domingo, 4 de novembro de 2012

'Ulysses'- fim do 'capítulo 2'

Aos poucos, vamos nos acostumando com o mergulho calmo do narrador-personagem no pensamento de Stephen Dedalus dentro do que ficou chamado "fluxo de consciência" ou "monólogo interior". A realidade é dissolvida, vagarosamente, e é como se entrássemos em outras atmosferas, mais líquidas, mais calorosa, com uma cor sépia, da lembrança.

Embora às vezes maçante e exagerado,
'Ulysses 
 annotated' está se saindo, em outras 
oportunidades, extremamente importante para
entender  todas as referências e citações feitas
por Joyce ao longo da sua obra-mor.
Stephen assume, vez por outras e sem qualquer aviso, o comando da história, e solta faíscas, fagulhas, lampejos da sua memória. Frases aparentemente sem sentido, soltas, mas que são desvendadas, como se fossem elementos de um jogo de adivinhação.

As cenas, os diálogos, os outros personagens que ele encontra no momento presente despertam, disparam a rede de ligações da sua mente e ele recorda as suas leituras, sua família, outras cenas vividas que têm relação com o que acontece naquele momento. E essas recordações se ligam a outras numa rede que só é interrompida quando algo - outra cena, outra fala do diálogo, outro personagem - o chama de volta à realidade. É como se fosse um homem que vive mais dentro da própria cabeça do que fora. Que vive mais do que passou do que está passando.

De posse da contextualização necessária para entender todas as referências - às vezes extremamente nebulosas, mas jamais ausentes de poesia -, percebemos o quão carinhosamente ele olha para o seu passado. Mesmo nos momentos mais drásticos, em que ele se arrepende ou tem dúvidas do que se passou, ele observa o que ficou, ele olha para trás, com um sentimento próximo da saudade.

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