ter acontecido num ponto tão representativo da História do Rio de Janeiro, o Morro da Conceição, o Fim também, talvez sem querer, mostrou que ainda temos muito problemas graves a enfrentar.
Entre um debate e outro, não pude deixar de escutar a conversa entre duas mulheres, uma por volta das 40, 45 anos, e outra em torno dos 30. A mais nova contava à mais velha os problema que ela enfrentava com o filho, de 14 anos. A mãe, solteira, dizia em tom de lamento que não conseguia controlar o garoto. Poderia ser algo corriqueiro, um embate entre gerações tão comum, mas o caso era diferente, mais grave, porque o menino era violento. Já tinha quebrado propositalmente vários objetos da casa em discussões. Não adiantou a mãe explicar ao garoto que o filho mais novo - irmão dele, portanto - estava dormindo. O garoto não se importava.
A mãe ainda contou da noite que o menino passou fora de casa, chegando às 7 da manhã, bêbado. Ela ficou desesperada, tentou ir à polícia, mas descobriu que qualquer sumiço de menores de idade só pode ser comunicado após 24 horas do desaparecimento. Ela também lembrou das vezes que o garoto brigou com parentes, que tentaram lhe dar conselhos.
A mulher parecia perdida. Falou que trabalhava com crianças, e que as crianças a adoravam. Disse que o filho fica ainda mais agitado quando não fumava maconha. Com apenas 14 anos, o menino já parecia viciado, pela descrição da própria mãe. Ela disse que já tentou pressioná-lo, dizendo que não iria bancar o vício do menino. Já tentou assustá-lo, lembrando que quem não tem dinheiro para pagar a droga começa a fazer pequenos serviços para o "dono da boca". Ela chegou a comentar que não tinha qualquer preconceito com os rapazes do "movimento", cumprimentando a todos, mas que não queria o filho lá, por motivos óbvios. Lembrou de vários casos de meninos que fizeram futebol num projeto comunitário que estão ou presos ou trabalhando para o "movimento". E, claro, não queria o filho tivesse esse mesmo futuro.
Mas não sabia o que fazer para controlar o garoto. Estava perdida. Sem opção. Impotente. Contou que já tinha batido no garoto. Colocado o menino várias vezes de castigo, mas nada. A única resposta do menino foi: não adiantava, porque ele iria fazer tudo de novo.
De toda forma, talvez por ter acontecido num ponto tão representativo da História do Rio de Janeiro, o Morro da Conceição, o Fim também, talvez sem querer, mostrou que ainda temos muito problemas graves a enfrentar.
"Panorama da Cidade do Rio de Janeiro, Vista do Terraço do Morro da Conceição", de Thomas Ender, em 1817. A obra reproduz a paisagem vista a partir do Palácio Episcopal, na parte mais alta da Rua Major Daemon [foto CC] |
Entre um debate e outro, não pude deixar de escutar a conversa entre duas mulheres, uma por volta das 40, 45 anos, e outra em torno dos 30. A mais nova contava à mais velha os problema que ela enfrentava com o filho, de 14 anos. A mãe, solteira, dizia em tom de lamento que não conseguia controlar o garoto. Poderia ser algo corriqueiro, um embate entre gerações tão comum, mas o caso era diferente, mais grave, porque o menino era violento. Já tinha quebrado propositalmente vários objetos da casa em discussões. Não adiantou a mãe explicar ao garoto que o filho mais novo - irmão dele, portanto - estava dormindo. O garoto não se importava.
A mãe ainda contou da noite que o menino passou fora de casa, chegando às 7 da manhã, bêbado. Ela ficou desesperada, tentou ir à polícia, mas descobriu que qualquer sumiço de menores de idade só pode ser comunicado após 24 horas do desaparecimento. Ela também lembrou das vezes que o garoto brigou com parentes, que tentaram lhe dar conselhos.
A mulher parecia perdida. Falou que trabalhava com crianças, e que as crianças a adoravam. Disse que o filho fica ainda mais agitado quando não fumava maconha. Com apenas 14 anos, o menino já parecia viciado, pela descrição da própria mãe. Ela disse que já tentou pressioná-lo, dizendo que não iria bancar o vício do menino. Já tentou assustá-lo, lembrando que quem não tem dinheiro para pagar a droga começa a fazer pequenos serviços para o "dono da boca". Ela chegou a comentar que não tinha qualquer preconceito com os rapazes do "movimento", cumprimentando a todos, mas que não queria o filho lá, por motivos óbvios. Lembrou de vários casos de meninos que fizeram futebol num projeto comunitário que estão ou presos ou trabalhando para o "movimento". E, claro, não queria o filho tivesse esse mesmo futuro.
Mas não sabia o que fazer para controlar o garoto. Estava perdida. Sem opção. Impotente. Contou que já tinha batido no garoto. Colocado o menino várias vezes de castigo, mas nada. A única resposta do menino foi: não adiantava, porque ele iria fazer tudo de novo.
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