segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Otimismo forçado para a Copa do Mundo

Primeiro foi o comercial da Brahma, como bem já havia destacado Jorge Fernando, que nos mostrou que não precisamos fazer nada para que a Copa do Mundo seja perfeita - com aeroportos funcionando perfeitamente, e o trânsito tranquilo mesmo nas grandes cidades - porque, bem, fazemos os "maiores clássicos" [gostaria de ouvir a opinião de um milanês sobre o assunto], o rèveillon e o carnaval. Fim do argumento, estou convencido.

Depois, o da Volkswagen, que começa falando que há uma reclamação generalizada porque o futebol não seria "mais o mesmo", e que a "magia" teria acabado. Em seguida, eles desconversam: "bobagem, nada mata o nosso amor à camisa". Começa a repetir que somos inventores, criativos, e, enquanto um Gol aparentemente dirigido pelo Neymar adentra um Maracanã banguela, que ninguém faz "gol" como a gente. Nem tão caro.

Em seguida, foi a vez da Globo [não encontrei o vídeo] veicular um institucional com a sua nova assinatura "a gente se liga em você", lançada, segundo consegui apurar, há cerca de um ano, mas focada especificamente na parte de esportes. Pelo que eu me lembro, há uma série de platitudes sobre o esporte em geral, e termina reafirmando que somos um país de neymares, ayrtons, daianes. Considerando que não estamos em período de Olimpíadas, nem de qualquer evento esportivo grande, achei curioso - para não dizer sem muito propósito.

Por fim, o ministério dos Esportes se valeu dos nomes de Pelé e de Ronaldo para igualmente tentar injetar ânimo nas pessoas: "Pode acreditar, nós vamos fazer a melhor Copa do Mundo de todos os tempos" - é a primeira frase do "maior atleta do século" que argumenta "porque de Copa, a gente entende". Talvez ele esteja confundindo os termos.


Junte a essa propaganda massiva, uma coincidência. Sabe aquela reclamação de que você nunca conheceu ninguém entrevistado para as pesquisas de opinião? Você vai ter que mudar de argumento, agora. No sábado, uma senhora com sotaque forte do Nordeste e uma dicção excelente ligou aqui para casa, se identificando como sendo do instituto Ipsos, para saber a minha opinião sobre os próximos eventos esportivos no Brasil.

A pesquisa, encomendada pela Fifa, queria saber se eu achava que os estádios ficariam prontos, se teríamos violência no período, se teríamos algum legado, se eu estava empolgado, quais deveriam ser as obrigações nos campos sociais e eco-ambientais da federação de futebol, onde eu estava me programando para assistir às partidas, de quais seleções eu gostaria de ver jogos e, a que me deu mais prazer em responder, o que eu achava da Fifa. Foi um momento catártico.

Junte também o fato de o prefeito Eduardo Paes, que tem o ônus [e o bônus] de fazer uma Olimpíada para daqui a quatro anos, veio a público criticar a organização da competição de futebol: "Brasil já perdeu a Copa", como diz o Estadão, ou já "perdeu a oportunidade" de organizar melhor a Copa, como amansou O Globo. A conclusão: a Copa vai ser mequetrefe.

Quando nem os políticos da situação estão acreditando na força de organização de um evento da magnitude da Copa, não adianta fazer pesquisas de opinião, muito menos usar atletas famosos e "vencedores" [como eu odeio essa expressão] para empolgar as pessoas. Fica apenas apelativo, descolado da realidade.

ps. uma sugestão para se tentar começar a resolver o problema - para não dizer que eu sou do time do quanto pior melhor. Como o povo brasileiro gostamos de futebol, e futebol bem jogado, além de competitivo, uma das possibilidades para nos animar seria montar uma seleção capaz de tentar almejar - ou nos fazer crer que é possível - o título. Para isso, claro, é necessário começar um trabalho mais sério a partir da CBF. Mas talvez seja pedir demais.

2 comentários:

Blog do Jorge disse...

Obrigado pelo crédito, Ronaldo. Pois é. Esse ufanismo sem critério (quer dizer, com objetivos claramente comerciais) não nos levará a lugar algum. Na verdade, até pode levar, mas duvido que seja um bom lugar. Abraço!

contonocanto disse...

creditamos sempre para creditar sempre. :-)